Comportamento

Filha de pais surdos, aos 2 anos Rebeca aprendeu sozinha a língua de sinais

Hoje ela ensina a linguagem dos sinais aos amigos e é o orgulho da família

Thailla Torres | 02/04/2018 08:51
Ângela (mãe), Rebeca (filha) e Renato (pai), completam uma família pra lá de simpática. (Foto: Thailla Torres)
Ângela (mãe), Rebeca (filha) e Renato (pai), completam uma família pra lá de simpática. (Foto: Thailla Torres)

História é o que não falta em uma travessa do bairro Santo Antônio. De um lado, casas de alvenaria tomadas pela cerca elétrica e do outro, uma minoria que resiste aos cercados de arame em um dos trechos que antes abrigava os trilhos da ferrovia. Do tempo do trem só ficaram algumas casas, uma delas, muito antiga, que alguns arriscam ter pelo menos 60 anos de existência.

Nela, quem chega é recebido por uma família pra lá de simpática, e de quebra, com um sorriso encantador da pequena Rebeca de 10 anos. Segundos de conversa tentando falar com sua mãe, a menina explica que os pais são surdos e que pode auxiliar na comunicação.

Para ela a diferença está só na audição. Leva um vida normal como qualquer outra criança, com exceção da habilidade de encantar a todos mostrando a habilidade com as libras que ela faz questão de dizer que aprendeu sozinha. "Eu aprendi desde os 2 anos de idade, comecei vendo meus pais e eles foram me ensinando, mas nunca fiz aula".

Rebeca, quem ajuda na comunicação com os pais quando há alguém que ainda não sabe libras. (Foto: Thailla Torres)

A mãe Ângela França Paes, de 38 anos, conta que nasceu surda e o pai, Renato Damião Serem, de 40, ficou surdo após a rubéola na infância. Casados, hoje o maior orgulho dos dois são os filhos e, principalmente, a independência da filha.

Rebeca é uma menina estudiosa, gosta de conversar, ir à igreja, fazer catequese e sempre que pode, ajudar os amigos com a língua de sinais. "Eu tenho um colega na escola que é surdo e converso com ele. Na minha igreja eu também já falei em libras", diz, se referindo a uma das apresentações especiais no Dia das Mães e Dia dos Pais na paróquia em que frequenta com os pais e as tias.

O exemplo vem do pai. Renato lembra que ensinava libras aos amigos debaixo de um pé de manga no quintal da casa que ele vive com a família há 35 anos.

Da história da casa onde mora sabe poucas coisas. No quintal do fundo, o matagal lembra os trilhos que, por anos, passou ali a topo vapor, mas de resto não tem noção do que mais permeia sobre a história da casa de tijolinhos.

Quem percorre com o olhar as paredes descascadas e a formação da estrutura, tem a sensação de estar em uma época distante. "As casas não tem colunas, por isso tem rachaduras", explica Ângela. A imagem é o oposto do que se vê na família, cheia de viva e de estrutura forte, evidente no sorriso para a despedida na fachada.  

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Casinha que parou no tempo, carrega traços e histórias da ferrovia. (Foto: Thailla Torres)
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