Comportamento

“Advogado do Diabo” transformou cidade em cena de filme

Acusado de matar milionária, Leopoldo Heitor fugiu para Miranda e foi reconhecido até por ex-aluno

Por Aletheya Alves | 09/03/2024 07:55
Leopoldo estampando as páginas da revista O Cruzeiro. (Foto: Arquivo/TJMS)
Leopoldo estampando as páginas da revista O Cruzeiro. (Foto: Arquivo/TJMS)

Em 1962, Leopoldo Heitor de Andrade Mendes, conhecido como “Advogado do Diabo”, deixou o Rio de Janeiro e fugiu para Mato Grosso do Sul após ser acusado de assassinar uma milionária. Estampando os noticiários brasileiros, o homem foi  localizado em Miranda ao comprar chapéus infantis e ser reconhecido pelo juiz da cidade, que havia sido seu aluno na faculdade.

Segundo os registros do TJMS, Dana foi casada com o diplomata brasileiro Manuel de Teffé e contratou Leopoldo para ser responsável pelas suas finanças. Um detalhe divulgado pela mídia da época é que, supostamente, eles se relacionavam amorosamente. 

Outra característica importante é que o advogado já era famoso e havia recebido o apelido de “advogado do diabo” por apresentar uma testemunha e condenar Alberto Bandeira em um caso do Rio de Janeiro conhecido como  “crime da rua Sacopã”. 

A história envolvendo Dana é que no dia 29 de junho de 1961, a milionária iria viajar entre o Rio de Janeiro e São Paulo com Leopoldo, mas nunca mais foi vista. Assim, o advogado foi acusado de assassinato e ocultação de cadáver. 

Sem encontrar o corpo da mulher, o caso ficou sem solução e Leopoldo começou a estampar todos os noticiários. Apenas dez meses depois é que foi preso, mas em 4 de outubro de 1962 conseguiu fugir do Estado Maior da Polícia Militar no Rio de Janeiro e foi parar em Miranda. 

Registro do hotel em que o fugitivo estava hospedado. (Foto: Arquivo/TJMS)

“Naquela época, Miranda era uma cidade do interior de Mato Grosso, pequena e tranquila, e a prisão de tão célebre fugitivo agitou a sociedade local”. descreve o TJMS. E tudo começou quando o advogado resolveu comprar dois chapéus para crianças. 

O comerciante Walter Menezes era leitor da Revista O Cruzeiro, que havia divulgado sobre a fuga, e reconheceu Leopoldo graças às fotos. “Consultando a revista, confirmou suas suspeitas quanto à identidade do suposto assassino de Dana de Teffé e o denunciou às autoridades locais”. 

Durante aquele período, quem respondia pela comarca era o juiz Leão Neto de Carmo e pediu que o delegado prendesse o fugitivo, que estava hospedado no Hotel Roma. O caso fica ainda mais curioso porque o juiz havia sido aluno do assassino na faculdade de Direito no Rio de Janeiro, conforme o TJMS. 

Ao notar que foi reconhecido e vendo a chegada da polícia, o homem se escondeu com a mulher e seus dois filhos. “Estava armado com uma carabina (calibre 44), um revólver 38 e uma pistola automática - todas com muita munição. O Hotel Roma tornou-se então cenário de filme, com a polícia insistindo na rendição do fugitivo e este disposto a resistir”. 

De acordo com o TJMS, jornalistas de várias partes do país foram até Miranda para acompanhar a captura do fugitivo que estava em alta. E, após se render, ficou preso no hotel sendo vigiado pela polícia. 

A ideia de Leopoldo era usar um mapa rodoviário do Brasil que mostrava uma estrada ligando Aquidauana a Corumbá, mas a estrada nunca existiu. Por isso, o prisioneiro ainda ‘culpou’ o então presidente Jânio Quadros pelo seu fracasso, “Jânio teria mandado incluir tal estrada nos mapas brasileiros como obra de sua gestão”. 

Após toda a situação, ele foi levado de volta para o Rio de Janeiro e, entre 1936 e 1971, enfrentou quatro julgamentos, sendo condenado a quase 50 anos de prisão no primeiro, mas absolvido nos seguintes. 

Nove anos depois de ser preso, ele conseguiu a liberdade com o crime prescrito, voltou a advogar, mas morreu em 2001 de infarto. 

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