Artes

Mãe pinta paredes de escola para resgatar cultura e ensinar crianças

Pintura devolveu vida as paredes do colégio onde o filho estuda e tem proposta de valorizar a educação

Alana Portela | 24/07/2021 08:53
Eliane Cristina de Sá posando ao lado da parede que pintou. (Foto: Divulgação)
Eliane Cristina de Sá posando ao lado da parede que pintou. (Foto: Divulgação)

Na intenção de valorizar o ambiente educacional, Eliane Cristina de Sá deu vida as paredes da escola municipal Marisa Nogueira Rosa Scaff, em Aquidauana, 137 quilômetros de Campo Grande. Com pincel e tinta nas mãos, a tatuadora de 34 anos reformou a fachada do colégio onde o filho Salomão de 3 anos estuda.

“A arte foi baseada na cultura local e na natureza. Aquidauana tem tanto densidade geológica quanto cultural, na presença dos indígenas. Esses acontecimentos fizeram trabalhar em cima desse tema. A ideia é resgatar a história através da pintura lúdica e pedagógica, uma forma de valorizar o ambiente educacional e também ensinar”, explica a artista.

Eliane é acadêmica de Geografia e trabalha como tatuadora desde 2015. Leva jeito com a pintura já que desenha desde criança. “Não sou da fase tecnológica e na minha época eram atividades lúdicas e televisão. Gostava de reproduzir no papel a imagem dos filmes que assistia”, lembra.

Animais, números e natureza estampam as paredes da escola. (Foto: Divulgação)

Desde então, ela carrega em seu peito a paixão pela arte e foi esse amor pela pintura que a fez oferecer a reforma voluntária na escola quando descobriu o projeto “Voltando à Escola” nas redes sociais. “Vi um amigo participar e pensei em usar as habilidades que tenho para a pintura”.

Antes de encarar o desafio, ela já fez outros trabalhos parecidos. “Em 2018 fui convidada para pintar em uma Ong [Organização Não Governamental] e também pintou o muro da casa da minha mãe. Pintar é terapêutico e a arte ajuda na saúde mental”.

O filho de Eliane estuda na escola há pouco tempo e também pensando em seu aprendizado, a mãe foi até o colégio que fica na periferia que atende crianças de Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental, para conversar com a diretora Joelma Medeiros sobre a ideia. “A proposta é valorizar o ambiente escolar das escolas públicas com estrutura mais decadente”.

Em outra parede tem poemas de Manoel de Barros. (Foto: Divulgação)

Para ajudar a artista, o local deu as tintas enquanto os pincéis foram levados por ela e em dois meses, tudo estava pronto.

“Como aqui é muito quente, ia para a escola entre às 13h e 14h e ficava pintando até os professores encerrarem o expediente”. O local é divido em dois blocos e as novas cores tomaram conta de tudo, desde a entrada ao pátio e fundos.

As paredes que antes estavam desbotadas, agora contam com desenhos de uma ponte com bonequinhos roxos indo em direção ao sol feliz, que dá boas-vindas aos alunos na entrada na escola. Em outro local tem a imagem de uma terena com traços usados na arte indígena e até brincadeiras como amarelinha, desenhadas no chão.

Os poemas de Manoel de Barros também não ficaram de fora e dão emoção a outra parte da escola, misturada com a pintura de avião de papel, pássaros e folhas de caderno usadas em sala de aula.

Ao ver a pintura pronta, o orgulho enche o peito, principalmente do pequeno Salomão que além de ter ajudado no projeto ainda vai poder contar para todos os coleguinhas que foi a sua mãe quem pintou tudinho.

“Vinha comigo, então ajudou a pintar o que conseguia e também ficava brincando enquanto eu pintava”, lembra a mãe.

Para a diretora do colégio, a obra foi um belo presente que tornou o ambiente mais acolhedor. “Arte acolhedora, lúdica, alfabetizadora e chama atenção de quem passa por ela. Estamos na expectativa do retorno às aulas, imaginando a alegria das crianças chegando e se deparando com cores, formas, poesias, informações que já fazem parte da vida delas, agora instigará mais a curiosidade, ampliando seus conhecimentos com a ajuda de nossos professores”, agradece Joelma.

O presente também é em comemoração aos 16 anos que a escola completa no dia 13 de agosto.

Voluntária - Agora com o trabalho entregue, Eliane comenta sobre pintar outra escola da cidade. “Vai ser no colégio Cândido Mariano, que fica próximo ao centro. O trabalho faz parte do programa de residência pedagógica”, finaliza.

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Imagem de uma terena de olhos fechados resgata a cultura índígena local. (Foto: Divulgação)


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