Comportamento

De tratorista pantaneiro a guia de turísmo, Vitor subiu na vida com a natureza

Willian Leite | 05/08/2018 07:14
Nas expedições o guia que hoje fala inglês fluente indica os melhores lugares  para observação aos turistas estrangeiros. (Foto: Arquivo Pessoal)
Nas expedições o guia que hoje fala inglês fluente indica os melhores lugares para observação aos turistas estrangeiros. (Foto: Arquivo Pessoal)

A história deste guia de turismo começou em 1989, quando ainda trabalhava em uma fazenda como tratorista. Na sequência, se tornou motorista de caminhão e, no mesmo local, conheceu Ronald Rosa, um guia de turismo que trabalhava com biólogos, recém formados, que vinham de outros estados para conhecer o Pantanal, essa foi a oportunidade que ele abraçou para se tornar um dos mais experientes guias de turismo da região.

Victor do Nascimento, de 47 anos, cresceu na Fazenda Refúgio Ecológico Caiman, no Patanal sul-mato-grossense. Lá estudou até o ensino fundamental em uma escola rural. Tinha experiência o suficiente para guiar os turistas naquela região, ainda dirigia o caminhão que transportava o pessoal até o campo, mas já era considerado guia nativo. "A maioria dos turistas eram estrangeiros e isso as vezes dificultava um pouco por não saber falar inglês, mas como sempre tinha um ou outro que dominava o idioma, sempre dava um jeito de me virar", relembra.

O menino que nasceu e cresceu na região, conhecia as terras e animais do Pantanal com muita autenticidade, e isso fez diferença no início da carreira como guia. Mesmo considerado guia nativo, Victor diz que era muito matuto e não sabia o nome científico dos bichos e em suas expedições com outros guias que tinham esse conhecimento foi aprendendo e ganhando a confiança de todos.

"No começo era um pouco estranho, imagina eu que nasci na fazenda e naquela época me peguei trabalhando junto a pessoas que tinham estudado, mas que sempre faziam questão que eu acompanhasse os turista, foi ali que deu o estalo e pensei essa é a oportunidade da minha vida", explica.

Os campos alagados e a fauna pantaneira são o ambiente de trabalho de Victor. (Foto: Aquivo Pessoal)
Primeiro instrumento de trabalho, ainda faz parte da vida de Victor. (Foto: Arquivo Passoal)

Na época Victor ganhou seus dois primeiros instrumentos de trabalho, um binoculo e um livro, o material continha os nomes e especificações de aves da Americanas do Sul. "Com esse livro em mãos e como já estávamos desenvolvendo o trabalho há algum tempo, fiz um roteiro de observação de aves. Me lembro que haviam muitos gringos, mas nesse momento eu já me virava bastante com o inglês e isso não era mais empecilho, até mesmo porque com o envolvimento com os guias e turistas estrangeiros fui pegando amizade e eles me ajudaram bastante com o idioma e com a parte científica dos animais", afirma.

Por sempre morar na região, a vivência foi um diferencial para que as pessoas confiassem no trabalho de Victor, a convivência com vários biólogos deu uma bagagem extensa e variada para o guia. "Foi uma troca, por um lado eu transmitia minha experiencia como nativo e eles me ensinavam os nomes e especificações científicas dos animais para que eu pudesse fazer as expedições com os turistas já com tudo em mente".

Durante todo esse processo de aprendizado e troca de experiências, Victor tinha apenas a extinta sétima série, e foi dai que em 2006 surgiu a oportunidade de conhecer outro país, a Costa Rica que fica na América Central. "Lá havia uma pousada que era parceria da agência que mandava turistas para o pantanal e então eles encaminhavam cortesias e junto com uma amiga fui conhecer o país onde fica essa agência. foi uma experiencia muito feliz, porque lá o turismo de observação é muito avançado", destaca.

Hoje guia de turismo, o nativo das terras pantaneiras conhece com facilidade os locais onde leva seus clientes. (Foto: Arquivo Pessoal)

Outra experiência que marcou a carreira do ex-tratorista, foi a ida aos Estados Unidos em 2008, também por meio de seu conhecimento com os amigos de trabalho e turistas que atendia no pantanal, ele pôde ir ao Alabama, conhecer a sede da International Expeditions uma agência que encaminhava os estrangeiros para as expedições onde Victor era guia de turismo. "Foi muito mágico, conheci vários estados americanos e o casal que me recebeu me deixou bem a vontade, foi único e isso contribuiu ainda mais para minha bagagem", completa.

Em 2009 Victor teve que sair da Fazenda Caiman porque queria ir morar na África do Sul para aprender a falar inglês fluente, pois lá era mais barato. " Com a ajuda do dono lá da Caiman fui para lá e ficamos um anos e no final de 2010 voltei para o Brasil e também a trabalhar na Caiman".

Hoje o guia de turismo que nasceu e cresceu no pantanal presta serviço para a pousada Caiman onde tudo começou, mas aleatório a isso tem a própria agência. "Essa sensibilidade que adquiri com toda essa experiência hoje é o meu diferencial. Hoje nossa minha agência faz atendimento personalizado. Os turistas nos mandam por e-mail o que querem ver aqui no pantanal, montamos o roteiro e devolvemos aí fechamos negócio", finaliza.

Nos siga no