Artes

Na ponta dos pés, meninas viram bailarinas pela 1ª vez no Lageado e Dom Antônio

Paula Maciulevicius | 18/05/2014 07:45
Na ponta dos pés, meninas de 7 a 9 anos, da região do Lageado e Dom Antônio, experimentam o balé pela primeira vez. (Fotos: Marcos Ermínio)
Na ponta dos pés, meninas de 7 a 9 anos, da região do Lageado e Dom Antônio, experimentam o balé pela primeira vez. (Fotos: Marcos Ermínio)

“5,6,7,8”. A sequência anuncia que os passos já vão começar. Pliès e pés esticados tomam conta da sala. Mãos afoitas para fazer igualzinho às posições dos braços da professora. Nos bairros Lageado e Dom Antônio Barbosa, em uma das regiões mais pobres de Campo Grande, meninas têm pela primeira vez o contato com o balé clássico. O collant e a sapatilha ainda não chegaram, mas nem por isso elas deixam de dançar.

O brilho nos olhos é nítido. Moradoras de uma das regiões mais humildes da cidade, onde se falta estrutura e sobra violência, elas passaram a ter contato com as piruetas, de graça, pelo Sesc Lageado.

A realidade de quem convive com índices de criminalidades tão altos é vista ali. Elas chegam e vão embora sozinhas. Poucas têm a companhia dos pais no ir e vir, muitas nem sempre moram com eles. Em contrapartida, desenvolvem uma autonomia não vista em outras escolas de balé. Se pudessem, até a inscrição teriam feito sozinhas.

 

Raíssa e o pai Luiz. Ele, não teria condições de pagar aulas para a filha que só de ouvir música, já sai na ponta dos pés pelo quintal.

Mas a alegria de experimentar o novo dá um ar de esperança. Nos cabelos se vê o carinho e o cuidado que as meninas têm para as aulas. Coques, tiaras, cabelos presos com presilhas. Um colorido que contrasta com o que se vive lá fora.

A sala é cheia, cerca de 30 bailarinas que têm de 7 a 9 anos. Todas moram na região. O projeto de cultura, pelo qual são contempladas, começou a oferecer este ano música, dança e a teatro. Além das aulas gratuitas, é dado também todo material.

Com um sorriso contagiante, a menina Raíssa Rocha Macedo, de 7 anos, imita tudo o que a professora faz. Tímida para entrevistas, ela resume que “gosta do balé”. A mãe é dona de casa, o pai, funcionário da concessionária que administra o lixo na cidade. Em casa, são seis pessoas entre irmãos, pais e avó.

Na sala de aula, as posições dos braços imitam a professora. Os olhos brilham a cada aprendizado.
Bailarinas autônomas, elas vão e vem sozinhas. Saem da sala para as ruas sem asfalto e nem calçada.

“Com qualquer música ela sai dançando no quintal, na ponta do pé”, comenta o pai, Luiz Macedo, de 55 anos. Ele veio buscá-la por estar de férias. “Ela sempre pedia para fazer, mas ficaria difícil, não é? Teria que procurar academia, aqui não tem e agora que eu consegui comprar uma motinha”, acrescenta.

Para a professora Ana Paula Nogueira Quinhones, de 25 anos, a experiência é nova. “Eu percebo muito nas meninas que, acho que por não terem acesso em casa, elas não muito esforçadas, dedicadas. Elas vêm por prazer. Pode ser até sábado que a turma está sempre cheia”, diz.

As aulas começaram agorinha, mas já devem estar despertando o que o balé traz. “Mais disciplina, postura, elas ficam mais concentradas, porque tem que prestar atenção em tudo”, observa Ana Paula.

As aulas começaram agorinha, mas já devem estar despertando a disciplina, postura e concentração.
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