Artes

Quais as chances da nossa indiazinha ir representar o Brasil no Oscar?

Elverson Cardozo | 26/04/2015 07:12
Kariane, a indiazinha protagonista do curta "Cordilheira de Amora II". (Foto: Divulgação)
Kariane, a indiazinha protagonista do curta "Cordilheira de Amora II". (Foto: Divulgação)

“Cordilheira de Amora II”, um curta-metragem gravado com celular e uma handCam, na Aldeia de Amambai, no interior de Mato Grosso do Sul, conquistou os jurados do “É Tudo Verdade – 20º Festival Internacional de Documentários”, principal evento dedicado à cultura do documentário na América Latina. O trabalho ganhou três prêmios e, agora, pode representar o Brasil no Oscar, com a história de uma índiazinha guarani kaiowa, Kariane Martines, que cria um mundo encantado no quintal da própria casa.

As chances são grandes, aponta o produtor Airton Raes, que integra a diretoria do colegiado audiovisual de Campo Grande. “Os filmes feitos aqui cada vez mais têm participado de festivais nacionais e internacionais”, comenta, ao dizer que este, em especial, ajuda a divulgar a realidade dos índios Guarani-Kaiowa para o resto do mundo. “Isto é uma vantagem ao ser analisado pela academia”, afirma.

A premiação, na avaliação de Airton, “é reflexo do cenário cinematográfico efervescente de Mato Grosso do Sul, baseado na diversidade e em personagens do dia-a-dia que revelam histórias extraordinárias”. Um exemplo, emenda, de que os filmes feitos no Estado competem em pé de igualdade com qualquer produção do Brasil e no mundo”.

A cineasta que assina o trabalho, Jamille Fortunato, está surpresa. “Nunca imaginei. Eu nem iria me inscrever. Uma amiga praticamente me obrigou. Ainda estou me perguntando: é tudo verdade mesmo?”, diz, brincando com o trocadilho.

"Cordilheira de Amora II" foi eleito o melhor curta nacional pelo júri oficial e pela Associação Brasileira de Documentaristas e Curta-Metragistas. Também recebeu o prêmio Mistika, de melhor documentário em curta-metragem.

Jamille recebendo a premiação. (Foto: Divulgação)

O júri internacional foi formado pela cineasta e crítica francesa Laetitia Mikles, pelo documentarista chileno Cristián Leighton e pelo curador americano Thom Powers. O júri nacional contou com a cineasta Carla Gallo, o curador Fabiano Canosa e o cineasta e diretor de fotografia Lauro Escorel.

Pela primeira vez na história do evento, o vencedor da Competição Nacional de Curtas-Metragens e o da Competição Internacional de Curtas-Metragens estão automaticamente qualificados para exame pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood visando uma vaga na disputa do Oscar de melhor curta documental.

Isso significa que o filme de Jamille pode, como já foi dito, representar o Brasil na maior e mais importante premiação do cinema a nível mundial. Ainda “processando a informação”, a cineasta destaca os pontos positivos do trabalho que, acredita, pode impressionar os jurados.

“Acho que esse filme não representa somente o Brasil, mas as pessoas em primeiro lugar porque elas se identificam com as brincadeiras de Kariane. E o brincar é a linguagem universal do ser humano. Têm, obviamente, a questão indígena. A personagem é forte”, declara.

A outra vantagem ultrapassa a questão estética. “Não é tecnicamente perfeito, mas priorizamos o conteúdo. Acho que não se destacou porque foi feito com o celular, até porque algumas pessoas só sabem disso porque falei", argumenta.

E isso tudo só foi possível, completa, graças a um trabalho em equipe e ao contato proporcionado pelo projeto “Memórias do Futuro”, feito em parceria com Alexandre Basso e Lia Mattos, que levou a oficina de vídeo à aldeia. “Houve um investimento anterior em relacionamento. Eu só entrei naquela casa, encontrei aquele quintal e conheci Kariane por conta disso”, diz.

A gravação - Jamil registrou o mundo encantado de Kariane há dois anos, quando a menina tinha apenas 9 anos. Hoje ela tem 12. Na época da gravação, a cineasta frequentava a comunidade para ensinar os moradores, entre outras coisas, a fazer cinema com o celular.

Primeiro ela conheceu a irmã de Kariane, que era uma das participantes do projeto. Por intermédio dela é que foi apresentada à garota. A oportunidade de gravar um filme surgiu por acaso. Foi no “susto”, depois de um almoço junto com a família da índiazinha.

Na hora de ir embora, Jamil viu no fundo da casa alguns tijolinhos entre bananeiras e perguntou à mãe da menina o que era. Ouviu que era lixo que a filha juntava para brincar. Para Kariane, no entanto, era mais que lixo. Era a “casa própria”, o lugar onde ela dava asas à imaginação, chamando o entulho de shopping, por exemplo.

Para assistir o teaser do curta, clique aqui

Ficha Técnica:

Direção e Montagem: Jamille Fortunato

Imagens: Alexandre Basso e Jamille Fortunato

Direção de Produção: Lia Mattos e Alexandre Basso

Finalização: Caetano Travassos

COM: Cariane Martines e Clebisson Domingues

Produtora: Espaço Imaginário e Tenda dos Milagres

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