Comportamento

Ele viaja 150 km todas as terças para estudar canto e violão e se tornar famoso

Paula Maciulevicius | 03/07/2014 06:13
Matheus Nery tem 20 anos e o sonho de ser cantor profissional. Todo esforço ele já está fazendo. (Fotos: Marcelo Victor)
Matheus Nery tem 20 anos e o sonho de ser cantor profissional. Todo esforço ele já está fazendo. (Fotos: Marcelo Victor)

Toda terça-feira a rotina é a mesma. Sair da cidade de Rio Negro, onde mora, de van, às 5h da manhã, percorrer 150 quilômetros rumo à Capital. Matheus Nery tem 20 anos e o sonho de ser cantor profissional. O estilo, nada que surpreenda, é o sertanejo universitário, mas o esforço do rapaz é de tirar o chapéu.

A van estaciona em Campo Grande por volta das 7h40, único horário disponível e o compromisso do jovem aqui começa só depois do almoço, às 13h, na aula de canto e violão na escola de música Carlos Gomes. Para fazer hora, ele fica andando por aí, olhando vitrine e o movimento em geral e às vezes só passando vontade. Tem terça que a grana é curta e ele só tem o dinheiro para voltar pra casa.

“Tem dia que eu fico na praça, teve vezes de não ter dinheiro e ficar sem almoçar, quando eu não tinha nada mesmo, só o dinheiro da passagem”, conta. São R$ 25 para ir e outros R$ 25 para voltar. “A gente tem que fazer o que pode, não é?”, indaga.

As aulas de canto e violão acontecem todas às terças. De Rio Negro, o rapaz vem e volta para casa de van.

As aulas, começadas há cinco meses, são para aperfeiçoar a técnica tanto de voz, como de violão. Há três anos a música entrou na vida dele depois que o sonho de ser jogador de futebol ficou distante. O rapaz conta que um tumor ósseo no joelho e a cirurgia o fizeram encerrar o que podia se tornar carreira. Num festival de canção da escola, surgiu a paixão pelas notas musicais.

De imediato, ele formou uma banda junto de amigos e um primo, que não enxerga e toca bateria. Na base da camaradagem, tanto do grupo como de comerciantes da região, o rapaz já faz shows nas cidades ao redor de Rio Negro. De retorno? Só a divulgação do trabalho mesmo, por enquanto ele paga para se apresentar.

“É devagar, não tem estrutura, é na base de pegar carro emprestado, pedir gasolina. Trabalhei um tempo numa loja de antenas parabólicas e meu salário todo era para pagar a música e as despesas dos shows”, explica. “Só o espaço já era suficiente, sabe? Para divulgar mesmo”.

Terminadas as aulas, ele espera até 17h30 para voltar pela mesma van e chegar em casa às 19h. Filho de uma dona de casa e um professor, o pai trabalha como secretário na prefeitura da cidade e ajuda dentro da medida do possível. Desde que começou as aulas, Matheus já tentou morar em Campo Grande, na casa de parentes, a tentativa falhou e ele teve de voltar.

O jeito então foi se adaptar entre idas e vindas. Os 300 quilômetros às terças tem lhe rendido o reconhecimento pelo empenho.

“Esse esforço, ele não está sendo à toa, é o que eu gosto, o que eu sinto prazer. Cada conquista vai valer 100% a pena. Valer a pena ter esperado a van, saído de casa só com o dinheiro da passagem, passar a manhã inteira olhando para o nada. Você começa a se valorizar, não vai ser jogado fora”, resume.

Sobre o sonho de vir para a cidade em busca do sucesso, Matheus diz que a maioria das pessoas procura fazer até onde alcança, sem dar um passo maior que a perna. O dele, por exemplo, é para o aperfeiçoamento musical e conquistar uma oportunidade. Os planos agora são de se mudar para Campo Grande, alugar uma quitinete e arrumar um serviço. “Fora a música, tem que se manter, não é? Procurar um meio de sobreviver”.

O empresário é o pai mesmo e quem sempre deu todo apoio. "Ele sabe que eu gosto e é meu incentivador", descreve. Matheus também compõe e tem duas músicas registradas, uma homenagem à dupla de MS, Munhoz e Mariano e a outra mais romântica. "Dança Munhoz e Mariano, em ritmo de arrocha e a outra é Vou amar você, este é o carro-chefe que eu pretendo gravar", compartilha.

Com o sonho de ser um astro do sertanejo universitário, ele já tem duas músicas registradas.
Nos siga no