Comportamento

Da escola que não existe mais, sobra lição de amor para 3 professores

No ano em que a antiga MACE completaria 50 anos, ex-professores e diretores relembram em livro histórias guardadas no peito

Raul Delvizio | 25/02/2021 12:25
Durante mais de 25 anos, Remi foi uma das diretoras da MACE (Foto: Arquivo Pessoal)
Durante mais de 25 anos, Remi foi uma das diretoras da MACE (Foto: Arquivo Pessoal)

Em 2021, a MACE (Moderna Associação Campo-grandense de Ensino) completaria 50 anos. Para quem fundou, instruiu, dirigiu e formou inúmeras turmas de alunos no que um dia foi um dos colégios mais tradicionais da Capital, sobra lição de amor. Para três professores, a instituição era nada mais do que uma grande família – até hoje guardada no peito.

Thereza dos Santos Filhos foi uma das precursoras e primeira diretora da MACE. Com 83 anos, a senhora revela que mesmo após deixar o cargo e surgir a pandemia de covid-19, andar nas ruas de Campo Grande era sempre motivo de alegria.

“Mal podia pisar na rua já era reconhecida como professora de alguém! É bonito a gente ser lembrado com carinho. Nem o meu cansaço ou problema de rouquidão – que inclusive tive que fazer cirurgia para solucioná-lo – foi problema em tantos anos de magistério. Só posso agradecer pelo sucesso do nosso projeto. Assim como todos nós valorizávamos os alunos, eles também nos valorizaram. Seja naquela época, seja nos dias de hoje”, agradece.

Clique feito dos pequenos no início dos anos 80 (Foto: Arquivo Pessoal)

Junto do irmão Pedro Chaves Filho, que também foi um dos fundadores, os dois ficaram conhecidos como os “irmãos matemática” justamente por lecionarem a mesma disciplina escolar. Com formação estritamente acadêmica, o ex-senador e atual secretário estadual de pasta especial no Governo pôde descobrir pela MACE o que realmente significa ser professor.

“Eu era um tecnocrata. Foi lá, nos anos de prática, que aprendi o que é preciso para ser um professor de fato. Descobri uma profissão humanizada, em que o contato com o aluno de forma direta, com os pais e funcionários importa muito. Por mais que fosse um negócio, uma empresa, se tratava de um segundo âmbito familiar para todos nós”, relembra.

Mesmo não sendo professor, foi a partir do sonho do pai Pedro Chaves que a MACE passou de uma ideia à realidade. Também na vontade de lecionar, foram os filhos Pedro, Therezinha e Plínio – este último já falecido – os realizadores da Moderna Associação Campo-grandense de Ensino. Foi no ano de 1971 que edificaram uma escola moderna para a época, dinâmica em termos do que oferecia e inovadora no ensino, em que cada aluno seria o verdadeiro centro das atenções. Durante os 46 anos que ficou aberta, formou pelo menos 200 mil alunos em Campo Grande.

Até padre batizou a escola no dia da sua inauguração (Foto: Arquivo Pessoal)

Pensando no início dos 70, a MACE já era considerada um empreendimento revolucionário na Capital. Com ensino que ia desde os níveis infantis, passando pelo fundamental até chegar no ensino médio (de manhã, à tarde e à noite), já de cara recebia ao total de 4.500 alunos anualmente, com um quadro de pelo menos 100 funcionários.

“Isso sem falar dos cursos técnicos de contabilidade e magistério, além do cursinho preparatório. Era uma instituição completa, que começou madura. Já naquela época era uma escola promissora, de bastante futuro. Essa perspectiva foi confirmada pelos alunos, que já amavam”, afirma Pedro.

Registro da banda escolar (Foto: Arquivo Pessoal)
Durante a construção da sede na região da avenida Fernando Corrêa da Costa, no Centro (Foto: Arquivo Pessoal)

Estudantes, estes, que fazem parte da “família MACE”, pessoas que construíram a sociedade sul-mato-grossense. “Tem um pouco de tudo, advogados, médicos, empresários, engenheiros, arquitetos… muita coisa! Professores também, é claro. Alguns até já foram deputados federais, outros compuseram o quadro de vereadores no estado”, diz Thereza.

No conteúdo lecionado, xadrez era obrigatório. Sem falar das atividades lúdicas, esportivas e culturais. “Tínhamos o Garoto & Garota MACE. Era maravilhoso! Todo mundo torcia. Cerca de 5 mil pessoas se reuniam para acompanhar o concurso. Muitas das meninas participantes até se tornaram Miss Campo Grande”, recorda Pedro.

Registro feito na inauguração do ginásio MACE (Foto: Arquivo Pessoal)
Uma das alunas em meados dos anos 70 (Foto: Arquivo Pessoal)

Também ex-diretora, Reni Domingos dos Santos, 72 anos, revive seus 25 anos de MACE com orgulho. “Comecei pequena e fui crescendo… passei por quase todos os cargos até me tornar vice-diretora ao lado de Therezinha”, ressalta.

“Quando ela saiu e virei diretora, era daquele tipo que acompanhava tudo. Ficava no pátio durante o intervalo, dividia lanche, andava pelos corredores e até participava na hora da saída, nas despedidas. Eu sabia da vida de cada um. Mesmo que não soubesse o nome, pelo menos o sobrenome eu saberia dizer de cor. Fazia questão”, revela.

Reni, que é esposa de Pedro Chaves Filho, revela que naquela época respeito e amor nunca faltaram. “Quando a gente faz as coisas com amor, tudo é recompensado. Aliás, educação é amor. Tínhamos não só a vontade, mas também aptidão. Por isso deu certo. Foram bons tempos”, finaliza.

Da esquerda para a direita: Therezinha, Reni e Pedro Chaves (Foto: Arquivo Pessoal)

Livro – Todas essas histórias – até sobre o pipoqueiro da MACE (quem aí se lembra?) – faz parte do lançamento “MACE 50 anos de História”, que conta a trajetória de meio século de tradição da Moderna Associação Campograndense de Ensino.

O evento acontece de forma virtual e ao vivo na noite de hoje (25), às 19h. A cerimônia será interativa e poderá ser acompanhada pelo site oficial. Na ocasião, haverá um formulário para a aquisição física do livro.

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