Comportamento

Fumantes perturbam, mas também sofrem com ataques de quem não suporta cigarro

Elverson Cardozo | 07/06/2014 07:53
Combate ao tabagismo é válido, mas fumar não é crime. (Foto: Marcelo Victor)
Combate ao tabagismo é válido, mas fumar não é crime. (Foto: Marcelo Victor)

Tem gente que ama, não fica sem, mas outros não suportam nem o cheiro do cigarro. A briga entre fumantes e não fumantes parece eterna, se arrasta e, pelo visto, nunca vai ter fim. Quem mantém o vício sabe das consequências, está careca de ouvir conselhos (mesmo quando não pede) e se deparar com campanhas publicitárias, inclusive aquelas que vem atrás dos próprios maços.

O combate ao tabagismo é válido, afinal de contas, o hábito não faz bem à saúde e isso já foi dito à exaustão, mas, uma coisa ninguém pode negar: fumar cigarro não é crime e, quem gosta, tem todo o direito de dar uma tragada, respeitando, claro, o espaço do outro. Afinal de contas, o fumantes passivos, segundo o Ministério da Saúde, também sofrem os efeitos imediatos da poluição tabagística ambiental.

O ar poluído, divulga o órgão, “contém, em média, três vezes mais nicotina, três vezes mais monóxido de carbono, e até 50 vezes mais substâncias cancerígenas do que a fumaça que entra pela boca do fumante depois de passar pelo filtro do cigarro”.

A maioria dos fumantes sabe disso e, respeita, se afasta quando vai acender um cigarro e procura não incomodar quem quer que seja. O problema é que, muitas vezes, aquele que não fuma, não tem a mesma consciência e se acha no direito de dar sermão, atacar e até partir para a ignorância.

O Lado B levou a discussão às ruas de Campo Grande, para ver o lado de quem sofre ataques assim que a fumaça aparece. Fumante desde os 15 anos, a vendedora Valquíria da Costa, 28, já se acostumou os olhares atravessados e às caras de nojo quando pega o cigarro, mas como sabe que a fumaça não agrada a todos. “Eu saio porque sei que incomoda e também para evitar briga. Não vou aguentar apanhar de um monte de gente em um ponto de ônibus”, diz.

Fumante desde os 15, Valquíria já ouviu sermão. (Foto: Marcelo Victor)

O chato é notar que alguns perturbam, discursam, mesmo quando a bituca está apagada, guardada dentro da carteira. Em alguns grupos, o fato de ser fumante acaba, por si só, gerando um constrangimento social. Neste caso, Valquíria é prática. “Os incomodados que se mudem”, avisa.

“Eles falam que prejudicam a saúde e eu falo que o dinheiro é meu, a vida é minha e quem fuma sou eu. Fumo com meu dinheiro e ninguém tem nada a ver com isso”, dispara uma adolescente de 15 anos, que compra cigarros há 1 e anda de saco cheio de situações com essa.

Adriano Alexandre, de 20 anos, também reclama da “perseguição”, relata casos parecidos, e comenta que está ficando cada dia mais difícil fumar em paz. O governo também tem fechado o cerco.

No dia 31 de maio, dois anos e meio depois da Lei Antifumo ser publicada, a presidente Dilma Rousseff assinou o decreto que regulamenta a norma e proíbe o fumo em locais fechados e de uso coletivo, veta qualquer propaganda no País, amplia os alertas nas embalagens e acaba, inclusive, com os fumódromos. Uma regra que já existia em Campo Grande.  “Então tinha que proibir de uma vez”, protesta o rapaz.

“Estão tratando o cigarro como maconha”, afirma, indignado, o vendedor autônomo Francisco Everton dos Santos Jales, de 21 anos. Fumante há 4, desde os 17, ele conta que, de tanta “chateação”, sente-se constrangido porque, em alguns locais, acaba sendo apontado.

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