Comportamento

Em tempos de política, ficou mais difícil até arranjar alguém para dividir o apê

Nos anúncios em busca de alguém para dividir o apê, até requisitos ideológicos são colocados e hoje podem unir ou afastar de vez aquele inquilino.

Thailla Torres | 08/02/2018 08:12
As amigas Fernanda e Adriana comemoram 4 anos dividindo o mesmo teto e em paz. (Foto: Paulo Francis)
As amigas Fernanda e Adriana comemoram 4 anos dividindo o mesmo teto e em paz. (Foto: Paulo Francis)

Desde sempre, quem divide um teto sabe que é preciso respeitar regras e empatia é a porta de entrada para uma boa convivência. Mas as coisas andam se complicando. Nos anúncios em busca de alguém para dividir o apê, até requisitos ideológicos são colocados e hoje podem unir ou afastar de vez aquele inquilino.

Em alguns grupos do Facebook, homens e mulheres procuram pessoas para dividir casa ou apartamento, e cada vez aumenta a lista de regras. As características vão além da higiene e educação. 

“Desde sempre saber que foi golpe”, diz uma das publicações como a primeira regra para se candidatar a morador, lembrando do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Como o discurso de ódio é facilmente encontrado hoje em dia, a galera anda seletiva. “Não ser reaça e nem votar no Bolsonaro”, afirma outra internauta a procura de companheiros.

Uma das postagens em um grupo privado do Facebook, traz requisitos bem pertinentes.

Com experiência de 10 anos morando em república, a doutoranda de Direito Marianny Alves, de 27 anos, aumentou a lista de requisitos e alguns, segundo ela, sentiram-se ofendidos por não preencher a vaga. “Se não bater ideologicamente não rola, já tive problemas com isso. Quando fiz o post, me preparei para um processo seletivo até encontrar uma pessoa bacana”.

Marianny foi além de um papo pelas redes sociais ou telefone, decidiu marcar um encontro e tomar uma cerveja com cada candidato. “Achei foi válido porque nas redes sociais as informações são o que a gente deseja apresentar para as pessoas, nem sempre é a realidade. E um conhecimento prévio te dá mais confiança para saber como vai ser essa relação”.

Ente as dificuldades de morar junto, o que pesa, é o egoísmo. “É a pior coisa que existe no mundo, porque quando você divide uma casa, é preciso pensar no outro, você está dividindo uma vida com outra pessoas. E acredito que todos os outros transtornos como problemas com a limpeza, comida e barulho, é tudo por conta do egoísmo”, esclarece.

Mas o que fazer para uma relação duradoura? As amigas Fernanda Teodoro Marques, de 21 anos, e Adriana Silva, de 22, comemoram 4 anos morando juntas. Uma conquista que exige paciência e parceria.

"Saber desde sempre que foi golpe".

“Morar junto com amigos ou qualquer outra pessoa é um casamento. Tem que haver respeito, sintonia e principalmente parceria”, diz Fernanda.

Também é preciso saber levantar a bandeira de paz. “Não é um bicho de sete cabeças, morar com outra pessoa é saber ceder em alguns momentos. Respeito e empatia pelo próximo se encaixa muito nisso”, declara Adriana.

Manter a casa limpa, organizada e se preocupar com as tarefas no cotidiano pode ser um motivo e tanto para briga, mas Fernanda acredita que sempre haverá alguém mais responsável que o outro. “Sempre existe aquele que é o mais exigente e acaba fazendo. Mas para que isso não sobrecarregue, o correto é conversar e fazer o outro entender a sua obrigação”.

Para Fernanda, o problema, na maioria das vezes, está na falta de diálogo. “A gente faz uma coisa errada e a outra pessoa não fala, fica guardando. Chega um ponto que a paciência se esgota e ela solta tudo de uma vez só. Então a melhor coisa é falar o que pensa, porque a outra pessoa não tem como adivinhar”.

Fernanda saiu de casa aos 17 anos para estudar, foi morar com Adriana e outra amiga sem nenhuma experiência coletiva semelhante. A outra parceira acabou desistindo, enquanto Fernanda faz de tudo para manter a parceria. “É uma comemoração mesmo, porque não é fácil. Uma coisa é você estar à vontade na casa dos pais, mas aqui você tem que pensar em tudo que faz e saber que não existe só você no mundo. As vezes dá vontade de brigar? Dá. Mas a gente respira e entende que existe problema em todas as famílias”.

Curta o Lado B no Facebook e Instagram.

Nos siga no