Comportamento

Fiéis falam da sensação de conhecer um santo: João Paulo II

Elverson Cardozo | 27/04/2014 12:46
Celebração na paróquia do Santo Antônio teve mesma mesa utilizada na missa campal durante visita do Papa João Paulo II a Campo Grande. (Foto: Pedro Peralta)
Celebração na paróquia do Santo Antônio teve mesma mesa utilizada na missa campal durante visita do Papa João Paulo II a Campo Grande. (Foto: Pedro Peralta)

A canonização de João Paulo II, em cerimônia inédita, realizada neste domingo (27), na Praça São Pedro, no Vaticano, reuniu milhares de fieis católicos e repercutiu em todo mundo. Em Campo Grande, cidade onde o papa esteve há 22 anos, em 1991, o sentimento foi o mesmo.

Hoje, algumas paróquias relembraram a visita do pontífice à Capital. Na Nossa Senhora Auxiliadora, do bairro Santo Antônio, por exemplo, pelo menos 30 jovens cantaram a música “Peregrino do Amor”, da banda Anjos do Resgate, em homenagem ao santo.

A mesa da celebração, aliás, foi a mesma utilizada na missa campal, realizada em outubro de 1991, onde hoje é a Praça do Papa, na Vila Sobrinho.

Maísa Jara, de 15 anos, não era nem nascida nessa época, mas neste domingo, diante da notícia de canonização, a estudante pôde participar, de certa forma, daquele momento.

“O padre convidou todos os jovens para ir à frente e disse que o papa celebrou a missa naquele altar”, contou. Para ela, o Santo Padre é um símbolo para a juventude. “Ontem, em uma vigília que fizemos, todo mundo estava alegre e falando da canonização. Foi incrivel’, relatou.

José Silveira participou da missa hoje na paróquia do Santo Antônio. (Foto: Pedro Peralta)

O aposentado Josué Silveira, de 65 anos, que hoje estava encarregado de receber o dízimo dos fiéis na paróquia, também participou da missa e se mostrou feliz com a canonização. “É algo fundamental para a igreja e para os fiéis ter um santo nessa época de tanta maldade”, considerou.

Lembranças - O domingo, para os católicos, tem sido de lembranças. A jornalista, musicista e produtora de eventos Lenilde Ramos, de Campo Grande, usou o Facebook para reviver uma época que guarda com todo o carinho e do privilégio de conhecer um homem agora considerado santo.

Em 1991, na visita do Papa, ela era funcionária da Missão Salesiana e pôde, portanto, acompanhar de perto o que ela chama de “detalhes humanos” do santo. Viu os lençóis, banheiro e até o sabonete que João Paulo II iria usar.

A vinda do sumo pontífice foi, nas palavras dela, a maior produção em que trabalhou. A primeira visita dele, relembrou, foi no Hospital São Julião. “Às 9h, o Papa chegou com a corte vaticana. Ao saudá-lo no microfone, chamei-o (com todo o respeito) de ‘poderosa estratégia de marketing’. Quase me fuzilaram, mas naquela hora ele chamava os olhos do mundo para a causa da hanseníase”, escreveu.

Lenilde (de preto) em cerimonial do Papa de 1991.

A irmã de Lenilde também foi uma das “privilegiadas” que conseguiu acompanhar o papa de perto, sem pensar que tempos depois se trataria de um santo. No início, pensou em vê-lo apenas pela TV, mas na véspera, diante de toda movimentação, mudou de ideia. O problema é que não havia mais credenciais. O jeito foi “improvisar”. “A sorte é que eu estava com duas, de jornalista e de cerimonial, e passei uma para ela”, contou a musicista.

“Minha irmã entrou na fila do beija-mão e tudo. Dali conseguiu carona com um funcionário do Itamaraty, foi para a missa campal e entrou na fila da comunhão. [...] O Papa foi almoçar na Missão Salesiana e ela foi para lá com minha credencial.

Os funcionários fizeram fila para cumprimentar o pontífice e, ao vê-la o Papa disse: ‘È Lei un´altra volta, signora?’ (É a senhora de novo?). "Às 17h, teve a reinauguração da Santo Antônio e, quem estava na fila? Minha irmã, tipo velha amiga. Não se dando por vencida, ela se infiltrou no cerimonial do Pedrossian (governador a época) e conseguiu chegar ao aeroporto para se despedir do Papa. Só faltou marcarem encontro em Roma”, relatou, em tom bem humorado.

Mas não foi só a irmã da jornalista que conseguiu se aproximar do líder da Igreja Católica. O funcionário público estadual, Horizon Rita de Freitas, também esteve cara a cara com João Paulo II.

“Eu era da comissão de recepção. Trabalhava na casa civil do governo do estado, que estava coordenando a visita do papa, então, tive um contato muito próximo, desde a chegada, passando pela recepção na Base Aérea, até o almoço na casa do bispo”.

Horizon entrou para a fila do “beija-mão”. “Tenho fotografia pegando na mão dele”, disse, ao comentar que o momento foi emocionante. “Depois do almoço a gente ficou em fila e ele cumprimentou todo mundo”.

Para o funcionário público, o santo papa “é o represente de Cristo na terra”. “É uma coisa que vai me marcar pelo resto da vida, porque hoje, vendo o passado e o presente, eu posso dizer que peguei na mão de um santo que sempre tive devoção”, declarou.

Papa ao lado de Dom Vitório, durante visita a Campo Grande.

Cerimônia – A canonização de João Paulo II e também do Papa João XXIII reuniu, em um único evento, o atual Papa Francisco e o emérito, Bento XVI, que renunciou no ano passado.

"Estes foram dois homens de coragem... E deram testemunho diante da Igreja e do mundo da bondade e misericórdia de Deus", disse Francisco. "Eles viveram os trágicos acontecimentos do século XX, mas não foram oprimidos por eles. Para eles, Deus era mais poderoso, a fé era mais poderosa."

O atual papa concelebrou missa solene com cinco prelados, entre eles o bispo de Bergamo (cidade natal do italiano João XXIII), Francesco Beschi, e o ex-secretário particular do Papa João Paulo II e arcebispo de Cracóvia, Stanislaw Dziwisz.

As relíquias dos dois novos santos, uma ampola de sangue de João Paulo II e um pedaço de pele de João XXIII extraída durante sua exumação no ano 2000, foram colocadas ao lado do altar.

O Vaticano, citando fontes da polícia italiana, estimou que cerca de 800 mil pessoas participaram da celebração.

Papa João XXIII e João Paulo II foram canonizados.
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