Artes

Apesar de espetáculo que resiste há décadas, maioria só vai ao teatro "obrigada"

Anny Malagolini | 22/08/2013 21:53
Dona Esmeraldina e Daniva (Foto: Cleber Gellio)
Dona Esmeraldina e Daniva (Foto: Cleber Gellio)

Na turma do “Raízes do Bolão”, todo mundo tem o sobrenome Santos. O grupo reúne descendentes do mesmo escravo e veio para mostrar em Campo Grande a cultura da comunidade quilombola que saiu do Amapá.

Apesar da riqueza que envolve o projeto Batuques e Tambores, que roda o Brasil graças ao Sesc, a estreia na noite de hoje no teatro do Prosa só ficou lotada porque alunos que fazem cursos no Sesc Horto foram convocados para o espetáculo. "Vim porque o professor disse que depois temos que fazer uma resenha", explicou Sebastiana de Moraes, auxiliar de serviços gerais.

Perdeu quem não foi. A música e as danças, passadas de pais para filhos, mas escondidas no interior do Brasil, são a expressão mais simples e ao mesmo tempo espetacular pela resistência durante décadas.

No Dia do Folclore, tão pouco prestigiado pelas escolas de Campo Grande, por exemplo, o show no Sesc Horto comprovou como a data tem motivos de sobra para ser reverenciada.

Para mostrar o que sabem ao resto do País, a família Santos saiu de casa em julho e só vai retornar em setembro. Uma das dança do “Raízes do Bolão” é o “marbaixo”, de compasso mais lento, sem euforia, só ao som da caixa.

Lembra o esforço dos escravos acorrentados, com passos pesados, cansados, obrigados a levar pedras para grandes construções daquele tempo.

O grupo já está na quinta geração. O caçula tem 18 anos. No total, as festas no antigo quilombo têm 126 participantes, mas para a turnê pelo País, só participam 8, todos do distrito de Curiaú, com uma área de 3.321,89 ha, distante 8 quilômetros da capital Macapa.

Mestre Pedro dos Santos, 52 anos, é um dos líderes (Foto: Cleber Gellio)

Mestre Pedro dos Santos, 52 anos, é um dos líderes, aprendeu a tocar e cantar com o pai, aos 7. “O lugar de onde vem tudo isso é lindo”, explica sobre a origem da arte popular que foi parar no palco.

Davina é a mais velha. As andanças com o grupo foram uma surpresa à senhora de 62 anos, que ainda é agricultora em Curiaú, pelo valor dado ao que para eles é a vida, um extensão do corpo.

Dona Esmeraldina, também dos Santos, tem 57 anos e uma vitalidade de quem viu a mãe viver bem até os 93 e o avô até os 113 anos. Foi dele a herança cultural. Famosa poeta, autora de livros, ela é filha de Francisca Ramos dos Santos, tia Chiquinha, e de Maximiano Machado dos Santos, mestre Bolão, dois personagens da cultura do Amapá.

Estudou só até os 16 anos, mas só terminou Ensino Médio no ano passado. "Voltei a estudar para ter conhecimento e orgulho de mim mesma e também para os meus netos terem orgulho. Só através da educação você vê o mundo lá fora´”, costuma dizer, cheia de sabedoria.

Utilizando tambores típicos e com batuques tocados em tambores cavados em troncos de árvores e pandeirões, o grupo apresenta *São Joaquim, Baturité, Belém, Mestre Eufrásio, Trevelê, Olha a Saia dela Inderê *e *Aiai Aiai oh aiai Aiaiai,* de domínio público, além de *Patavina* , *Lago das Flores *(Joaquim Laurindo) e *Ainde Tu Vai, Rapaz*.

A programação continua amanhã, também no Teatro Prosa, no Horto Florestal, com o grupo Samba de Cacete da Vacaria – do Pará, que sexta vai estar na Capital e dia 24 em Dourados. No sábado, o show é de Samba Raízes de Tocos – da Bahia e no Domingo do Grupo Alabê Ôni – do Rio Grande do Sul. Os ingressos custam R$ 10,00 para quem tem a carteirinha do SESC e R$ 20,00 para os não associados.

Grupo no palco do Teatro Prosa.
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