Comportamento

Com 42 anos no karatê, sensei Antônio ganha kimono especial dos alunos

Ele completou 60 anos de vida e mais de quatro décadas no esporte que o ensinou a ter disciplina

Alana Portela | 06/08/2019 08:48
O sensei Antônio Pereira Moura treinando os alunos  (Foto: Paulo Francis)
O sensei Antônio Pereira Moura treinando os alunos (Foto: Paulo Francis)

Há 42 anos, Antônio Pereira de Moura, aderiu o karatê “Shotokan” como estilo de vida e passou a ensinar a arte marcial. Mostrou que é preciso ter disciplina para dominar a luta e saber usar os golpes com respeito. Como forma de agradecimento, seus alunos e ex-alunos de Dourados e Campo Grande se reuniram no dia 3 de agosto em uma festa surpresa para celebrar sua trajetória e seus 60 anos de vida. Ainda o presentearam com um kimono e celular.

“Dou aula no Colégio Nova Geração há 18 anos. Eles combinaram no local, e a escola me chamou para fazer uma sessão de fotos para outdoor. Mas quando cheguei e vi o ginásio cheio, com pessoas que dei aula e fiquei emocionado. Faz mais de 20 anos que parei de treinar em Dourados, mas os meus ex-alunos vieram para ficar umas horas com a gente e voltar. É uma recompensa do trabalho que faço ao longo dos anos e vale a pena”, disse o sensei.

Sensei Antônio Pereira Moura se dedica ao karatê há 42 anos (Foto: Paulo Francis)

Durante a homenagem o Moura recebeu um kimono novo e um celular como forma de gratidão pelos ensinamentos. Foi impossível segurar a emoção ao ver toda aquela gente reunida. Todos estavam como kimono e as faixas que conquistaram com os treinos ao lado do sensei. Eles aproveitaram o momento que tirar fotos e matar a saudade dos velhos tempos.

Moura é 6° Dan da Federação de Karatê do Estado e começou a se interessar pela arte marcial quando era garoto. Na época, assistia filmes de ação com Bruce Lee e Chuck Norris. “Via os filmes pela televisão. Até ia no cinema com meu irmão, mas como era menor de idade não me deixavam ver. Entretanto, ficava perto e ouvia as cenas. Aos 17 anos comecei a treinar”, lembrou.

Sua mãe era costureira, então fez um kimono de saco de arroz para que o filho pudesse treinar. “Usei no meu primeiro exame de faixa branca para amarela”, contou. Desde então não parou mais de praticar o karatê e foi campeão de Kata, luta imaginária, duas vezes em São Paulo. Em 1978 entrou para o exército, mas continuou tendo contato com a luta.

“O salário que ganhava lá não dava para pagar a mensalidade da escola, mas continuei treinando e ajudava o sensei a passar pano no chão. Ele dizia para eu ter pontualidade, ser honesto e cumprir com meus compromissos. Aprendi a ter disciplina e hoje o karetê se tornou minha filosofia de vida”.

Sensei Moura no centro da imagem lutando contra o adversário e usando seu kimono de saco de arroz (Foto: Arquivo pessoal)
O sensei usando o kinomo que ganhou na homenagem (Foto: Paulo Francis)
O sensei Moura com as medalhas que conquistou ao longo dos anos (Foto: Paulo Francis)

Nesse tempo, deu aula em Fátima do Sul, Aquiaduana e em Dourados, onde morou por três meses. “Depois vim para Campo Grande, mas continuei dando aula lá por 12 anos. Ia três vezes na semana de ônibus para a cidade. Saia daqui às 12h, chegava às 15h40 e retornava pra casa às 1h30. Com o tempo, passei a academia para um amigo meu”. Na Capital, passou a treinar no Clube União de Campo da União dos Sargentos.

“Me casei e tive três filhas, elas e minha esposa também passaram a fazer aulas de karatê por um bom tempo, depois pararam. A filha mais velha foi até a faixa marrom, mas parou por conta da faculdade e a do meio, foi para o Canadá disputar um campeonato”, falou Moura cheio de orgulho.

Atualmente, continua dando aula no Clube de Campo da União dos Sargentos, no Colégio Nova Geração e criou a Associação Moura de Karatê no bairro União, onde treina crianças e adolescentes. “A academia ganhou troféus pelas competições dos meus alunos e também ganhei duas esculturas da Fundação de Esporte do Estado”.

Alunos e ex-alunos se reuniram em homenagem ao sensei Moura, que está de casaco em pé na imagem (Foto: Aquivo pessoal)

Regra - Moura explicou a finalidade dos ensinamentos para os alunos que iniciam as aulas. “É um esporte para treinar as atividades físicas. Ajuda a melhorar o físico, emocional e psicológico. Mas, é preciso ter respeito pelos colegas, pelo kimono e ser humilde. Isso é o que converso com as crianças. Tenho alunos que são filhos dos alunos que treinaram na União do Sargento”.

Também existe um lema para entrar na luta. “Se esforçar para a formação do caráter, fidelidade para o verdadeiro caminho da razão, criar o intuito do esforço, respeito acima de tudo e conter o espírito de agressão”, afirmou.

Caio dos Santos tem 15 anos e comentou que o treino melhorou sua concentração (Foto: Alana Portela)
Felipe Kahlil da Costa Brasil tem 14 anos e contou o sensei te ensinou a ter autocontrole (Foto: Alana Portela)

Alunos - Fabiane Betti é mãe de Eduardo Fernandes de 9 anos. Foi uma das organizadoras da homenagem ao sensei e contou que o filho admira Moura. “Tem um respeito sem medidas por ele, carinho e gratidão. [Eduardo] foi ouro na primeira etapa do campeonato de karetê estadual deste ano”, disse.

Fabrine Bassi é do Fábio de 11 anos, que faz karatê desde os cinco anos de idade e revelou que o filho aprendeu muito mais que os golpes. “Em 2017 fomos em um campeonato em Dourados, e na disputa pelo bronze, na luta, o Fábio ganhou por WO, pois seu adversário havia se machucado na luta anterior. Vendo seu adversário chorando, meu filho deu a medalha para ele, dizendo ser mais merecedor. Esse é apenas um dos exemplos de que o karatê é respeito, dedicação, superação, traz confiança e autoestima. Por todos os ensinamentos, agradecemos imensamente o sensei Antônio Moura”, destacou.

Caio dos Santos, 15 anos, treina há seis anos. “A vontade de treinar surgiu por conta dos meus pais. Diziam que iria melhorar meu desempenho físico e realmente me ajudou a ter disciplina, concentração e formação do caráter”, falou.

Felipe Kahlil da Costa Brasil, 14 anos, também comentou sobre os ensinamentos. “Gosto de artes marciais. Em 2015 comecei no judô e depois migrei para o karatê. O sensei me ensina a ser uma boa pessoa e sempre falar para não usar a violência. Aprendi a ter autocontrole”, concluiu.

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Os alunos treinando karatê na Associação Moura de Karatê (Foto: Alana Portela)
Os alunos treinando os golpes (Foto: Alana Portela)
(Foto: Alana Portela)
(Foto: Alana Portela)
(Foto: Alana Portela)
(Foto: Alana Portela)
(Foto: Alana Portela)
(Foto: Alana Portela)
(Foto: Alana Portela)
(Foto: Alana Portela)
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