Comportamento

A concha que veio da praia onde o pai faleceu foi o último presente de Olímpio

Há menos de um ano, Júlia Ferraro perdeu, inesperadamente, seu melhor amigo

Thaís Pimenta | 27/06/2018 08:35
Do exemplo de pessoa, de caráter e de bondade, Júlia segue sua vida sem se esquecer do paizão, o  melhor amigo. (Foto: Acervo Pessoal)
Do exemplo de pessoa, de caráter e de bondade, Júlia segue sua vida sem se esquecer do paizão, o melhor amigo. (Foto: Acervo Pessoal)

Há menos de um ano, exatamente no dia 27 de novembro de 2017, a médica veterinária Júlia Ferraro Teixeira, de 24 anos, teve que enfrentar a perda mais dolorosa de sua vida. Ao dar adeus para seu pai, Olimpio Carlos Teixeira, que ia para mais uma viagem, curtir uma praia em Natal, ela não imaginava - e na verdade, ninguém nunca espera - que aquela despedida seria eterna. Olimpio veio a falecer depois de um afogamento, na praia de Pirambu, em Tibau do Sul.

Um dia antes a filha havia pedido um presente para o pai. Uma lembrança sem valor econômico, mas que carregasse valor emocional: uma concha, para representar toda a beleza do local. Mais uma vez, Júlia não poderia prever que aquele era o último presente que receberia de seu pai. Por isso, essa simples conchinha ganhou um significado tremendo e hoje está dentro de um quadro, pendurado na casa de Júlia. "Eu passo horas e horas olhando para ela, todos os dias".

A concha hoje é quase como uma altar, que conecta os dois. (foto: Acervo Pessoal)

Poderíamos dizer que o que ficou do paizão depois de sua partida foi o presente, mas só quem é filho de uma pessoa especial consegue reconhecer o quão dentro de nós veio de dentro deles. 

Enquanto enfrenta a parte mais cruel do luto, que é se dar conta de que a vida não pára só pra podermos sentirmos nossas próprias dores e saudades, ela reflete sobre a parte de Olimpio que permanece viva em Julia.

"Penso que as pessoas mais reconhecem dele em mim é essa mesma determinação, foco e entusiasmo em aprender e realizar grandes feitos. Aprendi desde pequena a assumir grandes responsabilidades e compromissos. O que hoje tem me ajudado muito. Sempre fui ensinada a estudar sempre e enfrentar os desafios que surgiam no meu dia a dia com a cabeça erguida".

Na memória, as palavras que mais reverberam na mente da filha eram ditas por ele: "vamu que vamu". "Meu pai sempre dizia isso pra mim. Sempre querendo me animar a seguir em frente e continuar firme, não me deixando cair ou desanimar. São essas palavras que hoje me sustentam e me levam adiante, rumo a um futuro que o honre e que me também me faça feliz".

Lembranças das viagens hoje são fotos que trazem a saudade do sorriso do pai. (foto: Acervo Pessoal)

Nos momentos de folga, os dois aproveitavam para estar juntos e gostavam de viajar, não importando o destino escolhido. As fotos mostram a felicidade estampada no rosto de Júlia e do pai, quando finalmente conseguiam um tempo para fugir da vida real. "Nós não tínhamos um destino preferido. Quando conseguíamos uma folga juntos íamos para algum lugar.. mas nos últimos tempos não viajávamos tanto, faculdade e trabalho me apertaram, não conseguia tirar um tempo pra ir".

O sorriso lindo do pai é uma das imagens que Júlia mais sente falta de admirar. Mas por tanto amor no peito, ela escolheu não tirar do seu rosto o sorriso preferido de Olimpio.

(Foto: Guilherme Molento)

Corajosa, ela tenta lidar com a saudade de forma prática e até hoje não sabe explicar de onde vem sua força. "Não me sobra muito tempo para viver o luto, como achei que qualquer filha que perde o pai de maneira inesperada viveria, como seria justo.Temos que lidar com as questães burocráticas e emocionais de maneira serena e madura. Ainda estou em busca disso vivendo um dia após o outro".

No coração da filha, o que fica marcado é a bondade, caráter e amizade construída ao longo desses 24 anos com o cara mais especial do mundo. Um exemplo de pai, Júlia teve o privilégio de conviver com um homem inspirador, que "embora muito ocupado, era muito presente, atencioso e preocupado com o meu futuro", como lembra.

"Ele era tudo pra mim, era meu chão, meu porto seguro. Nos momentos de dúvida e cansaço, até hoje, ele é meu norte para tudo", finaliza a filha.

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