Comportamento

Em festa no Pioneiros, participantes tomam banho de pipoca para cura e harmonia

Paula Maciulevicius | 01/09/2014 06:50
Relacionado à cura, banho de pipoca limpa energias e traz harmonia. (Foto: Marcelo Victor)
Relacionado à cura, banho de pipoca limpa energias e traz harmonia. (Foto: Marcelo Victor)

O mês de agosto terminou em festa no Templo de Umbanda Pai Oxalá, em Campo Grande. Em comemoração a "Obaluayê", orixá das doenças e da cura, teve banho de pipoca no público que foi até o terreiro tomar passe. Localizado no bairro Pioneiros, só é preciso se preocupar em chegar cedo para pegar senha. Organizado, o salão começa a distribuição dos números por ordem de chegada 1h antes do início dos trabalhos.

Na Umbanda, um dos diretores da liturgia da casa, Luís Mongelli, explica que a pipoca é usada nas oferendas para o orixá Obaluayê. "Os banhos de pipoca são rituais importantes e poderosíssimos, pois está relacionado a cura. Em banhos de cura e harmonização as pipocas são estouradas sem óleo e sem sal", descreve.

Há uma lenda que diz que Obaluayê, filho de Nanã, nasceu doente com o corpo coberto de chagas e foi abandonado à beira da praia, para que o mar o levasse. Iemanjã teria o achado, tratado de suas chagas e coberto as feridas com palha para que as cicatrizes não fossem vistas. Um dia, próximo à praia acontecia uma festa em que todos os orixás dançavam em volta de uma fogueira. Iansã, orixá feminino, teria levantado a palha de seu rosto e com sua ventarola provocou um vento tão forte que as feridas de Obaluayê saíram do corpo se transformando em pipoca.

Crianças e adultos recebem banho no passe pelas mãos dos médiuns. (Foto: Marcelo Victor)

A lenda, segundo Luís Mongelli, é mais utilizada pelo Candomblé e não é necessariamente a justificativa da história da pipoca. "É pela cura da transformação. Do milho virar pipoca", reforça.

Pai de santo e o responsável pelo templo, Orlando Mongelli, de 85 anos, explica que agosto é o mês dedicado ao orixá da cura. "Esse trabalho acontece uma vez ao ano, o banho é a limpeza do que tiver para sair e para receber a positividade, ela é uma força determinantes e centenária", frisa.

O Templo - De início, o salão se parece com o de uma igreja, com bancos de madeira, homens se sentam de um lado e mulheres de outro, mas pelo que perguntamos, é por costume, não tem uma razão específica. O corredor fica vago para a circulação dos médiuns.

O altar, chamado de "congá", fica coberto por uma cortina azul enquanto os dirigentes se preparam para a abertura. Placas indicando que o "silêncio é uma oração" são detalhes pendurados nas lacunas do salão como alerta para o público.

Às 19h30, abre-se a cortina, quem inicia a fala é Luís Mongelli, médium e psicólogo, ele explica que a noite será de comemoração a Obaluayê. No primeiro momento, eles farão a abertura e posteriormente vão até a palhoça, receber a vibração para os atendimentos. "Lá dentro a vibração é repassada aos médiuns que vão usar nas entidades. Este orixá é da cura, não só física, mas espiritual e de questões emocionais da psicologia".

Às 19h30, abre-se a cortina do altar, onde aparecem em reverência os médiuns. (Foto: Marcelo Victor)

A cerimônia se inicia com reverências em frente ao altar ao orixá Oxalá e também a outros orixás, seguida de cantos puxados pelos atabaqueiros. "São pontos de vibração, de força, de grande evocação", detalha Luís Mongelli. O ritual é seguido em todos os trabalhos na abertura e no encerramento.

Em pé, o público que deve passar dos 100, canta junto e com as mãos elevadas - em posição de quem recebe bençãos - e ainda reza um Pai Nosso. Entre os participantes, os médiuns saem pelo corredor central e os bancos "defumando" o ambiente. O instrumento utilizado lembra muito o incensário das missas de Igreja Católica, com cheiro de ervas, entre elas o alecrim.

Até aí a cerimônia parece transcorrer como qualquer outro dia de trabalho. No entanto, os cerca de 40 médiuns da casa, depois da abertura, se retiram do altar para o fundo do terreiro, onde em uma casinha chamada de "Palhoça de Obaluaiê", recebem as chamadas energias do orixá homenageado através do banho de pipoca. Um dos diretores da liturgia, o empresário e médium Ari Muller explica que elas que vão direcionar e fortalecer o médium.

À frente da pequena construção, os médiuns ficam em círculo cantando e um a um adentram ao espaço. (Foto: Marcelo Victor)

À frente da pequena construção, só com uma portinha de entrada, os médiuns ficam em círculo cantando e um a um adentram ao espaço.

Na entrada, ganham uma vela que será acesa lá dentro, retiram as guias do pescoço e reverenciam o altar. Para receber a energia, conforme explicação de Ari, eles se deitam no chão, onde são abençoados e em seguida recebem o banho de pipoca.

A medida em que vão saindo da palhoça, eles retornam ao altar, diante dos olhos do público, onde esperam por todos os outros médiuns para então iniciar o atendimento, o passe. Com a senha em mãos, as pessoas apresentam o número seguindo a ordem da chamada e se sentam diante do médium.

Entre orações e dizeres, eles passam a pipoca estourada pela cabeça e restante do corpo, representando a limpeza e a pureza das energias. "A pipoca representa a grande transição e mudança. A cura está interligada na questão física, emocional e espiritual", enfatiza Luís Mongelli.

O Templo de Umbanda Pai Oxalá fica na avenida Joana D'Arc, 819, no bairro Pioneiros. A casa está aberta às segundas e sextas a partir das 19h30.

De início, o salão se parece com o de uma igreja, com bancos de madeira. (Foto: Marcelo Victor)
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