Arquitetura

Redonda e no alto, casa da Afonso Pena foi projetada assim a pedido da família

Paula Maciulevicius | 21/05/2014 06:14
Projetada por Jurandir Santana Nogueira, casa circular foi feita a pedido da família Bandeira. (Fotos: Cleber Gellio)
Projetada por Jurandir Santana Nogueira, casa circular foi feita a pedido da família Bandeira. (Fotos: Cleber Gellio)

Locadora de automóveis, loja de informática e hoje, revenda de veículos seminovos. Estas foram as três últimas destinações de um dos imóveis de arquitetura mais inovadoras para a época em que foi erguido. Há 37 anos, a Avenida Afonso Pena, na altura do bairro Amambaí, abriga a primeira casa de planta circular da cidade.

Suspensa do chão por um pilar com escada, o redondo abriga 194 m² onde estão três quartos, sendo uma suíte, cozinha, sala, banheiro social e lavanderia. Uma escada, também circular, é o que leva os olhares curiosos da garagem até o ambiente que um dia foi familiar. Projetada pelo arquiteto Jurandir Santana Nogueira, a casa circular foi um pedido da família Bandeira a um dos pioneiros na arquitetura do Estado. Inédito, tanto para a época, quanto agora.

A estrutura que chama atenção tem como base de sustentação o pilar do meio, justamente onde se encontra a escada de acesso. O círculo é rodeado por janelas, todas elas com abertura para fora, evidenciando o estilo arquitetônico modernista, tópico da arquitetura praticada pelos arquitetos nos anos 1970, como evidencia o arquiteto Ângelo Arruda. 

O círculo é rodeado por janelas, todas elas com abertura para fora.

Inspirada nos mestres do modernismo brasileiro como Vilanova Artigas e Oscar Niemeyer, a arquitetura de Jurandir sempre evidenciou o estilo modernista com amplos espaços e muita modulação. Onde pode, usou elementos curvilíneos, argumento para quebrar a monotonia dos espaços.

Há dois anos, o ponto despertou atenção do empresário Joabe da Silva, de 29 anos. Ele quem destinou o imóvel para ser uma revenda de automóveis. “Aqui chama atenção. Todo mundo passa e desperta curiosidade. Enquanto eu estava reformando, as pessoas paravam e pediam para subir e ver”, conta.

O redondo, por ora, não é ocupado e deve passar por reforma ainda este ano. Os carros de luxo que estão à venda ficam apenas no pátio. Os planos são de revitalizar e modernizar a estrutura, mas sem descaracterizar a forma circular.

“Vamos valorizar a construção. Pretendo fazer uma área de confraternização”, comenta. Por fora, o telhado sai para dar vez a uma terraço e uma espécie de área de lazer ao ar livre.

Dono do imóvel hoje, empresário diz que nova reforma vai valorizar forma circular.

Pelo imóvel, comprado por ele logo que o primeiro ano de contrato de aluguel venceu, ele diz que já recebeu até oferta de troca. “Falaram se eu não queria trocar por um ponto na Ernesto Geisel com a Mato Grosso, quero não”, responde.

A oportunidade do imóvel lhe surgiu quando descia pela Afonso Pena, logo depois de ter deixado de dividir um aluguel na avenida Bandeiras, tradicional via de compra e venda de veículos. “Tinha a placa de aluga-se e eu liguei. O que facilitou para mim foi o ponto, que é estratégico pelo nível de carro que eu mexo”, observa.

Volta e meia a forma circular vira brincadeira entre clientes amigos. “Às vezes falam nave, disco voador. Me perguntam você usa? Como é que é? Chama atenção”, resume Joabe.

Como um dos primeiros arquitetos a abrir escritório de profissional liberal por aqui, Jurandir, segundo o professor Ângelo Arruda no livro Pioneiros da Arquitetura e da Construção em Campo Grande, lidou com a dificuldade em se fazer entender sobre o papel da profissão. “A sociedade achava que o arquiteto era só para fazer fachadas”, relata. Há mais de três décadas a arquitetura redonda da casa da Afonso Pena prova o contrário.

Nos siga no