Comportamento

Beirando os 100, "vó Magóia" ainda vive na fábrica que um dia trabalhou

Em Ribas, a senhorinha ainda vive no mesmo lugar de trabalho, mas confessa já estar “cansada” – de morar lá, não do calorão

Raul Delvizio | 09/10/2020 09:50
Dona Magnólia, mais conhecida como "vó Magóia", é a matriarca da família Fogaça (Foto: Marcos Maluf)
Dona Magnólia, mais conhecida como "vó Magóia", é a matriarca da família Fogaça (Foto: Marcos Maluf)

“Quem aqui que é a cara da cidade?”, foi a pergunta que fiz às pessoas nas ruas quando cheguei ao município de Ribas do Rio Pardo, distante 100 km da Capital. A resposta foi unânime. “Procure pela Dona Magnólia Fogaça da fábrica de cerâmicas”. Buscando por tradição, o Lado B encontrou muito mais, uma história que beira centenário vivido por uma velhinha pra lá de espirituosa.

Não é porque Ribas é pequena, mas foi bem fácil encontrar a chácara onde "vó Magóia" – como é bem conhecida na cidade – ainda reside. Todo mundo sabia o trajeto. “Só atravessar a antiga estação de trem. Avistando as chaminés, siga até elas”, indicaram a nossa equipe.

Antiga fábrica de tijolos serve apenas como a chácara onde vive a senhorinha (Foto: Marcos Maluf)

Mesmo sem avisar, Dona Magnólia fez questão de levantar da poltrona mastigada pelo tempo onde assistia televisão. A senhorinha recebeu os jornalistas curiosos com um sorriso nos olhos por trás da máscara.

Já estou cansada de morar em Ribas, mas aqui continuo. Bom mesmo é só o clima”, afirmou a senhora, que inclusive tirava o calor letra. Já nós, suando naquele mormaço de 40 graus, não tínhamos todo esse feitio mesmo debaixo da sombra de árvore.

Dona Magnólia reflete: "minha vida é boa sim, [...] mesmo com a dor. Tive muito amor e festança" (Foto: Marcos Maluf)

Aos 98 anos, já passou por muita coisa nessa vida. Perdeu marido e dois filhos, mas foi junto à eles que participou na gestão da fábrica de tijolos Cerâmicas Rio Pardo – que teve as atividades cessadas em 2001. O que sobrou? Memórias, três chaminés abandonadas, o terreno amplo e a casa humilde construída. E lá é onde ainda reside com a filha Maria José.

“Tínhamos 30 funcionários, todos bem jovens, que trabalhavam e também estudavam na cidade. Os nossos tijolos foram de trem para praticamente formar a Campo Grande do início do século passado”, relembra Dona Magnólia.

Sem atividades, a fábrica recebeu os olhares curiosos do repórter fotográfico (Foto: Marcos Maluf)
Andando pelo terreno, Magnólia mostrou a parreira que cultiva nos fundos da casa (Foto: Marcos Maluf)

Segundo ela conta, sua missão sempre foi “tirar leite de pedra”. Assim como a parreira que cultiva na propriedade, Dona Magnólia ficou plantada nas terrras rio-pardenses.

“Minha vida é boa sim, claro que poderia ter sido melhor, com menos dor. Mas tive muito amor e festança. Inclusive, sempre fui muito boa na dança da catira, sabia?”, afirmou ao mesmo tempo que apontava para o quadro de fotos preso à parede na entrada da casa.

O "álbum" de recordação é cheio, preso na parede da sala de estar (Foto: Marcos Maluf)

Os vizinhos por ali são quase todos parentes. A família hoje reúne mais de 50 pessoas, que ainda moram e fazem história em Ribas. Conforme Dona Magnólia promete, ainda vai ter festão:

Após essa doença passar, vou comemorar centenário aqui na chácara. Quero agradecer a todos, à vida, aos bons anos que ainda me restam”.

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"Vó Magóia" sempre foi muito festeira. Na foto, até dançou com o ex-governador Pedrossian (Foto: Marcos Maluf)
(Foto: Marcos Maluf)
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(Foto: Marcos Maluf)
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