Comportamento

Condomínio todo ouve vizinho que aprendeu tocar sanfona para aniversário da avó

Paula Maciulevicius | 08/05/2016 07:15
A gente até pode não saber de onde vem, mas desconfia ser um vizinho aprendiz de sanfona. (Foto: Fernando Antunes)
A gente até pode não saber de onde vem, mas desconfia ser um vizinho aprendiz de sanfona. (Foto: Fernando Antunes)

Pouco depois das 8h da manhã, durante a semana, uma sinfonia chega às janelas do condomínio na Vila Sobrinho, em Campo Grande. A gente até pode não saber de onde vem, mas desconfia ser um vizinho aprendiz de sanfona pelas notas de "Parabéns pra você" que apenas abrem o repertório. A sequência demonstra que o aprendizado já avançou porque inclui "Asa Branca" e "Saudades da minha Terra".

Quem normalmente passa as manhãs fora de casa e desconhece o que há quatro anos o residencial inteiro acompanha, quando acordado com o som durante as férias não tem das melhores reações.

Sanfoneiro tem 9 anos e chama o instrumento de "gaita" por influência da família gaúcha. (Foto: Fernando Antunes)

Mas o sentimento cai por terra ao descobrir que os treinos que o tocador em questão tem 9 anos, chama o instrumento de "gaita" por influência da família gaúcha e, aprendeu para tocar no aniversário de 80 anos da matriarca, a avó Virgínia.

Os treinos que acontecem na sala, além das aulas na escola de música, tem a mãe e a avó como plateia e professoras. Antes dos dedinhos ágeis encontrar as notas, o garoto precisa ainda de ajuda da mãe para colocar as alças no ombro.

Se pesa? Hoje em dia Redy Angelo Peruzzo Neto diz que não mais. A vontade de aprender um instrumento se somou à "queda" que a família tem pela sanfona. Com mãe e avó nascidas em Nova Prata, no Rio Grande, ele se encantou com o dedilhar das teclas e do baixo, assim como o vai e vem que fazem a sanfona.

A primeira aparição pública foi no aniversário da avó. Foram três meses de ensaio firme do "Parabéns Gaúcho" que começaram em casa mesmo.

Dona Virgínia atendia o professor na porta, reconhecia as notas, mas não imaginava que a surpresa viria na grande festa de família. Dois anos já se passaram, a sanfona continua a tocar e ela ainda se emociona ao falar e também ao ouvir.

"Foi lindo, me traz muita coisa o som. Eu gosto de música, sempre gostei de dançar e o melhor instrumento é a gaita, porque me entusiasma a alma", resume Virgínia Viapiana Peruzzo, hoje com 82 anos.

Garoto foi aprender para tocar, de surpresa, "Parabéns Gaúcho" para avó. (Foto: Fernando Antunes)

De fãs, Neto tem a avó e a mãe Edna. De ouvintes? Os cinco blocos do condomínio, além do porteiro que tem sua preferida: "Asa Branca".

A fala começa tímida do menino que se sente mais à vontade tocando e cantando. E só depois do encontro com a gaita é que ele se abre, assim como o instrumento que escolheu tocar.

A timidez se mistura ao medo de errar que Neto diz ter.

"Só toco em festas de família. O que eu sinto? Medo de errar, é que depende... Você estar num lugar cheio de gente assim, deixa a gente nervoso", conta o menino.

Estudante do 4º ano do Fundamental, ele concilia os estudos, a brincadeira e a gaita durante os dias da semana.

"Acordo às 8h, brinco um pouco e depois veio ensaiar", fala ele sobre a rotina. Quando encontra os vizinhos pela garagem, recebe como elogio o anúncio de que ao começar a tocar, as janelas se abrem.

O menino toca o que pode para aproveitar o último ano de aulas. Ele acredita que ano que vem deve deixar a gaita de lado para se preparar e prestar a prova de admissão no Colégio Militar. Enquanto isso, o condomínio continua a acompanhar os dedinhos, do Parabéns à Mercedita.

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A fala começa tímida do menino que se sente mais à vontade tocando e cantando. E só depois do encontro com a gaita é que ele se abre, assim como o instrumento que escolheu tocar. (Foto: Fernando Antunes)
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