Artes

Sem recursos de grande palco, grupo faz espetáculo entre as sombras do Morenão

São 3 apresentações gratuitas que terminam hoje às 19h30 no Morenão

Kimberly Teodoro | 24/11/2018 08:51
Personagens sem nome e cheios de expressões deram vida a cenas e conflitos internos do ser humano (Foto: Vaca Azul)
Personagens sem nome e cheios de expressões deram vida a cenas e conflitos internos do ser humano (Foto: Vaca Azul)

Escuro e silencioso durante a noite, o Estádio Morenão foi transformado em palco para o o espetáculo "Narradores de Consciência", que estreou na quinta-feira (22) e termina neste sábado (24), às 19h30. 

Sob direção de André Tristão, os atores do Núcleo Experimental de Teatro da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) receberam o público em "casa", aproveitando a versatilidade da mesma estrutura de concreto que abriga a sala em que acontecem os ensaios, para guiar o público por uma peça feita de luzes, sombras e exclamações vindas do fundo da alma. 

Atores receberam e guiaram o público praticamente em "casa", em espetáculo feito de sombras e luz (Foto: Kimberly Teodoro)
Cores e emoções estão presentes no "cenário" feito de luzes na escuridão (Foto: Kimberly Teodoro)

Sem grandes recursos, os pilares do Morenão viraram telas e molduras para um cenário mutante, feito com luzes projetadas nas paredes sem cor, com efeitos que ficaram por conta da música e da  fumaça ampliando a sensação de imponência do estádio construído na década 1970 e que, deste então, é testemunha silenciosa do crescimento da cidade ao redor.

Pouco movimentado depois do pôr do sol, cada estrondo saído das caixas de som e da garganta dos atores, em gritos carregados de ironias, risos desesperados da vida contemporânea, reverberavam pelo esqueleto do gigante, que no escuro, parecia adormecido, instalando no subconsciente do espectador a noção do tamanho de cada um, comparado ao tamanho da construção antiga e da imensidão do céu pontuado por uma lua cheia, parte de um cenário secundário que envolve o mundo além dela.

Cada emoção ficou por conta da voz e expressão corporal dos atores, que vestiram a sobriedade do próprio estádio, usando como figurino roupas em tons pastéis, de corte reto e ares minimalistas, para refletir sobre a década de construção da estrutura, além do momento político e social da época. Cada cor usada nos refletores, tingiram as paredes com os sentimentos presentes na cena, trabalhando de maneira sútil a consciência do público e transmitindo da mais profunda tristeza em tons de azul, impotência e "pequenez" feitas de sombra e a luz branca e pálida até os instintos mais primitivos em vermelho no próprio cenário a violência, passividade, caos, loucura ou embriaguez de cada monólogo.

O abandono noturno do gigante construído na década de 1970 ganhou novos significados (Foto: Kimberly Teodoro)

Cada parte do espetáculo contém o toque dos integrantes do grupo teatral e a criação, segundo André Tristão, foi visual e fragmentada. Começou com o espaço, escolhido pela "megalomania" do diretor, que tinha a ideia de ocupar o estádio, tanto pela relação do espaço com os ensaios, quanto pelo tamanho da estrutura abandonada. O que veio depois tomou forma aos poucos, como o tema que surgiu de um texto que passou pelas mãos de André em uma leitura tão rápida que o nome e conteúdo já foram esquecidos, deixando pra trás apenas as palavras que formam o título do espetáculo. 

A narrativa em primeira pessoa é resultado de um processo feito em grupo, cada texto foi escrito pelos atores Carol Carvalho, Damir Louret Junior, Joseh Carlos Junior, Nilcieni Maciel e Raísa Raiz, entregue ao diretor e "embaralhado" para ganhar vida na voz do outro. Como tudo que é vivo, houve adaptações a medida que cada interpretação progredia até que, finalmente lapidado, a consciência que antes era apenas tinta no papel, ganhou proporções capazes de gerar identificação em qualquer ser humano. 

São 30 minutos em que a vida se movimenta pelo palco improvisado, levando o público em um circulo que começa em frente à sala de teatro e vai até a rampa de entrada para as arquibancadas vazias do estádio, onde até a tristeza das grades do portão viram moldura para o encerramento da apresentação.

Segundo o diretor, o próximo passo é levar o espetáculo pelas Universidades Federais espalhadas pelo país, reproduzindo um texto que encaixa todo o trabalho realizado pelo grupo ao longo do último ano.

Pela necessidade de mobilidade do público durante os monólogos, a entrada é gratuita, mas as vagas de cada apresentação são limitadas a 60 pessoas, a distribuição das senhas para assistir ao espetáculo começa às 19h na rampa de acesso principal ao Estádio Morenão.

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Desde o local até o figurino, o espetáculo foi inteiro desenvolvido em um trabalho conjunto dos atores e do diretor (Foto: Vaca Azul)
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