Comportamento

Após 30 anos de história, mecânico baixa portas para fazer o que sempre sonhou

Resistindo há tanto tempo parece até negócio de família passado de pai para filho, mas foi tudo organizado e criado por Giovani

Danielle Valentim | 24/04/2019 07:55
Registro de Giovani no escritório da Auto Molas em 2003. (Foto: Arquivo Pessoal)
Registro de Giovani no escritório da Auto Molas em 2003. (Foto: Arquivo Pessoal)
O escritório ainda está montado, mas os trabalhos encerraram no dia 18 de abril. (Foto: Marina Pacheco)

O galpão vazio de dar eco na voz já esteve cheio de peças e molas gigantes na Avenida Manoel da Costa Lima. Após se dedicar à profissão com afinco por 30 anos, o mecânico Giovani Scanzani baixou as portas da empresa e encerrou os trabalhos com sentimento de dever cumprido. O motivo é simples, mas não é aposentadoria. Ele deixou a zona de conforto para realizar o sonho de viver do campo.

Resistindo há tanto tempo parece até negócio de família passado de pai para filho, mas foi tudo organizado e criado por Giovani. Mecânico há 30 anos, ele conta que sempre fez de tudo e que há 25, quando iniciou na suspensão de pesados, ainda estava à frente de um depósito de madeira.

“O investimento no seguimento da auto molas surgiu depois que meu pai deixou o emprego. Eu tinha um depósito de madeira que passei para ele. A área de suspensão já era um ramo bastante explorado, mas decidi arriscar. Foi por acaso. No início era só uma portinha”, conta.

Registro da Automolas em 2003, quando o endereço se fixou na Manoel da Costa Lima. (Foto: Arquivo Pessoal)
Trabalhos se encerraram na última quinta-feira, 18 de abril. (Foto: Marina Pacheco)

Nascido em Dracena, Giovani veio para Campo Grande ainda criança e aqui fixou raízes. Criando um filho praticamente sozinho, o mecânico conta que nada foi tão fácil, mas acredita que cumpriu sua missão no ramo.

“Aqui [Manoel da Costa Lima] foi o quarto endereço instalado em 2003. Não tinha praticamente nada nessa avenida só mato. Em todos esses anos enfrentei muitas dificuldades, sem dinheiro, tudo era financiado. Entre tristeza e alegria, eu fico com a alegria. Sinto que cumpri meu papel como mecânico e agora só quero alugar o prédio e me dedicar à chácara, que adquiri há um tempo. Eu sempre falo para minha esposa que sou um fazendeiro frustrado, porque não tenho fazenda”, conta sorrindo.

A auto molas já chegou a ter sete funcionários, um deles Daniel que acompanhou Giovani por 27 anos e Rubens por 20. Daniel também mudou de área e agora passará a vender garapa. Rubens ficou com os equipamentos que restavam e montou a empresa em outro endereço. “Faremos o acerto desses 20 anos e o restar ele me pagará no decorrer dos anos, este não é meu foco agora”, frisa.

Foto de Giovani na empresa nos primórdios. (Foto: Arquivo Pessoal)
Giovani e um de seus funcionários em registro. (Foto: Arquivo Pessoal)

Há 15 anos, Giovani já havia determinado um prazo para encerrar as atividades: a formatura do filho. Desde, então, já não pintava o prédio ou investia em estoque. “Hoje meu filho tem 24 anos, se formou como agrônomo e agora vai trabalhar na área. Conversei com a minha mulher e disse que não sabia quanto tempo de vida ainda tinha, mas que a partir de agora gostaria de me dedicar ao que e gosto. Um passo depois de outro”, pontua.

A carta de clientes da empresa nesses 25 anos é imensa. A prova disso é que a procura por serviços continua. Enquanto a entrevista acontecia, um cliente chegou solicitando uma peça e se deparou com a notícia do fechamento.

Giovani é muito grato a quem acreditou e se fidelizou aos serviços prestados nessas três décadas. Ele ressaltou que sem os clientes nenhuma história teria sido iniciada, desenvolvida e concluída. O mecânico admite nunca ter sido apaixonado pelo que fazia, mas garante que sempre realizou um trabalho impecável, com dedicação e profissionalismo.

“Graças aos meus clientes que sempre acreditaram. Eu sempre fiz o necessário, sempre mo que ficasse bom para os dois lados. Nunca pensei em trocar algo que não precisasse. Tenho clientes desde que eu comecei”, ressalta.

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Entre tristeza e alegria, eu fico com a alegria. Sinto que cumpri meu papel como mecânico. (Foto: Marina Pacheco)
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