Comportamento

Após três "chamados", ela entrou no mosteiro contra a vontade da família

Paula Maciulevicius | 04/08/2013 07:19
Sorridente, a irmã Elisabeth de 29 anos transmite a paz de espírito de quem escolheu a reclusão e renunciou a vida longe do mosteiro. (Fotos: Cleber Gellio)
Sorridente, a irmã Elisabeth de 29 anos transmite a paz de espírito de quem escolheu a reclusão e renunciou a vida longe do mosteiro. (Fotos: Cleber Gellio)

Aos 20 anos ela deixou a família no interior do Piauí e trocou a vida lá fora por orações pela humanidade e pela igreja Católica. Quase uma década depois, a irmã Elisabeth Trindade, agora com 29 anos, mantém o sotaque nordestino e a simplicidade no falar. Contra a vontade da família ela saiu de lá para um mosteiro em Campo Grande ser monja. Apesar de sempre ter demonstrado a vocação para religiosa, ninguém, nem ela mesma, imaginou que o caminho a seguir seria o de clausura monástica.

Nas ações voltadas à solidariedade, o trabalho era de ajudar aos pobres, na linha de frente de quem lida, conversa, ouve e anda de cá para lá o tempo. Em um contato breve com uma monja que foi até o Piauí foi que ela vivenciou pela primeira vez o que seria seu futuro. "Vi também que a igreja é composta pelo lado contemplativo, meu coração sentiu, mas não dei muito valor ao chamado", recorda.

A sensação veio ao coração por três vezes, até que ela não pode mais recusar. "Vem muito forte, não tem explicação, supera a razão humana", descreve, em vão, o sentimento que para nós é inexplicável.

Se a gente mostra uma irmã, freira ou madre já acima dos 40 anos, pode-se até considerar mais aceitável. No entanto não dá pra negar, espanta sim ver uma jovem como nós, enclausurada e por vontade própria. Elisabeth conta que foi uma adolescente normal, apesar de ter sido criada dentro da igreja. "Namorei, fui à festas, mas não me preenchia. Eu só supri esse vazio quando consagrei minha vida a Deus", diz.

Entre 12 irmãs, a mais nova é Elisabeth que mesmo com a vocação desde cedo, descobriu o mosteiro já adulta e não teve dúvida de ter achado seu caminho.

Foi no modo de falar, ouvir e olhar das monjas que ela se viu e hoje quem está próximo sente a mesma paz transmitida por ela mesma. Elisabeth admite, ser monja não tinha nada de extraordinário, mas a experiência pessoal a fez enxergar tudo com outros olhos. "Muda, tudo muda, você percebe que está cada dia mais próxima da eternidade. Aqui a gente não está livre do pecado, nós somos humanos, mas eu acordo de madrugada e rezo e este é o momento mais forte de uma vida consagrada a Deus", relata.

Por dentro do mosteiro, a gente só pode chegar até a porta que dá acesso ao pátio onde ficam os dormitórios e a cozinha. Ultrapassar aquela linha é permitido apenas aos médicos. Lá dentro, seja pelo silêncio ordenado, ou pela concentração na devoção, a paz toma conta do lugar e nada se ouve além do barulho do balançar das árvores. Aliás o pátio é repleto delas.

No centro, bancos que servem de recreação nas horas vagas, pouquíssimas diga-se de passagem, e para comer vez ou outra algo fora do cardápio. Com todo respeito e muita curiosidade, o Lado B perguntou e elas responderam que sim. Irmãs também comem pizza, por exemplo.

"A gente é gente normal", brinca Elisabeth. A jovem vê os familiares a cada três anos, quando lhe é permitida viagem de férias. No entanto, como hoje em dia nada neste mundo está isolado, ela mantém contato por telefone e pela internet.

A rotina do mosteiro é puxada e começa logo cedo, com reza às 4h30 da manhã. Entre ofícios coral, que é quando elas se juntam para cantarolar salmos e orações individuais, as obrigações seguem até 6h30, com missa, depois é o café da manhã e os afazeres domésticos. O almoço é servido após a segunda leva de orações, por volta do meio-dia. Um pequeno intervalo e mais rezas que só vão terminar depois das 17h30.

O jantar é servido às 18h e o tempo posterior é para recreação, ou melhor dizendo, por o papo em dia. É que além da clausura física, elas não conversam durante o dia, só o estritamente necessário de um afazer ou outro. O dia encerra com horário para ir dormir, às 20h30.

Curiosidade de muitos, o Lado B perguntou do que elas vivem: de produção de hóstias, vestimentas religiosas e cartões de datas comemorativas. O processo para se chegar a formação num mosteiro é de cinco anos dividido em três etapas, do apostulado ao noviciado e até os votos perpétuos serem declamados. Passos, que segundo as monjas, estão sendo cada vez menos cumpridos. É que no Brasil nem religioso quer saber da estabilidade, que é o que representa a vida num mosteiro.

Entre 12 irmãs, Campo Grande vive como uma família reunida, de duas dúzias de mulheres que renunciaram à tudo, nasceram e vão morrer no mosteiro. A dedicação passa a ser maior do que aos familiares, já que a rotina se torna uma vida dedicada à 12 mulheres.

"O valor está na maneira como você faz, como olha uma coisa simples, que aos olhos de Deus é tão preciosa. Tudo isso já é um pedacinho do céu", finaliza Elisabeth.

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