Comportamento

Cartas são penduradas em viaduto para acolher quem tenta desistir da vida

Thailla Torres | 13/09/2019 08:03
Cartas foram penduradas no viaduto da Avenida Afonso Pena com Ceará, em Campo Grande. (Foto: Thailla Torres)
Cartas foram penduradas no viaduto da Avenida Afonso Pena com Ceará, em Campo Grande. (Foto: Thailla Torres)

No vai e vem intenso de veículos da Avenida Afonso Pena, em Campo Grande, um projeto tenta salvar vidas no viaduto conhecido por muitas tentativas de suicídio. O método para isso é antigo: escrever cartas e bilhetes.

“Você é mais forte do que imagina”, “Ei, não desista! Cada minuto é uma chance a mais” e “Você não está sozinho”. As frases de inúmeras cartas e bilhetinhos estão distribuídas no Viaduto Senador Italívio Coelho, sobre a Avenida Ceará.

Os recados foram pendurados no Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, celebrado na última terça-feira (10), mas até ontem ainda havia bilhetes amarrados em fitas amarelas nas grades, informando um telefone e um perfil de rede social.

Mas apesar da intenção, o problema foi conseguir trocar uma ideia por celular. O Lado B  tentou inúmeras vezes contato no telefone anotado no bilhete, mas só ouviu sinal de desligado. Por outro lado, a resposta nas redes sociais foi imediata. “Olá, estamos aqui para te ouvir!”, foi a resposta seguida de que houve um fluxo intenso de mensagens e o grupo estaria trabalhando para normalizar os “atendimentos”.

Bilhetes trazem mensagens motivacionais, um telefone e rede social do projeto. (Foto: Thailla Torres)

A iniciativa faz parte do projeto “Help” que nasceu em São Paulo por integrantes da Força Jovem Universal, com objetivo de ouvir e amparar pessoas em situação de risco por causa da depressão, ansiedade, traumas e outros sintomas, que não tratados poder levar várias pessoas a cometer o suicídio.

O grupo criou o projeto há 10 anos e já conquistou voluntários em todas as capitais brasileiras, o que possibilitou levar cartas para muitos lugares no último dia 10. Para muitos, a iniciativa é simplória, mas quem atua na produção de cartas garante que o efeito é surpreendente. “Temos muitos relatos de pessoas que estavam prestes a se jogar e voltaram atrás. É claro que nem sempre a gente consegue mudar a vida de alguém, mas o apoio e o sentimento de acolhimento amadurecem a vontade de viver”, explica o arquiteto de software e coordenador do projeto, Cadu Souza, de 37 anos.

Ele explica que o projeto nasceu devido ao índice crescente de doenças como depressão, ansiedade e outros transtornos que deixam pessoas vulneráveis ao suicídio. As ações ocorrem o ano todo, mas são intensificadas no mês de setembro em que há inúmeras campanhas de conscientização com objetivo de alertar sobre a realidade do suicídio e suas formas de prevenção.

Hoje, felizmente, são inúmeros voluntários empenhados em levar uma palavra acolhedora, independentemente de religião ou tradição. “Até porque a depressão está em muitos lares e muitas pessoas, e nós não sabemos os fatores reais que levam essas pessoas a adoecerem. Por isso, nosso ideal é ouvir, acolher e auxiliar dentro do possível para que ela se sinta mais disposta a viver, mas nunca podemos julgar”, destaca o coordenador.

O aumento de doenças e tentativas preocupa o coordenador, principalmente com relação aos jovens. “Na era digital vemos um aumento desses índices e um déficit de amor muito grande com os jovens. Diariamente, vemos crianças e adolescentes sem apoio, sem carinho e sem atenção dos adultos. O que não se resume em proporcionar estudo e alimentação, mas ouvir e dar voz a esses jovens”.

Em Campo Grande, entre janeiro e maio deste ano, 180 crianças e jovens, de 10 a 19 anos, tentaram o suicídio, segundo os dados da Secretaria Municipal de Saúde.

Por isso, neste sábado, em todo país, uma nova ação será realizada e o coordenador informa que haverá um telefone disponível para quem quiser conversar pelo WhatsApp. “Faremos um atendimento sincronizado”, diz.

O telefone para atendimento via aplicativo a partir do fim de semana será o 4200-0034 ou pelo Instagram @help.fju

Em Campo Grande, o Grupo Amor Vida (GAV) também presta um serviço gratuito de apoio emocional a pessoas em crise através dos telefones (67) 3383-4112, (67) 99266-6560 (Claro) e (67) 99644-4141 (Vivo), todos sem identificador de chamadas.

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Cartas foram feitas à mão por voluntário. (Foto: Thailla Torres)
Os dizeres foram pendurados nesta semana. (Foto: Thailla Torres)
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