Comportamento

Amigos tentam identificar morador de rua para que não vire indigente

Ângela Kempfer | 09/05/2016 16:55
"Sandro" foi fotografado em 2014 pelo Lado B.
"Sandro" foi fotografado em 2014 pelo Lado B.

A tarefa parece inglória, mesmo assim, gente que por muito tempo viu o “Mudinho” perambulando pela Avenida Mato Grosso tenta uma identificação para que o homem que virou personagem do cotidiano não seja enterrado como indigente.

Dono de muitos apelidos e nenhum nome oficial, o homem de sorriso frequente morreu com pneumonia na semana passada, depois dos dias de frio na virada do mês. O corpo ainda está no IMOL (Instituto Médico e Odontológico Legal) porque há muito tempo ele não carregava documentos.

Segundo a prefeitura, foram muitas as tentativas de socorro. No dia 27 de abril, foi levado ao Cetremi (Centro de Triagem e Encaminhamento do Migrante) para dormir, mas depois acabou deixando o local.

Em 1º de maio, no período noturno, outra vez as assistentes sociais o encontraram e ele voltou ao Cetremi, já doente. No dia seguinte, foi encaminhado ao CRS (Centro Regional de Saúde) do bairro Tiradentes, com quadro de pneumonia e tuberculose. Não resistiu e morreu no dia 5 de maio.

“Sandro”, como costumava se identificar, não falava, mas escutava muito bem. Em janeiro de 2014, o Lado B conversou com ele no ponto que praticamente lhe servia de endereço, a fachada do restaurante Manura.

Cheio de equipamentos eletrônicos que recolhia pelo lixo ou ganhava dos amigos, ele chamava a atenção pela vontade de dominar a tecnologia. Ficava horas mexendo em aparelhos e algumas carcaças.

Antes dos computadores serem algo fácil, Sandro já era conhecido como fiel frequentador de uma lan house na Antônio Maria Coelho. Ajudava tanta gente a dominar os jogos, que ficou querido no lugar.

Apesar de todos os estigmas de um morador de rua, quem o conhecia diz que Sandro não consumia bebida alcoólica, “Só Fanta e suco de laranja”. Para se alimentar, apesar de muitas doações, um ovo cozido estava de bom tamanho.

Agora, sem passado ou RG, ficou a homenagem de tantas pessoas que passaram pela vida do Mudinho, como o fotógrafo Roberto Higa, que tantas vezes o fotografou na Mato Grosso. “Era um humano do bem...Por aqui vamos continuar com a nossa peregrinação, Na esperança de que, se um dia gente se cruzar de novo, Eu possa voltar a fotografá-lo em uma situação diferente”.

Para quem quiser ajudar, informações devem ser repassadas à Assistência Social da prefeitura, pelo telefone 3314-4450. Pela legislação, um corpo permanece por 90 dias no IMOL, a espera de identificação. Caso isso não ocorra, é sepultado como ignorado ou "não reclamado".

 

 

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