Comportamento

Grupo ensina grafite na Cidade de Deus para evitar que meninos virem pichadores

Aline Araújo | 03/10/2014 10:12
Crianças aprendem a arte do grafite em oficinas. (Foto: Coletivo Detona)
Crianças aprendem a arte do grafite em oficinas. (Foto: Coletivo Detona)

Normalmente as pessoas levam sopão para a Cidade de Deus, uma das regiões mais carentes de Campo Grande. Mas, além de faltar quase tudo, o lugar tem um marrom terra perturbador. Para dar colorido à comunidade, o coletivo Detona resolveu ocupar os barracos com o grafite. Nesta semana ocorreu a primeira ação e no sábado o projeto ganha reforço com a participação o grupo de teatro Imaginário Maracangalha, do coletivo Papo de Rua, e de quem mais quiser somar nessa empreitada.

Na quarta-feira, as crianças da comunidade ganharam uma aula de grafite e também puderam se divertir com a contação de histórias. A ideia de montar uma força tarefa no sábado surgiu depois que os produtores culturais Renderson Valentim e Brunno de Paula resolveram conhecer a favela.

O resultado para os dois foi fantástico, voltaram para casa cheios de vontade de ajudar. “A gente segue a linha de ideia do coletivo Detona que é poder tirar um pouco essa ideia da privatização da cultura e levar as ideias de que as pessoas podem ajudar umas as outras por conta própria”, explica o tatuador Bruno de Paula, que tem o grafite como paixão, hobby e instrumento de transformação social.

Brunno lembra o quanto Campo Grande vem sofrendo com as pichações, mais um problema a ser combatido com arte. Para ele, a nova geração acaba se espelhando nisso e precisa descobrir o grafite. “A nossa ideia é expandir, qualquer moleque pode chegar em uma oficina e aprender. A gente quer propagar conhecimento, fazer oficina de teatro de rua, de dança de grafite. O nosso foco é desenvolver o sentimento de poder ajudar e não tem como fazer isso sem levar informação”, detalha.

Os barracos da favela de Campo Grande ganharam mais cor. (Foto: Coletivo Detona)

“Nós vamos transformar, levando para a favela o acesso à arte de rua. O grande processo do artista é levar o seu trabalho para todos e ajudar no processo de transformação”, comenta Renderson.

Além das manifestações, o grupo também levará mantimentos. Brunno convoca quem faz parte do movimento de arte de rua a fortalecer e contribuir. “A gente vê um monte de evento que não acrescenta em nada. Você ir lá e só pintar uma parede é demagogia”, desabafa.

E isso é só o começo, esperam os produtores. A ideia é colorir ainda mais a favela, não só com o grafite nos barracos, mas com o sorriso das crianças em cada oficina nova, cada apresentação e cada ideia lançada ali. Disseminar o conhecimento por meio da arte, do afeto e da doação. “Nosso objetivo é poder mobilizar as pessoas e mostrar que a favela está lá se você quiser fazer alguma coisa e com certeza ela vai te retribuir”.

Brunno conta que a recepção que ele teve até agora não se compara nem aos eventos pagos dos quais ele tem participado durante os 10 anos que realiza ações com o grafite. Por isso, ele convida as pessoas que tem um coração grande a aparecer sem medo e munido de vontade de ajudar. No sábado é só chegar.

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