Comportamento

Depois de conquistar farda, João espera por transplante para dar cambalhotas

Sorridente e à espera de um rim, João dá lição de otimismo e esperança para lidar com as dificuldades da vida.

Thailla Torres | 12/06/2019 10:25
Sorridente enquanto faz hemodiálise em Campo Grande. (Foto: Henrique Kawaminami)
Sorridente enquanto faz hemodiálise em Campo Grande. (Foto: Henrique Kawaminami)

- João, você é feliz?
- Muito feliz.
- Por que você é feliz?
- Porque eu faço o jogo do contente.

A onda de otimismo presente em Pollyana, obra de 1913, escrita pela americana Eleanor Porter parece impactar a vida do pequeno João Vitor Silva de Andrade, de 11 anos. Durante entrevista, impossível deixar de sorrir a cada resposta sincera dita pelo menininho, que só fala em tom de alegria, como forma de lidar com as dificuldades da vida.

A história dele ficou conhecida nesta semana por causa de dois sonhos: ter uma festa de aniversário com tema de polícia e conquistar um novo rim para poder brincar feito criança “dando cambalhotas e muito mortal”, explica.

O primeiro sonho foi realizado repleto de surpresas no último dia 8 de junho, dia do seu aniversário. João mora na Vila Pinheiro, em Aquidauana – município a 135 quilômetros de Campo Grande – e ganhou sua primeira festa de aniversário na vida com a presença e o abraço da Polícia Militar.

Durante tratamento ele fez questão de ir com uniforme para sair na foto. (Foto: Henrique Kawaminami)

Os militares estiveram na festinha surpresa do menino depois que uma agente comunitária foi até o batalhão para contar os sonhos do garotinho. Ao saberem da história, eles decidiram não só marcar presença no evento com a sirene ligada como presenteá-lo com uma réplica da farda no tamanho de João Vitor. “Eu fiquei muito feliz, agora eu posso ser polícia”, diz.

João abraçou os amigos, tirou foto, vestiu a farda e comemorou sua primeira festa que foi realizada pela agente comunitária do bairro. “Era o sonho dele ter um aniversário. Mas nunca tive condições de fazer uma festa. Daí um pessoal do postinho da minha vila decidiu fazer uma surpresa para ele”, conta a mãe Ana Luíza da Silva.

Quando o menino chegou em casa viu as mesas espalhadas pelo quintal e questionou a mãe. Ana disse que haveria um culto em casa e ele prontamente respondeu que “nunca viu culto com mesa”, conta a mãe.

Ana então levou João para casa de uma amiga e só o buscou na hora da festinha. Quando chegou na residência e encontrou amigos e policiais militares, ele não conseguiu esconder a alegria. “Ficou feliz da vida, abraçou todo mundo e fez questão de vestir a fardinha. Agora, ele só precisa de um rim”.

Policiais presentearam o garotinho com réplica de farda da PM. (Foto: Polícia Militar de Aquidauana)

João está à espera de um novo órgão desde 2016 porque tem agenesia do rim direito, que corresponde à ausência congênita de um rim. No entanto, o outro rim não funciona corretamente e desde 2011 ele faz tratamento.

A rotina é de viagens de Aquidauana para Campo Grande todos dias para o tratamento. Mãe e filho levantam de madrugada para chegar aqui às 7h da manhã para hemodiálise. “Isso de segunda-feira a sábado”, esclarece a mãe.

Por causa do tratamento é difícil João frequentar a escola, por isso, o estudo é domiciliar. A esperança por um novo rim é para brincar e poder ir à aula. “Quero fazer o transplante para eu fazer coisa boa, brincar, virar mortal, ficar de ponta de cabeça e ir para escola”, diz o menino.

Sobre o jogo do contente que aprendeu com a mãe e a professora, ele diz que é estratégia para ser mais feliz e otimista. “É um jogo da minha imaginação pra eu ficar feliz e o rim chegar logo”, explica.

Cheio de sonhos, depois que o rim “chegar”, segundo João Vitor, ele irá estudar muito para se tornar policial. “Quero fazer a segurança da minha cidade e cuidar das pessoas”.

Sobre o tempo à espera do transplante, ele diz que não desanima. “Eu sei que ele vai chegar porque eu sou feliz”.

À mãe, só resta emoção e esperança. “Ele sempre foi alegre desse jeito. Acho que isso dá mais força pra gente enfrentar tudo isso. Não é fácil pra ele, porque ele já tem 11 anos e não vive uma rotina normal como outras crianças. Mas a gente tem fé que logo mais ele estará 100%”.

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“Quero fazer o transplante para eu fazer coisa boa, brincar, virar mortal, ficar de ponta de cabeça e ir para escola”, diz o menino.
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