Comportamento

Em 25 anos de parceria, turma não se perdeu graças a "amizade sem partido"

Grupo de amigos hoje tem até "sede própria" para o sagrado joguinho de futebol

Thailla Torres | 04/10/2017 06:05
Turma se conheceu no meio político, mas nenhuma diferença partidária foi capaz de desfazer o laço de amizade. (Foto: Arquivo Pessoal)
Turma se conheceu no meio político, mas nenhuma diferença partidária foi capaz de desfazer o laço de amizade. (Foto: Arquivo Pessoal)

Uma amizade sem partido. Esse é o lema da "Turma do Marcílio" que, há 25 anos, faz de tudo para se encontrar aos sábados. O título faz referência ao amigo Marcilio de Souza Silva, de 63 anos, profissional da Educação Física, mas que sempre foi dedicado à vida política.

Nesse tempo todo, nunca foi utilidade para ele discutir política ou levantar bandeira para um candidato quando o momento era de curtir os amigos, garante ele. De maneira sábia, notou como era valioso deixar de lado as diferenças e foi dessa forma que conquistou uma turma fiel para vida toda.

Tudo começou em 1993. Juvêncio César da Fonseca era prefeito de Campo Grande e Marcílio foi assessor de gabinete. Percebeu, à época, que posições divergentes eram o que sempre afastavam os colegas de trabalho.

"Já era aquela colcha de retalhos na política. Gente pensando diferente pra todo lado e isso dificultava muito a nossa integração. Foi naquele momento que pensei numa solução para reunir os amigos", conta Marcílio.

São do tempo de Juvêncio César da Fonseca, prefeito que comandou a cidade por dois mandatos.(Foto: Arquivo Pessoal)

Como educador físico, para ele, a única maneira de juntar todo mundo era através do esporte. Marcilio escolheu o futebol e não demorou muito para conseguir parceiros de time.

"Então naquele ano criamos a turma de prefeitura. Mas acabou se tornando uma turma vasta e muita gente não estava entendo o que acontecia. Mas era só uma diversão fora do trabalho".

Muitos entraram e saíram, até que finalmente a turma estava fechada. Foi questão de meses para Marcilio ver a integração de trabalhadores que não exerciam um cargo político, mas trabalham como assessores, coordenadores de campanha e eventos do meio. "Imagina só, cada um tinha uma ideologia, um candidato, um partido, mas nunca isso fez parte das nossas jogadas", diz.

Com tanta cabeça pensando diferente, surgiu a dúvida se turma daria certo, mas Marcílio nunca teve dúvidas. Foi só o primeiro amigo querer falar de política, que o grupo logo estabeleceu um lema que conquistou a união. "Muita gente pergunta como eu consigo, mas eu não consigo sozinho. Na verdade, é o grupo que se mantém. Nos aprendemos a respeitar o espaço e o coração do outro dentro do jogo. É como respeitar o espaço dentro de uma família".

Hoje, a maioria com cabelinhos branquinhos, dividem o campo com filhos e netos. (Foto: Arquivo Pessoal)

A união é tanta que, juntos, superam desafios e momentos difíceis. "Em 25 anos descobrimos muita coisa um do outro. A amizade é tanta que temos a liberdade de ajudar e abraçar quando sentimos a dor do outro. Por isso a gente ajuda no momento de dificuldade, abraçamos quando alguém falece e fazemos um trabalho social, juntos, todo mês", conta.

A turma cresceu tanto que precisou ganhar a independência. Depois de anos se reunindo em clubes da cidade, construíram uma sede na região da Chácara dos Poderes. "Não tem um campo melhor que o nosso", ri.

Em campo, não existe perdedor e toda felicidade é compartilhada. "Nesse tempo todo, fizemos apenas 8 jogos com equipes de fora e não ganhamos nenhum. Por que no fundo ninguém está ali pra ficar dividindo bola, fazendo falta no adversário ou impedindo o gol. A gente quer mesmo é que todo mundo saia feliz", afirma.

Até as esposas entram na parceria. "Minha esposa é ciumenta, mas se chega sábado e digo que não vou, é ela quem fica nervosa. É companheira na nossa tradição".

Para Marcílio, o grupo é a prova de que política não se discute. E no tempo das redes sociais, onde qualquer discussão política é levada a sério, ele deixa o recado. "A essência de uma turma amiga é a união e a confraternização. Se mistura os assuntos, não vai dar certo. Entre amigos, política não se discute, não aposta e nem crítica", ensina.

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