Comportamento

Em certa altura da vida, como inverter papel com os pais e retribuir com amor

Fundadora da Associação Brasileira de Alzheimer, Vera Caovilla explica que é difícil enxergar esse processo

Mariana Lopes | 24/09/2017 08:21
Mara e a mãe, hoje com 95 anos
Mara e a mãe, hoje com 95 anos

Aos 58 anos, a professora Mara Fiorenza percebeu que o tempo tratou de inverter os papeis, e hoje, é ela quem cuida da mãe, de 95 anos. Esta troca chegou de repente, no início de 2017, quando dona Ema Fiorenza fraturou uma vértebra e passou a precisar de cuidados especiais. 

"Aí que senti essa inversão, ela é completamente lúcida, mas depende de mim para tudo, desde marcar um médico a ajudar no banho. Só descanso quando vejo que ela já foi dormir", conta Mara.

Mãe de dois jovens, a professora compara a preocupação e os cuidados aos que ela tem pelos próprios filhos. Mas ela também enxerga que este é curso natural da vida e apenas agradece a oportunidade de ter condições de prestar esta atenção à mãe.

"Me sinto muito bem em poder ajudar, retribuir tudo o que ela já fez por mim e meus irmãos. Não é muito diferente do que eu fui com meus filhos, enxergo bem essa troca de papeis", pontua Mara.

Como Mara, a maioria dos filhos uma hora precisa trocar de papel com os pais e assumir as rédeas da situação. Mas será que os filhos estão preparados para serem pais daqueles que a vida inteira gerou cuidados?

Fundadora da Associação Brasileira de Alzheimer, Vera Caovilla explica que é difícil enxergar esse processo, pois geralmente essa troca chega de supetão. E neste momento, é preciso alguns cuidados para que esta nova fase na vida de ambos seja tranquila.

"Geralmente os filhos pecam por excesso, passam a fazer pelo pais, ao invés de fazer com os pais, e isso acaba acelerando o envelhecimento ou adoecendo mais o idoso, dependendo do caso", explica Vera.

Não há como ignorar que os idosos hoje em dia também estão conectados com o mundo virtual, e este é outro desafio que os filhos precisam saber identificar para conseguir lidar. "Tem gente que não sabe o que fazer e começa a podar, proibir. Então, em primeiro lugar, é preciso identificar o perfil deste idoso. Ou no caso de uma doença, percebê-la e identificar os comportamentos que ela causa", pondera Vera.

Mas o que ela realmente salienta é o olhar afetuoso para toda a situação. "É um novo pai, em um mundo mais restrito. É preciso aceitar esse mundo, entender os limites que estão nele, para assim conseguir que o ritmo flua de uma forma mais natural", diz Vera.

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