Comportamento

Após 14 anos, falta de apoio público compromete Parada da Diversidade

Paula Maciulevicius | 13/07/2015 16:23
A Parada estava prevista para o dia 26 de setembro.  (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
A Parada estava prevista para o dia 26 de setembro. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

A Fundação de Cultura do Estado negou apoio para a realização da Parada da Diversidade e Cidadania LGBT e a 14ª edição do movimento corre o risco de nem acontecer. Nesta segunda-feira (13), a presidente da ATMS (Associação das Travestis e Transexuais de Mato Grosso do Sul) recebeu uma ligação dizendo que a estrutura e logística solicitada em ofício, no dia 14 de maio, não será atendida. A resposta vem dois meses depois do pedido e faltando pouco tempo para a realização do evento. A Parada estava prevista para o dia 26 de setembro. 

"Nós mandamos ofício em maio pedindo apoio para banda, som, trio elétrico, divulgação do evento, banheiro químico e as liberações das praças", descreve a presidente da ATMS, Cris Stefany. O mesmo documento foi protocolado tanto da Fundação do Estado, quanto na Prefeitura Municipal de Campo Grande.

"Hoje a pessoa ligou e disse que nada do que foi pedido eles iam poder ajudar. Na Prefeitura, a gente também não consegue diálogo com ninguém. Faz mais de dois meses que tento marcar reunião", relata Cris.

Parada inclui parcerias com organizações que lutam pelo reconhecimento de direitos LGBT e envolve também a participação da população. (Foto: Arquivo)

A Parada Gay é realizada há 14 anos e inclui, além da passeata pelas ruas, ações educativas e já chegou até a ter uma semana de programação incluindo palestras, com apoio do Governo Federal e a juntar mais de 30 mil pessoas nas ruas. Agora, mais enxuta, nem resumida a uma única data, pode não acontecer.

"Acredito que nós estamos vivendo um momento onde no fim do túnel não tem luz. A governabilidade está extremamente voltada para o fundamentalismo religioso e não para questão sociais. O Governo sempre colaborou, a Prefeitura, ano passado também sob pressão, mas colaborou", compara Cris.

Realizado pela ATMS a Parada inclui parcerias com outras organizações que lutam pelo reconhecimento de direitos LGBT e envolve também a participação da população. "Sempre tivemos apoio de outras instituições, das associações de mulheres do bairro, da causa negra, do combate ao HIV, entre outras. A gente faz teste rápido da HIV, hepatite. Tem todo um trabalho social, entrega de preservativo durante o evento até o momento da caminhada", reforça Cris.

Participante da Parada, a Rede Apolo (Rede de Homens Gays e Bissexuais de Mato Grosso do Sul), vê na resposta do Governo, a importância dada ao movimento. "A cada dia que passa eles vão tentando invisibilizar as nossas pautas e as nossas políticas públicas. Eles não têm verba mesmo, sabemos que a Prefeitura está numa situação bem pior, ainda mais tendo na direção um pastor, que além de tudo é fundamentalista, mas todos os LGBT's, nós não podemos nos calar. Devemos ir para a rua com faixa, bandeira, emsmo sem som, nossa luta é humanizada e muito maior", ressalta o presidente da Rede, David Andrade.

Eles mesmos passaram isso na pele. Faltando três semanas para a realização da Segunda Semana Cultural Apolo, no final do mês de junho, também veio a notícia de que o que eles haviam acordado de ceder à programação, não seria viável. "Três semanas antes, a Fundação disse que tudo que era terceirizado não poderia ser mantido, que eles não poderiam mais pagar som, iluminação, seguranças", conta David.

Resposta - O Secretário de Cultura do Estado, Athayde Nery, explica que embora o Governo tenha sempre ajudado, a Parada não depende do poder público. "A gente passa por um período de dificuldades mesmo, a gente está dizendo que não tem jeito de manter a estrutura que se estabeleceu, mas vamos manter um processo de diálogo", sustenta.

Athayde ainda argumenta que tem falado "não" para vários eventos do Estado. "Temos prioridades e vamos definir, como a inclusão da cultura nos municípios, a questão dos dois festivais, mas não vamos deixar de apoiar totalmente. Estamos em julho, é só em setembro", completa o secretário.

Ao Lado B, a Fundação de Cultura afirma que os gastos podem ser divididos entre Prefeitura e iniciativa privada. "Vamos conversar, dialogar, temos que fazer dentro daquilo que a gente pode", resume. Já a Prefeitura respondeu que tem ciência do pedido da ATMS e que está analisando. A resposta, segundo a assessoria de imprensa da Prefeitura deve ser nos próximos dias.

A presidente da Associação disse que não vai desistir de realizar a Parada. Pela experiência dos anos anteriores, até já houveram entraves, mas nada que chegasse tão perto, como agora, de não haver a Parada. "Vamos procurar parceiros, apoio e acionar o Ministério Público. Eles gastam milhões em marchas para Jesus", finaliza Cris.

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