Artes

Produzido aqui, filme "Crime Barato" quer falar com pais de homossexuais

Crime Barato é sobre pessoas que precisam se reapresentar ao mundo todos os dias para serem vistas como realmente são.

Kimberly Teodoro | 12/09/2018 08:19
Cena do filme em que Lizandra atua como uma manicure que saiu da prostituição (Foto: Divulgação)
Cena do filme em que Lizandra atua como uma manicure que saiu da prostituição (Foto: Divulgação)

O longa-metragem "Crime Barato", do diretor Mhiguel Horta, quer ir além de um roteiro sobre o universo LGBT ou de personagens estereotipados com trejeitos e falas engraçadas. O filme pretende romper com o histórico de usar a experiência das minorias, sem de fato incluí-las no processo, como é o caso de muitos papéis de transsexuais interpretados por atores héterossexuais cisgêneros.

Aí está a representatividade do filme, todos os atores em papéis principais são da comunidade LGBT, como é o caso dos papéis de Lizandra, mulher trans, e Carlos Eduardo homem trans. 

No papel de uma manicure que saiu da prostituição, Lizandra diz que existem realidades diferentes dentro do mesmo universo e que mesmo não vivendo exatamente a mesma situação na vida real, se sente ligada a situação da personagem pelo preconeito. Para ela a importância de ser escolhida para um papel de mulher transsexual é justamente  abrir os olhos da sociedade para que as pessoas enxerguem que transsexuais são como qualquer outra pessoa, atuam, dançam, cantam e são artistas tão completos quanto qualquer outro e estão aptos a assumir o protagonismo da própria história.

 

 

Cartaz do filme Crime Barato, estreia quinta-feira (13) no Museu da Imagem e do Som (Foto: Divulgação)

Carlos Eduardo interpreta um dono de uma boate, galanteador e de mesmo nome. A missão do personagem que com a mesma identidade de gênero é falar das dificuldades nos relacionamentos que esse grupo enfrenta. Na cena ele dá em cima de uma mulher cisgênero, que rejeita o pretendente por ser transsexual.

Apesar de tímido na vida real, o verdadeiro Carlos Eduardo não encara o papel como um desafio, já que para ele um desafio é uma coisa difícil falar de problemas reais na vida amorosa de homens trans foi natural.

"Conversamos muito antes do Mhiguel criar a cena, tive liberdade para falar sobre o assunto e opinar. Ele perguntou sobre a minha vivência, qual era o maior problema, questões de saúde, preconceito, dificuldades e relacionamento. Como a base do filme são os relacionamentos, ele usou os relatos para seguir por essa vertente", explica Carlos que só aceitou participar do filme por acreditar na credibilidade do projeto e na visibilidade para as situações vividas por pessoas trans que virá com a repercussão do filme.

"Acredito que será um filme muito criticado, mas é uma vivência real. Não é porque um trans, um travesti prefere ir para rua, não. Muitas vezes são pessoas que não são contratadas e não têm espaço no mercado de trabalho, a única coisa que sobra é trabalhar como garoto de programa, então é pesado", adianta Carlos.

Carlos Eduardo interpreta um dono de boate galanteador que leva o mesmo nome. (Foto: Divulgação)

O cineasta revela que a construção do roteiro, muitas vezes é acompanhada do rosto das pessoas que darão vida aos personagens. No caso dele, escolher o elenco também foi natural, e pessoas reais apenas ocuparam seu devido espaço

"Meu filme só quer dizer respeito, é sobre mostrar para as pessoas o quanto elas podem aceitar e ter um ganho com isso. Indico meu filme principalmente para pais com filhos homossexuais e que não conseguem lidar com essa situação", explica.

Por que ainda é importante falar disso? "Porque essa questão LGBT, vem passando por transformações no mundo inteiro. Há quem comemore e diga que já se conquistou tudo, mas não é verdade, há muito preconceito atrelado, o que eu procuro mostrar é que esse é um assunto que não pode ser esquecido", diz.

Crime Barato é sobre pessoas que precisam se reapresentar ao mundo todos os dias para serem vistas como realmente são. Os protagonistas são interpretados pelos atores João Pedro Xavier, na pele de Michael, e Diogo Adriani que interpreta Elias, um casal que ao longo da trama vê os conflitos pessoais interferirem no relacionamento, falando também das relações familiares, amigos e cotidiano. Tudo pensado para trazer luz ao tema, que em 2018 ainda precisa de discussão e representatividade. 

João Xavier diz que produção lança um olhar mais cuidadoso em relação sobre a temática, que além de assuntos LGBT também fala sobre drogas e prostituição, com ênfase na questão de não ser um mundo do qual se escolhe fazer parte. Apesar de não tratar tão profundamente de todas as questões, o filme tenta "dar uma pincelada" da história inspiração para o filme, que é quase bibliográfica.

Atuando em filmes desde 2010, Diogo Adriani conta que é a primeira vez que trabalha em uma produção que tem a seriedade que o assunto merece, ele já participou de alguns espetáculos de teatro em 2011 com cenas fragmentadas, aquelas cenas que não seguem o padrão de início, meio e fim, o papel de pessoa prestes a trocar de sexo, mas era um personagem caricato e voltado para a comédia. 

"Tanto eu, quanto o João, tentamos esquecer qualquer tipo de padrão e esteriótipo da sociedade, mais que contar, queríamos viver essa história", relata Diogo, que também chama a atenção para o fato de que algumas cenas apesar de serem consideradas fortes, só são "impactantes" porque apesar de serem situações que acontecem, as pessoas não veem e o principal trabalho do filme é apresentar esse mundo desconhecido para quem está de fora.

Crime Barato estreia nessa quinta-feira (13), no Museu da Imagem e do Som (MIS), localizado na Avenida Fernando Corrêa da Costa, 559, 3º andar às 19h, a entrada é gratuita. 

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Personagens centrais da trama, Michael e Elias vivem relacionamento conturbado em longa metragem sul-mato-grossense (Foto: Divulgação)
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