Comportamento

Casamento virou evento tão cheio de regras que tem gente querendo banir crianças

Paula Maciulevicius | 29/04/2017 07:05
Imagem feita de um menininho de 2 anos, enquanto a mãe era madrinha de casamento e usada na reportagem que fala o quanto as crianças dão graça à festa. (Foto: Arquivo/Marcus Moriyama)
Imagem feita de um menininho de 2 anos, enquanto a mãe era madrinha de casamento e usada na reportagem que fala o quanto as crianças dão graça à festa. (Foto: Arquivo/Marcus Moriyama)

A semana termina com uma polêmica nas redes sociais. De um lado, quem organiza casamentos em Campo Grande declara ser falta de educação levar crianças à cerimônia. De outro, mães que se sentiram ofendidas com o discurso. A intolerância chegou até o altar.

No Instagram, uma das cerimonialistas mais conhecidas da cidade, Patrícia Faracco, postou que a questão é cada vez mais difícil para as noivas. A intenção era de discutir como falar aos convidados que as crianças não são benvindas. 

Com uma imagem ilustrativa de três daminhas, a cerimonialista descreveu na legenda que casamento não era lugar de crianças, argumentando que horário, comida, local e música não eram adequados aos pequenos.

Postagem do Instagram, a intenção era discutir como falar aos convidados que as crianças não são benvindas.

"Nada em um casamento é adequado para crianças. É muita falta de educação levar crianças em um casamento a não ser que sejam damas e pajens ou parentes muito próximos do noivos como sobrinhos e não tenham realmente com quem ficar. CASAMENTO NÃO É FESTA INFANTIL", finalizou em letras garrafais.

Procurada pelo Lado B, Patrícia disse que não conversaria por telefone, para não aumentar a polêmica e que falaria apenas pessoalmente na próxima terça-feira. Mas frisou que trabalha com cerimonial há anos e que "adora crianças".

A questão não se baseia na opinião pessoal de Patrícia, pelo contrário. Com anos de trabalho à frente da organização de casamentos, a postagem reflete o quão incomodados os noivos estão com isso.

Padre da Paróquia São João Bosco, Aldir da Silva, de 47 anos, resumiu como "absurda" a afirmação. "É um absurdo falar que a criança não é benvinda, porque uma das propriedade do matrimônio é a procriação e na igreja, esta é uma festa de família e que toda família deve estar em torno. É uma inversão de valores se eu digo que não é lugar de criança".

Na interpretação dele, o conceito por trás de uma ideia desta é de que a criança é mal educada e vai atrapalhar. "E ela nunca atrapalha. A criança tem a sua dinamicidade e na cerimônia fica até mais atrativa. Filho não é estorvo, criança é uma benção", completa.

O contra-valor que o padre enxerga é que noivos não estão vendo que é uma vida que está em jogo. "Reflete o que eles pensam. Para a criança aprender a se comportar, a festa é um ato educativo e se eu impeço, eu estou cerceando aquela família de educar sua criança", enfatiza Aldir.

Se levar em conta um possível "incômodo" dos pequenos, o padre vai além nas comparações. "A fragilidade da criança é que ela não pode se defender. Mas então vamos tirar fotógrafos que às vezes são mal educados, vamos tirar decoradores que não sabem do espaço que o padre precisa, vamos tirar os convidados que têm celular e ficam atrapalhando as fotos. Daqui a pouco, vão tirar até os idosos, para ficarem só com aquilo que lhes satisfaz".

A repercussão nas redes sociais teve réplica. A Aldeia Materna, projeto que envolve a cultura da criação com apego e do apoio mútuo entre mães e famílias através da discussão da maternagem/paternalmente conscientes, se manifestou.

Em uma postagem, o grupo compartilhou o pensamento de que a inclusão da criança no mundo social é um ato de respeito à família. E que se não fosse para ser daminha ou pajens, não poderia ir?

Empreendedora social da Aldeia, Camila Zanetti, explica que a discussão chegou no grupo de WhatsApp e foi esmagadora a opinião das mães, que se sentiram oprimidas. "Eu já fui noiva, já preparei casamento e consigo entender as perspectivas das pessoas. Tudo o que não é visível para as pessoas é compreensível. A gente faz muita coisa sem parar para pensar na empatia, na necessidade do outro", diz.

Quando o casal se torna uma família com filhos, mas o que choca Camila é que em pleno século XXI, uma atitude desta, de exclusão, ganhe espaço. "As pessoas estão deixando de exercer a tolerância. As crianças incomodam porque são barulhentas? Por que comem docinho antes da hora? Você já perguntou para aquele casal amigo, se eles têm com quem deixar o filho deles?" questiona.

Uma possível solução seria a de perguntar, com antecedência, se os pais têm este apoio. "E dizer que não preparou nada para crianças, mas que se não tiver como, pode levar. Onde uma criança não é aceita, uma mulher não é aceita e eles são como qualquer ser humano, tem o direito de ir e vir. Agora vamos ficar todo mundo intolerante?", levanta Camila.

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