Comportamento

De jeito bem original, há 12 anos José convida quem passa na rua para almoçar

Thailla Torres | 03/10/2017 06:15
José fica parado na Dom Aquino, na entrada do antigo Shopping Pantanal.  (Foto: Marcos Ermínio)
José fica parado na Dom Aquino, na entrada do antigo Shopping Pantanal. (Foto: Marcos Ermínio)

De calça social e gravata bem ajustada, José Montini abre um sorriso tímido, mas todo atencioso que fez dele um personagem no Centro de Campo Grande. É estendendo a mão a quem passa que ele ganha atenção, na Rua Dom Aquino, toda vez que diz: "Bom dia, senhorita, vamos almoçar?", sem desviar os olhos.

Nunca arrisquei aceitar o pedido, mas não ousei menosprezar o destemido jeito do senhor, de 63 anos, que convida qualquer um para o almoço de R$ 7,00 no restaurante conhecido pelo prato feito barato.

"O cliente que está passando é o nosso dinheiro que está indo embora", diz. "Mas o valor que está no bolso em forma de papel, cheque ou cartão vem até nós por um trabalho feito com o coração", completa José que diz ser o relações públicas do estabelecimento.

Ele faz a mesma coisa na porta do restaurante há 12 anos. Mas chegou à Capital em 1982, depois de ter viajado por São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, estado onde nasceu. Foi lá que aprendeu a trabalhar em restaurantes e hotéis. Flertou com o atendimento e nunca mais abriu mão de servir.

É no sorriso e na educação que ele conquista um novo cliente para o restaurante. (Foto: Marcos Ermínio)

"Para fazer isso, tem que gostar do ser humano e servir é um ato divino. Quando vamos servir o alimento é melhor ainda, afinal estamos nutrindo as pessoas e capacitando elas para trabalharem melhor", explica.

Logo que chegou, aqui trabalhou na Churrascaria Gaúcha, que marcou época na Afonso Pena com a famosa ponta de costela e com os conjuntos paraguaios que ali se apresentavam. Do mesmo lado, havia a Churrascaria do Vitório, com as mesmas características, mas o dono saiu na frente quando contratou José como relações públicas que ficava na calçada convidando as pessoas a dar preferência à sua churrascaria.

Ao olhar nos olhos de quem chegava, todos os dias, ele encontrava alguém diferente que o impressionava. Apertou mãos de gente comum, mas se emocionou ao dar bom dia a Manoel de Barros, poeta, que sempre foi seu ídolo e frequentou por algumas vezes a churrascaria.

Quem o conhece, sabe que não há esforço para ser simpático no trabalho e ele explica o motivo. "Há uma grande carência de amor no mundo, por isso, tratando bem as pessoas, a gente conquista tudo. Um sorriso abre todas as portas e uma cara feia fecha todas", ensina.

Com a segurança de quem veio de longe, ele ainda defende o povo campo-grandense quando o assunto é simpatia. "Tem isso aqui, né? Mas não é verdade. O povo aqui é trabalhador e estamos em uma terra nova. E toda terra nova recebe muito aventureiro, mas depois que você passa a conhecer a região, descobre a terra maravilhosa e um povo carinhoso".

Antes da despedida, uma das imagens que não sai da cabeça de José, é o encontro com o poeta, sempre atencioso, sensível, que deu ouvidos a poesia do homem que o recebia na churrascaria. "Eu sempre gostei de poesia e o que me encanta aqui é acordar com os pássaros. Não é atoa que Manoel amava essa natureza".

"Quando eu vim do meu Rio Grande
Trouxe comigo uma tradição
A pilsen de um gaúcho
E a cuia de chimarrão
Aqui eu conquistei muitas morenas
Dançando xote e vanerão
Mas aprendi dançar polca e chamamé
Comer churrasco de mandioca e tomar o tal do tereré
Então quando me chama de gauchão
No meu peito vem um alvoroço
E
sse velho veio do Rio Grande
Mas ama Campo Grande
Capital Sul do Mato Grosso."

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