Comportamento

Aos 18 anos, ela "treina" para se transformar em uma boneca humana perfeita

Ângela Kempfer | 01/02/2015 07:23
Carol com grandes lentes rosadas. (Reprodução Facebook)
Carol com grandes lentes rosadas. (Reprodução Facebook)

Carol ainda está no caminho, mas é uma aluna aplicada. Na internet, vai buscando referências para um dia ser a boneca perfeita, como a ucraniana Valéria Lukyanova, conhecida como "Barbie Humana" e recordista em operações plásticas, o que inclui até remoção de costelas. Por aqui, Carol não pensa em ir tão longe, diz que apenas afinaria o nariz para incorporar melhor a personagem japonesa de grandes olhos, com boca e nariz pequenos. "Acho meu nariz grande, atrapalha na hora das fotos", explica.

Confesso que é um desafio diário não meter pitaco na vida alheia de outras pessoas ou ficar questionando as escolhas de terceiros. Por isso decidi entender o que leva garotos e garotas a investir nesse tipo de mudança, que vira até estilo de vida.

A entrevistada é uma "fofa". Meiga, atenciosa e de saída soluciona minha maior dúvida. "Com o human doll, eu consigo ser a pessoa que sempre quis ser, diferente do padrão. Sou mais feliz com maquiagem do que sem. Depois que comecei com a caracterização, fiquei mais próxima de outras pessoas. Fiz muito mais amigos", explica.

O gosto começou com cosplay, as fantasias inspiradas em animes. São tantos os tutoriais sobre o assunto, que logo ela passou a praticar e hoje acha que está "quase perfeita". Carol diz que recorre à personagem quando algum evento é marcado pela turma que curte cosplay ou quando está "inspirada" para tirar fotografia.

No bairro Jóquei Clube, uma das felicidades da universitária de 18 anos é encontrar o carteiro. Demora meses para receber da China as lentes coloridas, muito maiores que as normais, e item fundamental para a transformação. A família inteira ajuda com dinheiro, para a realização da menina de cabelos castanhos encaracolados que, graças as perucas, brinca de ser loira, morena, ruiva...

Nos últimos dois anos, reuniu 8 mil seguidores em página no Facebook, criou canal no Youtube e periodicamente organiza "duelos" via internet para a escolha das melhores caracterizações, envolvendo candidatas de todo País. Agora, por exemplo, pede a ajuda aos amigos para ganhar concurso de Miss Gothic, um estilo mais pesado de human doll.

A menina, até os 16 anos bem mais tímida, agora é estudante de Publicidade e tem um quarto cheio de posters de filmes, animações e bandas coreanas e japonesas. O guarda-roupas ganhou também as cores vibrantes das roupas das bonecas asiáticas, confeccionadas por uma costureira aqui da cidade.

Na lista de itens para a transformação, coleciona 5 lentes de contato (rosa, azul, vermelha, verde
e castanho escuro), além de 4 perucas (loira, castanho curto, loira mesclada com marrom, preta com Maria Chiquinha). "Pago entre 20 e 30 dólares pelas perucas, mas cheguei a esperar até 71 dias para receber a encomenda", lembra.

No início, quando os amigos da escola viram as primeiras fantasias, a reação não foi das mais saudáveis. "Muitos achavam estranho, faziam brincadeira de mau gosto e até xingaram na internet", conta.

Mas, para ser diferente, Carol resiste firme. "Agora tenho muitos amigos que gostam e respeitam", comemora.

Como não há muitas como ela em Campo Grande, a estudante passou a incentivar as amigas e algumas estão começando a treinar a maquiagem e os trejeitos necessários a uma anime doll. Até a irmã menor, de apenas 11 anos, já se arrisca pela curiosidade. "Já peguei ela experimentando minhas lentes, escondida", comenta.

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