Artes

Com traços feitos em grafite, José tenta chegar em lugares que nunca pisou

No portfolio, retratos, paisagens e cenários nunca visitados pelo artista, mas que preservam a riqueza dos detalhes arquitetônicos

Kimberly Teodoro | 20/06/2019 08:15
Com grafite e uma folha de papel, José cria desenhos que são quase fotografias (Foto: Reprodução redes sociais)
Com grafite e uma folha de papel, José cria desenhos que são quase fotografias (Foto: Reprodução redes sociais)

Em preto e branco, a precisão dos traços feitos em grafite por José Augusto Santana, de 23 anos, imprime imagens que, no papel que parecem fotografias. No portfolio, retratos, paisagens e cenários que o artista de Nova Andradina nunca colocou os pés, como o Big Ben, em Londres que levou exatas 398 horas para ficar pronto.

O interesse pelos desenhos vem da infância, mas por muito tempo talento permaneceu escondido pela timidez. José confessa não se interessar muito pelos estudos na época, mas foi o incentivo que recebeu da diretora da escola o responsável por fazer o desejo de seguir a vida como artista nascer. O primeiro curso de grafite foi na própria prefeitura da cidade, um presente da primeira dama, que impressionada com o trabalho, comprou também os primeiros materiais para que o menino pudesse aprimorar a técnica, daí em diante, tudo o que aprendeu foi buscando referências em livros e mais tarde na internet.

Cristo redentor e o pão de açúcar desenhados por José (Foto: Reprodução redes sociais)

“A vida só bateu o martelo” aos 14 anos, quando passou a trabalhar com o pai em um empresa de terraplanagem, com o dinheiro que ganhava durante o dia, José passou a investir no próprio sonho, comprando os lápis e papéis que usava para criar durante a noite, em seu tempo livre.

“Foi quando o meu pai percebeu que eu realmente levava a profissão a sério, ele via que às 5 horas da manhã, quando estava acordando para ir para o trabalho, eu ainda estava indo dormir depois de uma madrugada inteira desenhando e nos três anos seguintes me colocou em uma gaiola, para que eu pudesse me dedicar apenas ao desenho. Parei de trabalhar com ele e ele passou a comprar os meus materiais e sustentar a casa sozinho, investir em mim e me dar uma direção, mesmo quando eu produzia pouco, ele sempre me apoiou e cobrou os resultados”, relembra.

José Maurício, pai de José Augusto, nunca soube desenhar, mas além de maior incentivador do filho, também foi o maior crítico, com olhar treinado para enxergar as falhas. “Ele sabia encontrar o erro e eu sabia consertar. Meu pai plantou em mim, para que eu pudesse colher”.

Mesmo sem nunca ter pisado em Londres, a reprodução do Big Ben é rica em detalhes arquitetônicos (Foto: Reprodução redes sociais)

O pai partiu em dezembro de 2017, mas deixou no filho a força necessária para lutar pelos próprios sonhos. Talvez, por isso mesmo depois de perder o maior “fã” e encarar o que pareceu ser o fim de tudo, José não tenha desistido de desenhar. “Ele me ensinou que se eu quero alguma coisa, eu preciso correr atrás, nada é fácil, mas não é impossível”. Palavras que o artista nunca esqueceu e foi o que deu motivação para que montasse melhorasse o próprio portfólio e começasse a buscar na internet, meios de levar os próprios desenhos ao mundo.

Cônsul honorário da República Tcheca do Mato Grosso do Sul, Evandro Trachta e José Augusto (Foto: Reprodução Instagram)

Hoje, a conta no Instagram é a maior vitrine de José Augusto, por lá ele já conseguiu inclusive clientes ilustres, como o cônsul honorário da República Tcheca do Mato Grosso do Sul, Evandro Trachta, de quem recebeu um novo kit profissional com materiais de desenho, em agradecimento ao retrato.

Também é pela rede social que a ideia de desenhar artistas que veio do pai, se torna realidade. Para ele os retratos de pessoas famosas traria mais visibilidade ao trabalho. “Dito e feito”, personalidades brasileiras como Carlos Alberto de Nóbrega e Silvio Santos encontraram a reprodução dos próprios rostos feita pelo desenhista sul-matogrossense, que já está com viagem marcada para os estúdios do SBT para entregar pessoalmente a nova obra feita para o dono da emissora.

José não tem formação acadêmica, mas sonha em cursar Artes e ganhar a vida como artista, ter o próprio nome e trabalho reconhecidos. No caminho, são cerca de 10 horas de dedicação diária aos desenhos, tempo que ele conta já ter chego à 17 horas, quando tinha o apoio financeiro do pai. Para ele, "surrealismo e hiper realismo, vão além de técnica, são formas de retratar a realidade", um trabalho que exige amor e sinceridade e vale o empenho exigido.

Para acompanhar o trabalho de José Augusto ou fazer encomendas, siga o perfil do artista no instagram @joséaugustoartista, clicando aqui.

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