Comportamento

Com trajes, bebidas e rituais, ciganos mostram que cultura segue viva

Celebração anual reuniu tradições do povo na Plataforma Cultural durante a noite desta terça-feira (24)

Aletheya Alves | 25/05/2022 06:52
Festa de Santa Sarah Kali contou com procissão entre os rituais tradicionais. (Foto: Kísie Ainoã)
Festa de Santa Sarah Kali contou com procissão entre os rituais tradicionais. (Foto: Kísie Ainoã)

Após dois anos sem comemorar a Festa de Santa Sarah Kali devido à pandemia, a celebração anual dos ciganos em Campo Grande foi retomada nesta terça-feira (24) levando os costumes, rituais e tradições para a região central da cidade pela primeira vez. Realizada na Plataforma Cultural, a festa reuniu desde a leitura de cartas até bebidas e comidas típicas do povo romani em um evento aberto ao público.

Tomado de trajes típicos com cores vibrantes, o evento teve início com um ato ecumênico seguido por uma pequena procissão de Santa Sarah. Carregada nos ombros das famílias tradicionais, a imagem foi retirada de seu altar e levada até o palco em meio a “optchás” - saudação em romani que quer dizer “salve”. 

Altar foi preparado para a santa padroeira do povo cigano. (Foto: Kísie Ainoã)

Devido ao evento ter sido aberto ao público, todos os atos feitos pelos grupos integrantes foram acompanhados de narrações, permitindo que os participantes entendessem um pouco dos significados presentes nos rituais. 

Além da procissão, a cerimônia do Manrô, o pão cigano, típica nas comemorações envolvendo a padroeira, também foi compartilhada. Após ser abençoado, o pão redondo, que indica a vida em ciclos, recebe buracos feitos com as mãos e, em seguida, é embebido em vinho. 

Momento em que o pão, redondo, é embebido com vinho. (Foto: Kísie Ainoã)

“Esse evento é uma das formas de mostrarmos que não temos vergonha de sermos ciganos e de trazermos um pouco da nossa história”. É assim que Pedro Nicolich, de 52 anos, define a comemoração de seu povo. 

Presidente da Romani Federação Sul-mato-grossense de Cultura e Etnia Cigana, Pedro foi um dos organizadores da festa e conta que, além de mostrar parte dos rituais, a ideia da celebração é trazer a alegria e orgulho das tradições.

Por isso, além dos rituais de Santa Sarah, a comemoração também contou com barraquinhas para exposição de práticas, comidas e bebidas do povo cigano. 

Responsáveis pela organização do evento, Pedro e Christiane Nicolich. (Foto: Kísie Ainoã)

Acompanhado de sua esposa, Christiane Nicolich, de 51 anos, Pedro levou uma cachaça feita com a receita de seus ancestrais. “Essa é a Ratchia Tzuica, uma bebida tradicional vinda da Iuguslávia. Na receita, ela recebe tâmaras, ameixas, nozes e damasco, além de ficar curtida por 6 meses para chegar nessa coloração”, conta. 

Ratchia Tzuica, uma bebida tradicional vinda da Iuguslávia. (Foto: Kísie Ainoã)

Já Christiane, professora e taróloga, levou uma tenda para realizar os atendimentos e comercializar o Tchayo e charuto cigano. 

Christiane durante a preparação para leitura de cartas. (Foto: Kísie Ainoã)

"O chá cigano tem toda uma ritualística para ser preparado, depende da energia que colocamos. O charuto, que é uma comida típica cigana, também foi preparado por mim e, além disso, também estamos fazendo as leituras das cartas", explica Christiane. 

Charuto cigano foi a comida típica servida no evento. (Foto: Kísie Ainoã)

E, aprofundando a ideia de compartilhar sobre a cultura, a cigana Luna Negra, que é escritora, taróloga, dançarina e professora de dança, esteve no evento com seu livro “Era uma vez… um povo cigano”.

Estamos com nosso livro, que foi lançado neste ano, e conta sobre a temática cigana através de contos. Também aproveitamos para trazer sais de banho que ajudam no equilíbrio espiritual", conta Luna Negra.

Sem poder faltar, a dança cigana também foi representada no evento. Integrante da Companhia Rosa de Fogo, a bailarina Elenir Escobar Barbosa conta que levar as tradições ao público significa divulgar a realidade da cultura cigana como forma de romper com os preconceitos. 

Bailarina de dança cigana, Elenir Escobar Barbosa conta sobre a importância do evento. (Foto: Kísie Ainoã)

“O povo cigano sofreu muito e hoje, está se libertando, levando sua cultura. Aqui, estamos vendo alguns modos, inclusive que, se o povo está triste, ele dança, e se está alegre, dança ainda mais”, diz. 

Entre o público que aproveitou o momento para conhecer alguns detalhes da cultura cigana, a estudante de Artes Cênicas, Julia Ferreira da Silva, de 43 anos, diz que se interessou pelas comunidades ciganas há algum tempo, mas que apenas agora conseguiu ter esse acesso. 

Eu sabia algumas poucas coisas sobre os acampamentos até que, durante a produção de um artigo sobre a cultura regional, decidi fazer sobre a Luna Negra, que é uma artista cigana. Havia conversado com ela, mas hoje, estou gostando mesmo de ver as tradições aqui no evento", comenta Julia.

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