Comportamento

Cega depois dos 30 anos, mãe não viu o rosto do 3º filho, mas virou escritora

Elverson Cardozo | 26/12/2012 07:14
Grazyella Maria ficou cega aos 30 anos, após desenvolver a retinoplatia diabética, uma lesão na retina. (Foto: João Garrigó)
Grazyella Maria ficou cega aos 30 anos, após desenvolver a retinoplatia diabética, uma lesão na retina. (Foto: João Garrigó)

Ela viu a luz do sol por 30 anos. De repente, de um dia para o outro, ficou cega. Estava no 7º mês de gestação. Não chegou a ver o rosto de Cauã, o terceiro filho, mas conseguiu, com fé e determinação, se adaptar à nova vida. Provou que é possível enxergar a beleza, mesmo quando os olhos perdem a função principal.

A loira de semblante calmo e voz dócil continua a ser a mesma mãe exemplar, amorosa e rígida quando vê necessidade. É a mesma esposa dedicada, mas uma nova mulher que aprendeu, com as adversidades, a dar mais valor à vida.

Nascida em Dourados, a 225 quilômetros de Campo Grande, Grazyella Maria Ferreira de Souza, de 35 anos, sempre soube que tinha diabetes. Foi diagnosticada com a doença aos 16 anos, mas não deu a devida atenção ao tratamento. O previsível aconteceu.

Quando ficou grávida, desenvolveu a retinoplatia diabética, uma lesão na retina causada por complicações decorrentes do aumento anormal de açúcar no sangue. Chegou a passar por uma cirurgia, mas não adiantou. Perdeu a visão.

À época, trabalhava no escritório do marido e desenvolvia, paralelamente, atividades como artesã. De uma hora para a outra, tudo mudou e o mundo se transformou, para ela, em uma enorme cortina preta.

O início foi a época mais difícil e complicada. Resultou em crises de depressão e angústia. Casada, mãe de três filhos, ela teve de se adaptar à nova condição. Conseguiu.

Hoje, mesmo cega, enxerga o colorido por toda parte, nas pequenas coisas, nos gestos, nas atitudes que muitas vezes passam despercebidas pela grande maioria. “Aprendi a ter fé em Deus. Vivo sem limites”, disse, ao revelar que se converteu há 2 anos e frequenta uma igreja evangélica em Ponta Porã, cidade onde mora.

“Eu vejo como meu dia é curto pelo tanto de coisas que eu tenho para viver”, acrescentou.

Primeiro livro foi lançado no ano passado. (Foto: João Garrigó)

Livro - Cinco anos se passaram e Grazyella se tornou escritora, mesmo sem enxergar um palmo à frente do rosto. Contou com ajuda de amigos para escrever o primeiro livro, “Pela Fé Posso Enxergar”, lançado pela Editora Life em 2011.

Trata-se de uma obra autobiográfica de 160 páginas que é dividida em duas etapas. A primeira conta a história de sua vida “mundana”, como se refere ao passado, enquanto a outra revela sua trajetória no “mundo espiritual”.

Na introdução, a mensagem destinada aos leitores é um convite à reflexão: “Desde que perdi a visão, senti no meu coração que deveria expor toda minha luta e dor em busca de um milagre. Foi um longo tempo de dúvidas, de perguntas sem respostas e de confusão: por quê? Nem me dava conta de que as respostas estavam na minha frente; de que não era preciso enxergar e, sim, só escutar e sentir”...

A fé de Grazyella aumenta com o passar dos dias. O milagre, para a cristã fervorosa, está cada vez mais perto. Mesmo que a medicina tenha batido o martelo dizendo o contrário, ela continua confiante de que um dia voltará a enxergar.

“Existe uma promessa e, na verdade, esse milagre já foi liberado. Só falta arrumar o coração”, explicou.

Exemplo de fé - Para os amigos e familiares, a artesã que virou escritora, é um exemplo de coragem, determinação e superação. A filha do meio, Ranyelle Maria Ferreira de Souza, de 12 anos, consegue definir a mãe em uma única palavra: batalhadora.

Da esquerda para direita: Nair (secretária), Ranyelle (filha), Grazyella e Mariela (irmã). (Foto: João Garrigó)

“Ela procura a felicidade dela. Para mim, a deficiência não importa. O importante é que ela seja feliz”, afirmou.

A irmã, Mariela Carvalho Ferreira, de 21 anos, não esconde o orgulho que sente e conta que a escritora é um exemplo para o mundo. “Ela é excepcional”, resume.

Atual secretária de Grazyella, Nair Martinez de Martins, de 53 anos, afirma é impossível não se envolver com a história da mulher. “Ela se supera a cada dia. Tem muita garra”, declarou.

Onde comprar? - O livro “Pela Fé Posso Enxergar” está à venda no site da Editora Life. Custa R$ 19,90, com frete grátis para todo o Brasil.

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