Comportamento

Casas de sexo liberado têm até jaula para quem não gosta de ser tocado

Elverson Cardozo | 07/02/2014 06:25
Festas do clube Nikkey acontecem neste motel. (Foto: Divulgação)
Festas do clube Nikkey acontecem neste motel. (Foto: Divulgação)

Muita gente desconhece, nem imagina, mas existem três casas de swing em Campo Grande. Público tem e não é pouco. Só na DooLance, a mais antiga, que completa 10 anos em abril, são pelo menos 3 mil cadastrados. Na Nikkey, que existe desde 2009, são aproximadamente 1 mil. Na Liberty, a caçula, inaugurada em agosto de 2013, a lista tem cerca de 70 nomes. Os responsáveis aceitaram falar com o Lado B, mas pediram sigilo sobre os dados pessoais.

Nesses lugares há os mais variados recursos que podem ajudar os clientes a realizarem suas fantasias sexuais: de buracos na parede, que servem para apalpar desconhecidos no escuro, às “jaulas”, para os casais que gostam de serem observados enquanto transam, mas não permitem o toque.

Todos esses espaços são destinados àqueles que curtem o sexo liberal, a troca de casais (swing) e outras práticas como o ménage (a três), Gang Bang (uma mulher se relaciona com três ou mais homens ou um homem “fica” com três ou mais mulheres), Grupal, ou Dogging (em locais públicos). É o ponto de encontro para gente sem timidez, que está disposta e quer sair da rotina.

A DooLance tem mais cara de boate, com uma estrutura própria, pensada para esse fim. A entrada é escura, assim como todo o restante do prédio, pintado em preto. A única luz, na recepção, vem de um abajur esverdeado e de um painel, com letras amarelas, em neon, que explica o uso das “pulseiras das intenções”, entregues na entrada pelos promoters.

Explicação das pulseiras na entrada da DooLance. (Foto: Marcos Ermínio)

A vermelha significa: “Observando. Somos iniciantes. Estamos só olhando. Casal voyer”. A amarela quer dizer: “Imaginando. Podemos nos descobrir hoje... Estamos na dúvida, mas pode rolar algo”. A verde é um passo a mais: “Abertos a novas experiências. Queremos interagir. Estamos a fim que role algo. Casal x Casal”. A azul sinaliza que a mulher é bissexual.

O interior é divido em vários “setores”. Tem a pista de dança, com DJ e iluminação especial; a área mais social, que compreende parte da recepção, onde há alguns assentos; as salas reservadas, que permitem a observação de voyeurs; o quarto com a cama gigante, a “baca” (de bacanal); as “jaulas”; o labirinto, mais conhecido como o dark room, onde existem os buracos que dão para o corredor e, no final, uma suíte, uma opção aos casais que buscam mais privacidade. É o único local que a casa cobra, além da entrada.

Pista de dança. (Foto: Marcos Ermínio)

A circulação em todas as outras áreas é de graça. E o sexo é permitido em qualquer parte. Em cada ambiente há rolos de papéis toalha e álcool em gel para higienização imediata, caso necessário. A luz, por todo lado, é praticamente ausente.

A penumbra predomina, mas os anúncios, na cor vermelha, são bem visíveis. Um deles, na área de “pegação”, diz o seguinte: “Por favor, aqui não é local de bate papo. Não atrapalhe o clima de sedução e sexo do ambiente.” 

O proprietário mantém um marketing forte quando divulga que a casa trabalha “mudando conceitos, realizando fantasias, apimentando relações, elevando cumplicidade e autoestima”. E é isso mesmo, ele garante. A proposta não é só promover a troca de casais, mas aproximá-los com as novas experiências.

Há casos, contou, de casamentos praticamente perdidos que foram refeitos depois que os parceiros toparam a aventura. Por outro lado, há histórias de tragédias. A orientação é deixar tudo muito bem combinado.

No motel - Diferente da DooLance, a Nikkey, outra "casa" destinada a esse público, não é exatamente um clube fixo. É um grupo, mas quando há festa, a comunidade se encontra em um motel. O espaço é grande e, por isso, comporta bastante gente.

No local também há pista de dança, com direito, inclusive, a barra de pole dance para as mulheres mais desinibidas. Tem quartos reservados, a cama gigante, o sofazão que é, na verdade, o dark room, sauna e as quatro cabines aquarium: Duas que permitem e visão de fora para dentro e as outras de dentro para fora. É um recurso pensado aos observadores que sentem tesão na espiadinha.

Pole dance é outro atrativo aos casais. (Foto: Divulgação)
O sofazão. (Foto: Cleber Gellio)
A camona. (Foto: Cleber Gellio)

A Liberty, do outro lado da cidade, é a mais singela. Funciona em uma casa, em duas peças. Uma comporta o bar, decorado com CDs e busto de manequins. A outra, ao lado, é a sala escura, com sofás, onde o sexo rola solto. No fundo do quintal, perto de uma piscina, há 2 quartos comuns, para uso sem qualquer custo, e duas suítes, cujo espaço é comercializado.

Os proprietários resolveram investir no ramo há pouco tempo, em agosto do ano passado. Eles compraram uma sauna destinada ao público gay, chegou a ser "mista, como disseram, mas o movimento não agradou. Acabou virando uma pequena boate, só que não durou muito tempo e fechou. O casal resolveu, então, abrir um grupo de swing na própria casa.

Interior da boate Liberty. (Foto: Cleber Gellio)
Casa resolveu manter o espaço dentro do próprio quintal. (Foto: Cleber Gellio)

Hoje, a Liberty é, segundo eles, o primeiro clube que aceita solteiros e é, por isso, a preferida dos casais que curte o ménage ou sexo a três. As outras permitem a entrada dos desacompanhados, mas o acesso é controlado. Na Nikkey são apenas cinco por evento. Na Doolance, eles entram, mas precisam ser convidados por casais já cadastrados.

A justificativa é que os frequentadores sentem-se incomodados com os solteiros. Tem medo de encontrar conhecidos, um sobrinho, por exemplo. Já aconteceu. As regras são rígidas, mas isso se estende a todos, inclusive para os novos adeptos.

Restrições - Não é todo mundo que pode entrar nessas casas de swing. Na Nikkey, por exemplo, o casal que comanda o clube faz uma espécie de entrevista com os interessados para permitir a participação. Na DooLance, o casal precisa apresentar documentos para comprovar que mora junto.

O acesso é registrado por meio do sistema de biometria. A Liberty é a única que permite o acesso sem essa “triagem” - exceto com os solteiros - mas, geralmente, como os donos não divulgam o serviço abertamente, quem chega é convidado de um “veterano”.

Além da piscina, frequentadores tem à disposição dois quartos e duas suítes. (Foto: Cleber Gellio)

Regras - As três, no entanto, mantém a mesma política. Só permitem a entrada de maiores de 18 anos. Os interessados podem assistir a tudo sem participar. Ninguém é obrigado a nada, mas todos, sem exceção, devem seguir algumas regras básicas.

No Nikkey Club, por exemplo, elas são claras:

“Não é autorizado, em hipótese alguma, o registro de imagens da festa. [...] Deve-se adotar postura sóbria e elegante em relação aos demais participantes, onde tudo é possível e nada obrigatório”. Um sinal discreto, como desviar a mão do interessado, é o suficiente. É preciso estar preparado para o não, mesmo que ele não seja dito na cara, de forma direta.

“[...] Deve-se evitar atitudes inconvenientes que possam afetar o ambiente de eventos. Brigas, gritos e palavrões de forma alguma serão permitidos. [...] É proibido fazer o uso de qualquer tipo de drogas ou afins. [...]”.

Vale lembrar que as casas de swing promovem festas como qualquer outra boate. As diferenças é que, se quiserem, os participantes podem transar em qualquer lugar, sem se importar com os seguranças.

Cumprindo as determinações, sendo aceito e estando disposto a viver novas experiências, é só pagar.

- Nikkey – O preço médio, dependendo do evento, é de R$ 40,00 por casal;
- DooLance – R$ 50,00 (casal) e R$ 100,00 (solteiro);
- Liberty – R$ 50,00 (casal e solteiro);

Além das casas de swing, existem pelo menos quatro grupos independentes em Campo Grande. 

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