Comportamento

Antônio nunca frequentou a escola, mas soube educar e deixar toda sabedoria

Thailla Torres | 02/04/2017 07:15
O pai, avô, amigo e militante deixou mensagem de amor e respeito ao próximo na família. (Foto: Arquivo Pessoal)
O pai, avô, amigo e militante deixou mensagem de amor e respeito ao próximo na família. (Foto: Arquivo Pessoal)

Antônio era na verdade o irmão mais velho, mas deixou na família uma saudade como se fosse o pai de todos. Após sete meses de internação, a luta contra uma infecção hospitalar interrompeu a vida do homem espanhol, que nunca colocou os pés em uma escola, mas soube educar como ninguém, deixando toda prova de sabedoria.

Antônio Mendonça Conde partiu aos 93 anos. Os últimos dias de vida foram sofridos, mas família não consegue conter a emoção ao lembrar do sorriso que era sua maior característica. "Um homem com humor que eu nunca vi igual. A vida não era fácil e nunca foi, mas ele sempre esteve sorrindo", conta a filha Aparecida Ferre Conde, de 56 anos. 

Antônio era o filho mais velho de sete irmãos, que nasceram do segundo casamento do pai. Mas no total a família contabilizou 26 irmãos, desde o primeiro casamento. Os pais se conheceram na Espanha, onde Antônio nasceu em 1924.

Manoel, irmão caçula, carrega lembranças de um irmão guerreiro. (Foto: Alcides Neto)

Ele veio com os pais para o Brasil ainda na infância. Além do frio, a busca por uma vida melhor foi o que motivou a viagem. "O café brasileiro chamava muita atenção na época para quem queria trabalhar", lembra o irmão caçula, Manoel Conde Filho, de 71 anos. 

Antônio começou a trabalhar cedo na roça e mesmo sem nunca ter ido a escola, foi um autodidata. "Aprendeu a ler e escrever sozinho. Era um homem que interagia com qualquer pessoa. Eu me lembro que as vezes fazia palavra cruzada e ele de longe gritava a resposta certa. A gente admirava muito ele por conta disso". 

Batalhador, Antônio carrega uma história de luta quando entrou para o Partido Comunista. Foi ele quem fundou o primeiro Sindicato Rural do Paraná em 1950 e foi vereador em Mandaguari, no interior do Paraná.

"No período da Ditadura chegou a ser preso. Ele nunca revelou para gente o que exatamente aconteceu naqueles 15 anos, mas sabemos que não foi nada fácil. Mesmo assim ele sempre procurou falar só das coisas boas", conta a filha.

Antônio foi um homem político dentro e fora do ambiente familiar. Para os filhos, sempre foi um divisor de águas em todos os momentos. "Era ele que apaziguava os ânimos. Com meu pai era na base do diálogo, como se fosse um discurso político mesmo, ele tinha esse dom", se orgulha Aparecida.

Aparecida, uma das filhas, não consegue esquecer o sorriso. (Foto: Alcides Neto)

Depois de largar a política, se mudou para Mato Grosso do Sul, longe do frio. "Ele sempre odiou o frio, esse foi um dos motivos que fez ele largar o Paraná. Aqui levava um vida tranquila, morou em Terenos e quando ficou doente acabou vindo para Campo Grande", conta Aparecida. 

Uma queda  levou Antônio ao hospital. "Ele precisou ficar internado depois de quebrar o fêmur e depois teve infecção hospitalar. Mas infelizmente no fim da vida, ele já não falava e nem escutava", lamenta.

O pai, irmão, avô e confidente da família deixou um lema de perseverança. "Ele sempre dizia 'a gente tem que brincar minha filha' como forma de incentivo para tudo nessa vida. Ele foi a origem da nossa família e deixou a mensagem certa. Ninguém precisa mudar nada daqui em diante, só recordar tudo que ele nos ensinou", acredita.

 

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