Arquitetura

Prédios históricos de MS estão preparados para enfrentar incêndios?

Em processo de restauração, Morada dos Baís irá receber pintura específica contra chamas

Por Aletheya Alves | 13/11/2024 07:26
Prédios históricos de MS estão preparados para enfrentar incêndios?
Morada dos Baís está aguardando aplicação de pintura antichamas. (Foto: Juliano Almeida)

Nos últimos meses, espaços históricos de Campo Grande (como a Morada dos Baís e o Complexo Ferroviário) têm estado em discussão sobre suas restaurações e reformas. Muito se fala sobre como prédios antigos como eles não podem se perder, mas, para além do abandono de uns e retomada de outros: será que os prédios históricos conseguiriam se salvar de incêndios?

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A preservação de prédios históricos em Campo Grande, como a Morada dos Baís e o Complexo Ferroviário, levanta preocupações sobre a segurança contra incêndios. A reabertura da Morada dos Baís foi adiada devido à necessidade de aplicação de pintura anti chamas, uma medida de segurança contra incêndios. O Governo do Estado também está incluindo essa proteção em outros bens históricos, como a Igreja de São Benedito e o Castelinho de Ponta Porã. De acordo com o Corpo de Bombeiros Militar, a aplicação da pintura anti chamas é obrigatória em alguns casos, dependendo das características da edificação, e é recomendada para todos os bens históricos. A prevenção contra incêndios também inclui a revisão das instalações elétricas, especialmente em casas antigas, devido ao aumento do uso de equipamentos de alta potência.

Pensar em construções que carregam o passado é focar, também, na sua permanência. E, no Brasil, temos exemplos de grandes perdas como o Museu Nacional (que pegou fogo).

Uma das construções que são referências na Capital, a Morada dos Baís, teve sua reabertura postergada mais uma vez justamente devido a esse questionamento, conforme explica a responsável pela Sectur (Secretaria de Cultura e Turismo), Mara Bethânia Gurgel. 

Uso de madeira da construção implica necessidade da proteção. (Foto: Juliano Almeida)

E, aproveitando o tema, questionamos o Governo do Estado sobre outros bens históricos que receberam ou vão receber a mesma proteção em Mato Grosso do Sul. Além disso, o CBM/MS (Corpo de Bombeiros Militar) também explica sobre o assunto. 

Fechado há três anos, o prédio da Morada dos Baís estava previsto para reabrir em agosto. Na época do anúncio feito pela prefeitura, a lista de ações necessárias envolviam reparo em pilares de madeira, pisos, forros, revisão elétrica, revisão da cobertura de telhas, reparo nas calhas e ajustes na escadaria. 

Mas, conforme as ações foram sendo executadas, outras precisaram ser incluídas. Exemplo disso é uma medida, para além do plano geral de segurança, contra fogo: pintura antichamas.

Na prática, quando há contato com o fogo, o material se expande várias vezes. A consequência é uma proteção em meio às temperaturas elevadas, ou seja, consegue retardar a propagação do fogo. 

Por enquanto, a prefeitura está aguardando a chegada do material para a aplicação (que deve ser concluída neste mês). Em seguida, o acervo interno começa a ser montado e a expectativa de reabertura segue sendo 2024.

Já com a pintura aplicada na Capital, temos a sede do Iphan/MS (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), que integra o Complexo Ferroviário. 

Outra construção histórica que deverá receber o material é a Igreja de São Benedito, na comunidade Tia Eva. A informação da Agesul (Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos) é de que a aplicação está presente no projeto, mas até o momento não houve retorno sobre quando as obras devem começar. 

Início das obras de reforma do Castelinho de Ponta Porã, em 2023. (Foto: Divulgação/Agesul)

Nos últimos anos, a Casa do Artesão também foi reformada pelo governo do Estado, mas não entrou na lista de bens informados pela Agesul. Além da igreja, foi citado apenas o Castelinho de Ponta Porã. 

Por lá, houve a aplicação do “verniz intumescente fosco à base de água”. Esse produto costuma ser aplicado apenas em madeiras, mas também pode ser usado em alvenaria, conforme consta na divulgação de marcas que trabalham com o verniz.

Outras cidades com patrimônios históricos tombados pelo governo estadual não foram citadas. Mas, em Corumbá, também está prevista a aplicação desse material, conforme a Fundação de Cultura municipal.

Na Cidade Branca, os prédios públicos históricos que possuem assoalho de madeira deverão receber mais essa prevenção. Entretanto, ainda não há data específica para o ajuste. 

O que é obrigatório? E o que é indicado?

Falando especificamente sobre bens históricos, o superintendente do Iphan/MS, João Santos, explica que as obrigatoriedades dependem do solicitado pelo CBM/MS (Corpo de Bombeiros Militar). Mas que, quando o contato é feito com o instituto, a orientação é de aplicar a pintura antichamas e outras normas do PPCip (Projeto de Prevenção e Combate a Incêndio e Pânico). 

“É interessante não apenas para bens tombados e históricos, mas também para a construção civil em geral”. 

Questionado sobre a obrigatoriedade da pintura antichamas e de outras medidas contra incêndios, o CBM/MS informou que a Lei 4335, o Código de Segurança Contra Incêndio, Pânico e outros Riscos, solicita uma série de medidas cobradas dependendo das características da edificação, área construída, altura e ocupação. 

Apesar de ser majoritariamente de alvenaria, sede do Iphan/MS precisou de pintura especial. (Foto: Juliano Almeida)
Aplicação do produto antichamas foi realizada no piso e no forro. (Foto: Juliano Almeida)

“Entre as exigências, temos duas em que a solução para que a medida seja atendida de acordo com a norma é a aplicação da pintura antichama. A primeira é a resistência ao fogo, que nós exigimos para alguns elementos estruturais e para alguns elementos de saída de emergência e compartimentação”. 

Segundo o Corpo de Bombeiros Militar, isso ocorre porque as construções precisam ter um tempo de resistência mínima ao fogo. Ou seja, se a estrutura da edificação for de madeira, ela não possui uma resistência por si só, então precisa desse “revestimento”. 

Outro caso que também precisa de uma pintura específica é para o controle de materiais de acabamento e de revestimento. 

Essa medida é cobrada para algumas edificações em que os materiais empregados no acabamento e revestimento, como pisos, paredes, divisórias, teto, forro e cobertura, tenham determinada característica de velocidade de propagação da chama e de quantidade de liberação de fumaça quando há a queima desse material”.

Por isso, se o material não tiver uma resistência “natural”, mesmo não sendo de madeira, também precisa da pintura. 

“A aplicação da tinta antichama visa dificultar a propagação do fogo. Dessa forma, ela diminui a evolução da chama no material. Em alguns casos, se não tiver mais a energia ativadora, ela vai até extinguir as chamas”, destaca o CBM/MS sobre a pintura preventiva. 

De forma geral, para além de construções históricas, os bombeiros explicam que os cuidados com as casas (antigas ou não) são parecidas quando o assunto é prevenção. É necessário se atentar à parte elétrica, instalações e funcionamento de equipamentos, além dos equipamentos de gás serem instalados por profissionais.

“O que diferencia as residências novas das antigas é, principalmente, a parte elétrica, porque as residências que têm 20, 30 anos, têm suas instalações elétricas antigas e sabemos que com o tempo a capacidade de passagem de energia pelos fios se degrada e naturalmente, ao longo do tempo, eles vão aquecer mais. Outro problema é que, geralmente, quem faz a instalação elétrica em uma residência faz de acordo com o que se prevê de uso e o uso que tínhamos há 30, 40 anos é muito diferente do que a gente prevê na maior parte das casas atualmente”.

Equipamentos como ar-condicionado e chuveiro, com potências mais fortes, precisam ser analisados nestes casos. Idealmente, as instalações deveriam passar por uma revisão com profissional habilitado para a manutenção ou redimensionamento da rede. 

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