Artes

Indústria engoliu "moagem" universitária e sertanejos sentem falta das violadas

Naiane Mesquita | 03/10/2016 06:10
Longe das violadas, Patrícia e Adriana tocam em casas de show da cidade (Foto: Rafael Duarte)
Longe das violadas, Patrícia e Adriana tocam em casas de show da cidade (Foto: Rafael Duarte)

O sertanejo universitário ainda não tinha recebido essa alcunha quando as primeiras violadas começaram a despontar na cidade. Em frente às universidades, chácaras ou casas de amigos, qualquer varanda era palco para que as primeiras duplas do novo gênero mostrassem o talento. Nesse cenário, Munhoz e Mariano conquistaram grande parte do público que os acompanha até hoje, assim como Patrícia e Adriana, Maria Cecília e Rodolfo, Victor e Vinícius e João Haroldo e Betinho.

Hoje, é o tipo de “moagem” cada vez mais rara, que faz falta para quem está começando e não tem dinheiro para investir na carreira.

Nos tempos de movimento forte, esse tipo de encontrou rendeu muita transformação. "A gente acompanhou toda essa transição. O sertanejo começou em barzinhos com Marco Aurélio e Paulo Sérgio e veio vindo toda essa leva de músicos. Depois as festas começaram a ter esse formato de violada, que era muito legal, mais informal, parecia uma festa mesmo de amigos”, explica Patrícia, da dupla Patrícia e Adriana.

Expoente de Mato Grosso do Sul, a dupla feminina começou a se apresentar em 1997 na cidade e até hoje tem agendas nas principais casas de show sertanejas, entre elas Valley e Bartholomeu. Mesmo assim, no coração de Patrícia, as violadas foram as melhores fases da música na cidade. “Você chegava para tocar com sua dupla e conseguia, fazia amizade, os músicos eram mais unidos. Hoje em dia é mais complicado. Eu não conheço todo mundo da nova geração. Dessa época, levo a amizade de João Haroldo e Betinho até hoje. Não estão mais no mercado, mas a amizade continuou”, afirma.

O empresário e músico Douglas Diniz, 52 anos, ainda tem uma dupla sertaneja com Neizinho e realiza festas que se inspiram no formato violada. Mesmo assim, acredita que nada chega aos pés daqueles anos. “De vez em quando eu faço, mas hoje está diferente, tem muita casa de show, isso encareceu tudo, principalmente os cachês. Antigamente você montava um palco na chácara, pegava um pessoal para tocar e lotava. Hoje têm que ter muita divulgação, artistas com nome ou ninguém vai”, pontua.

Douglas acredita que a indústria musical vive fases e que o sertanejo se profissionalizou nos últimos seis anos. “Eu sou do tempo que Munhoz e Mariano tocava em violadas, faziam aberturas de shows. Esse pessoal em alta hoje não tinha nome, sei lá, mudou muita coisa. Hoje tem mais casa de show e a internet. Você lança na rede a música e vi pegando. Nem casa de show revela artista, o que revela mesmo é a internet”, acredita.

A indústria musical engoliu as “moagens” universitárias. “Sertanejo virou uma indústria que dá muito dinheiro. Os artistas estão mais profissionais, hoje o cara monta uma dupla e o cachê já está em torno de R$ 4 mil. Diferente de antigamente que você jogava a viola nas costas e tocava de graça”, diz.

Adriana relembra que até 2009 as violadas eram mais populares. “Depois começaram a vir os grandes shows, festivais e as casas noturnas. Teve muito, mas muito lugar para tocar. Miça, Bodega, que hoje é a Room 01. Santa Fé, Bom D+. Hoje em dia é bem restrito. Nós temos o nosso espaço, mas tem muito artista que não tem. A gente conseguiu ficar no meio, mas com certeza era as violadas foram uma das melhores fases, tocamos bastante, divulgamos muito, ganhamos público, fizemos amigos. Hoje é muita dupla para pouco espaço”, acredita.

 

Os poucos eventos que aparecem na cidade são beneficentes. Marcada para o dia 16 de outubro, às 11 horas, na Abssms, a "1ª Violada da Marcinha" terá a presença de vários artistas do gênero, como Os Filhos de Campo Grande, Guilherme e Falcão, Patrícia e Adriana, Manutti, entre outros, em prol da realização de uma cirurgia de emergência para a produtora Márcia Louisa Rivarola, 33 anos. "Ninguém mais faz violadas na cidade, é muito difícil. Eu trabalho há oito anos com o Benno Reis e Marco Viola, por isso essa quantidade de duplas. Mas, violadas mesmo são raras", ressalta Márcia. O preço do ingresso é R$ 25,00.

 

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