Arquitetura

Sem terrenos para construir em ruas cobiçadas, jeito é adaptar casas ao comércio

Elverson Cardozo | 01/04/2013 07:00
Fachada da casa foi mantida, mas com adaptações. (Foto: Minamar Junior)
Fachada da casa foi mantida, mas com adaptações. (Foto: Minamar Junior)

Quando a arquiteta Denize Demirdjian aceitou o desafio de transformar uma residência em um endereço comercial na rua Antônio Maria Coelho, região central de Campo Grande, o prédio que seria modificado por ela servia de escritório de agropecuária, mas o espaço estava praticamente inalterado.

O imóvel, cercado por muros, ainda tinha a cozinha, três quartos e salas, banheiro privativo, social e área de serviço. Era uma casa. Pouco tempo depois virou uma gelateria, empresa que produz sorvetes de forma artesanal, graças à intervenção arquitetônica.

As paredes da sala, que eram compostas de madeira e alvenaria, foram retiradas e o cômodo recebeu reforço na estrutura. Virou o salão principal da gelateria. O banheiro social foi dividido ao meio, transformado em um lavabo para clientes e em “área de lavagem e desinfecção” destinada os funcionários da cozinha.

A suíte com banheiro privativo e um quarto comum foram destinados ao setor administrativo. O terceiro ficou para o almoxarifado. A área externa, que era separada do restante da casa, foi fechada, incorporada ao resto do imóvel e ganhou “cara” de cozinha.

Como a empresa trabalha com sorvetes e, além disso, cafés, não foi preciso alterar muita coisa na fachada, que acabou se encaixando no conceito pensado pelos proprietários e pela arquiteta. A idéia era deixar o espaço com cara de residência, porém, mais aconchegante.

Casa recebeu janelas de vidros e móveis sofisticados. (Foto: Minamar Júnior)

Estava aí uma das principais dificuldades. “Café e sorvete são dois produtos antagônicos. Uma pede cores mais frias, aço e vidro. A outra [cafeteria] pede madeira, cores quentes, marrons”, explicou. O jeito foi unir as duas coisas e criar um ambiente equilibrado.

Na entrada, as cores claras, mais discretas, contrastam com o volume de madeira (que já existia) posicionado à direita e com as janelas de vidros, emoldurada com bordas pretas.

No interior, o azul e o verde se misturam às cores mais quentes, como o amarelo e vermelho da decoração. A “brincadeira” está presente, inclusive, na logomarca da casa.

Compensa? - O projeto agradou os proprietários. Para o sócio Nelson Gabriel Pinto, de 36 anos, o investimento compensou, nem tanto pelo gasto com a reforma e “transformação” da casa em empresa, mas pela boa localização.

Na Antônio Maria Coelho, afirmou, a exemplo de outros endereços no centro, não há mais terrenos à venda e o custo com aluguéis de salas comerciais é alto. A alternativa é investir em residências que podem ser modificadas.

A vantagem é que o aluguel ou o preço de venda geralmente é mais barato. A desvantagem é que o gasto com uma reforma, por exemplo, pode ser superior ao de uma construção. “A questão foi encontrar o ponto de localização que nós gostaríamos que a empresa fosse localizada”, resumiu.

A justificativa é a mesma dada por João Pedro Júnior, de 31 anos, proprietário de um restaurante colonial que funcionava na avenida Ceará e agora está na Euclides da Cunha, considerada por muitos como a rua mais chique da cidade.

Arquitetura do imóvel foi mantido, mas grades e muros foram retirados. (Foto: Marcos Ermínio)
Casarão antes da reforma. (Foto: Divulgação)

“Foi um momento oportuno pelo ponto comercial. Poderia ser feito uma obra, outra construção, mas optamos por isso pela referência da Euclides da Cunha”, disse.

O novo restaurante ocupa o que antes era uma casa. Assim como a gelateria de Nelson, o imóvel também teve de ser readequado. Elaborado pelas arquitetas Letícia Fornari, de 36 anos e Christiane Zeni, de 51, o projeto ficou pronto em 4 meses. As principais interferências foram no térreo da casa de dois andares, onde hoje funciona o restaurante.

O espaço foi ampliado com estruturas metálicas e placas cimentícias, que substituem os tijolos. “Tiramos as divisões possíveis e transformamos em um grande salão”, contou Letícia.

A parte superior não foi alterada. Os quartos, com banheiros amplos, se transformaram em escritórios e vestiários para os funcionários. Como a casa era antiga e tinha características de um imóvel colonial, a fachada foi mantida. “Mantivemos a arquitetura, mas tiramos o portão, a grade e escolhemos uma cor de impacto”, explicou.

Térreo foi ampliado e se tornou o salão principal. (Foto: Marcos Ermínio)
Decoração deu uma nova cara à residência. (Foto: Marcos Ermínio)

Quanto custa? - Grandes reformas são comuns e estão relacionadas, muitas vezes, ao progresso. Endereços, antes residenciais, agora são pontos comerciais de alto valor no mercado, como é o caso da rua Euclides da Cunha, no Jardim dos Estados.

Às vezes, um projeto de readequação sai mais barato que uma construção ou vice-versa. Tudo depende da intenção, do tipo de negócio e do valor investido. A dica é contratar ajuda de alguém especializado e estudar o melhor custo-benefício.

A “regra” é simples, afirmou Letícia: quanto menos intervenções, menor será o custo. “O ambiente comercial sempre tem o tempo correndo contra a gente porque, geralmente, são lugares em que a pessoa precisa entrar para ter retorno financeiro”.

Outra recomendação é definir o público alvo, o tipo de serviço a ser oferecido e, se possível, a identidade visual do estabelecimento. “Quando você tem um perfil, uma imagem trabalhada, fica mais fácil ter um direcionamento”, explicou Denize.

 

Matéria atualizada no dia 01/07, às 20h46, para correção de informação.

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