Comportamento

Do Rio Grande do Norte, Coco de Zambê faz campo-grandense "umungar" até cansar

Thaís Pimenta | 14/08/2018 08:55
Vestimenta é simples, basta um short e os pés no chão. Tradição é jogada na areia. (foto: Thaís Pimenta)
Vestimenta é simples, basta um short e os pés no chão. Tradição é jogada na areia. (foto: Thaís Pimenta)

Diretamente de Tibau do Sul (RN), o grupo de Coco de Zambê veio a Campo Grande a convite do projeto Sonora Brasil para mostrar que a cultura do nosso País carrega belezas particulares. Nem rodando as regiões de cabo a rabo seria possível descobrir metade delas. Por isso, a programação do projeto é tão bacana e ainda é de graça.

Com um público de cerca de 200 pessoas, ontem o gingado e a tradição do "Zambê" ocupou o Sesc Cultura, na Avenida Afonso Pena. A tradição com mais de 400 anos, surgiu com as dores da escravidão. 

Josenildo Cosme de Barros é um dos responsáveis pelo grupo, que traz de volta o tempo dos engenhos de cana de açúcar. “Em meio a tanto trabalho, os escravos recebiam pinga e nos momentos de intervalo, faziam as rodas de coco”, explica ele. A tradição justifica a roupa: um short branco, pés descalços e sem camisa.

"Tirar um coco" antecede até mesmo práticas semelhantes, como jogar capoeira. “Mas são manifestações diferentes”, diz Josenildo, alertando aos presentes para que eles não joguem capoeira durante a roda.

A energia que toma conta do lugar é inexplicável. A força do batuque vem do zambê, tambor feito com tronco de timbaúba e couro. Pode ser também do "chamá", um tambor menor, ou produzido com uma lata de tinta. Independente do material, o som faz qualquer um entrar na roda. “Antes chamava pau furado, e depois ganhou um nome científico de zambê”, diz Joselino.

Quem nunca entrou na roda se sente a vontade para dançar. “Eles foram tão receptivos conosco que nem vergonha deu”, diz Danielle Almeida. O grupo também colocou a galera pra tocar os instrumentos e provou que qualquer um pode participar.

(Foto: Thaís Pimenta)

Tradicionalmente jogado apenas pelos homens e com os pés na areia, quem entra na roda dança para o instrumento, de frente para ele. Por isso, de todos os integrantes do grupo, o mais importante deles é o tocador. Com versos repetidos, como “Vô embora, oh Helena, vô embora”, “cangaluê, dois em dois”, a dança envolve dois “rivais” e aquele que acompanha melhor o ritmo é quem dá a “umungada” à roda, como explica Josenildo.

Oito pessoas que vieram do Rio Grande do Norte são da família de seu Geraldo, pai de Josenildo, que aprendeu a dançar o coco de zambê com o avô. “Aqui tem primo, irmão... A gente tá em família. Meu pai, quando a gente está dançando, ele olha cada passo nosso, nos corrige”, conta. Zé Neto Cosme de Barros, Antônio Cosme de Barros, Denilson, Damião, Humberto, Ederlam e Luís Antônio completam o grupo que vem rodando o Brasil apresentando sua cultura.

A cada novo destino, eles tiram um coco para o local. “Passamos pelo Pantanal e chegando lá vimos um tanto de jacaré, aí eu falei pra gente tirar um coco com esse jacaré, aí tiremo [sic] assim: Eu cheguei no Pantanal para saber como é que é, fiquei tanto encantado de ver tanto jacaré”.

O projeto Sonora Brasil continua até quarta-feira no Sesc Cultura, na Afonso Pena, 2260. Hoje tem grupo de Samba de Pareia da Mussuca, de Sergipe, a partir das 18h30. Amanhã, se apresenta o Coco de Tebei, de Pernambuco. 

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