Artes

Professora que gastou todo salário em fantasia quer publicar livro da Igrejinha

Paula Maciulevicius | 04/09/2014 10:03
Em 280 páginas ainda no documento de Word ela conta desde à fundação até o maior objetivo da escola: de finalmente ter uma sede própria. (Foto: Marcelo Victor)
Em 280 páginas ainda no documento de Word ela conta desde à fundação até o maior objetivo da escola: de finalmente ter uma sede própria. (Foto: Marcelo Victor)

Apaixonada pela folia, ela tem o ritmo da bateria de escola de samba como trilha sonora da vida. Professora e historiadora, Nirce que já apanhou por causa do Carnaval quando menina e gastou todo salário em fantasia para poder desfilar na avenida agora quer passar o samba para as páginas de um livro. Aos 65 anos, a corumbaense de registro e campo-grandense de coração, Nirce Ortega de Oliveira, se dedica a conseguir publicar a história da Igrejinha.

"A Igrejinha e os Deuses do Carnaval de Campo Grande. Chamei Deuses do Carnaval pelos fundadores. Eles que fizeram o que podiam e não podiam por essa escola", conta. 

Em 280 páginas ainda no documento de Word ela conta desde à fundação até o maior objetivo da escola: de finalmente ter uma sede própria. "Eu resolvi escrever o livro quando eu vi o sacrifício destas famílias para colocar a escola na avenida", explica.

Cidinha, Jonathan Barbosa, Maria Gomes e Maria Lucia, integrantes da escola nas décadas passadas. (Foto: Reprodução/Livro)

A Igrejinha sempre reuniu famílias, gente que cresceu e hoje assume papeis. "Desde quando houve a divisão do Estado, a Igrejinha estava presente e hoje ela não tem o espaço dela. Nossas fantasias são perdidas, a gente queria organizar, ter um centro, a gente vive o Carnaval o ano todo para fazer coisa bonita na avenida e precisa que seja reconhecido", reforça.

O livro reúne seis entrevistados, fotos e lembranças da própria Nirde. O projeto começou em 2005, mas a cada ano, um novo desfile entrava na história da escola e tinha de ser registrado.

Desde os eventos aos desfiles e personalidades que marcaram a escola, tudo está catalogado primeiro em folhas sulfites, à mão, para depois ganharem vida através das teclas. "Eu escrevia à noite, quando tinha tempo, estava mais tranquila, aí as lembranças vinham", descreve.

O interesse maior é deixar documentada a história da escola e também do Carnaval daqui. "Sou apaixonada pela festa, mas o meu interesse é ainda mais pelas pessoas que fazem o Carnaval. E falam que é bebida, droga, coisa que não presta, mas não. O Carnaval é cultura", argumenta.

Nos dias de desfile do grupo de acesso, Nirde também sai na avenida. Desde que a escola em questão não ameace a do seu coração, da Igrejinha. No currículo, a professora já saiu na Gaviões da Fiel, em São Paulo e também na carioca Mangueira. "Eu trabalhava o ano todo para poder comprar, ia e voltava sem um tostão", recorda. Se isso não é paixão pelo samba, não sei o que pode ser.

Fátima, uma das que o livro relata como trabalhar como ninguém para por a escola na avenida.

"É preciso que o nosso Carnaval fique arquivado, que faça parte da história de Mato Grosso do Sul, porque ele realmente faz e você vê que quem faz está ali porque gosta".

A história está dividida entre os fundadores da igreja, a relação da escola e do trilho da Noroeste, as gestões dos presidentes, desfiles até o primeiro Rei Momo anão que a cidade já coroou.

"Este é um documento dedicado à todos os componentes anônimos da escola de samba Igrejinha", anuncia o prefácio.

Ainda na introdução, Nirde escreve que com interpretações incomparáveis de Samba Enredo, a escola demonstra assim que o Carnaval sempre foi e será uma festa de alegrias, onde ricos e pobres possam se confraternizar, porque, acima de tudo, o samba é um veiculo de inclusão de todos nós.

"A escola de samba Igrejinha tem uma história e tradição de união, companheirismo, solidariedade, coragens responsabilidade com a população do seu município. Para vencer no terreno sutil da arte de desfilar é preciso acima de tudo que exista a coragem de ousar de criar sem medo, sem preconceito possibilitando à comunidade de interagir com os processos e produtos culturais e ainda permitir que as práticas culturais do presente se manifestem".

Para ser publicado, a professora só está à espera de patrocínio, de quem queira custear o registro dos anônimos que movem o Carnaval.

Aos 65 anos, a corumbaense tem história no Carnaval. (Foto: Arquivo/Marcos Ermínio)
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