Artes

Vinte anos depois do pedido, uma promessa paga a Manoel de Barros

Lenilde Ramos | 07/02/2016 08:30
Vinte anos depois do pedido, uma promessa paga a Manoel de Barros

Amanheci sentindo "pássaros na garganta", como diz Tetê Espindola e, com vontade de libertá-los. Preciso cantar e explico o porquê.

Vinte e dois anos atrás, em 1994, nos despedimos do amigo Luiz Eduardo de Barros, o Lula, figura doce e iluminada, médico do corpo e da alma e sobrinho de Manoel de Barros. Foi pelas mãos de Lula que nasceram meus filhos Uirá Ramos e AranyMetello e contei essa história aqui no face. O corpo de Lula foi sepultado no Rio de Janeiro.

Aqui em Campo Grande foi celebrada a missa de sétimo dia na Paróquia da Vila Célia e me pediram para cantar. Escolhi uma música inspirada na Carta de São Paulo aos Coríntios: "Ainda que eu falasse a língua dos homens, se não tivesse amor, eu nada seria".

Cantei pensando em todo o bem que Lula tinha espalhado e, ao sair, uma voz interrompeu meus passos, dizendo: "Quando eu morrer você canta para mim?". Levei um susto! Quem estava fazendo aquele pedido? Virei devagar e vi Manoel de Barros. Parei um segundo e tentei dizer alguma coisa que soasse como brincadeira, mas não consegui.

Algumas vezes voltei a cantar naquela igreja e sempre me lembrava do acontecido até que, em 2014, Manoel voou como um passarinho.

Naquele dia, deixei tudo o que estava fazendo e fui para a cerimônia de despedida. Para quem dispensava estardalhaços, o ambiente estava bem agitado, com jornalistas, fotógrafos, cinegrafistas, entrevistas, família, amigos, conversas, lembranças e abraços.

Eu queria cantar, mas me acanhei. Não tive coragem. Tentei cantar por dentro... e foi só o que consegui naquele momento. No sétimo dia de sua passagem e, no silêncio da minha casa, amanheci lembrando a música daquela vez: “Ainda que tivesse o dom da profecia, conhecesse todos os mistérios, toda a ciência e toda fé, se não tivesse amor, eu nada seria".

Vou para o computador e vejo o convite do amigo Bosco Martins para a missa de sétimo dia de Manoel, na mesma hora e na mesma igreja, vinte anos depois. Às sete da noite estava lá para pagar a promessa. Viva Manoel !

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