Arquitetura

Inspiradas em Brasília, fachadas na Pedro Celestino são história de José e João

Na década de 1960, uma casa fez tanto sucesso que o vizinho quis uma igual, mas nunca gostou da versão

Thaís Pimenta | 05/04/2018 08:16
Monumento se inspira no Palácio da Alvorada, em Brasília, cidade pelo qual o pai da família era encantado. (foto: Roberto Higa)
Monumento se inspira no Palácio da Alvorada, em Brasília, cidade pelo qual o pai da família era encantado. (foto: Roberto Higa)

Se você passar bem devagar na rua Pedro Celestino, quase esquina com a Mato Grosso, vai notar duas casas com monumentos na fachada. Construídas em 1962 e em 1965, respectivamente, elas guardam uma história autêntica, envolvendo 2 vizinhos que resolveram homenagear Brasília.

Idealizada pelo comerciante José Joaquim da Silva, a primeira tem o monumento que remete aos arcos do Palácio da Alvorada de Brasília, projetado por Oscar Niemeyer e inaugurado dois anos antes. O filho Ademar explica que José havia visto em uma revista de fotos da cidades e se encantado. "E infelizmente ele morreu sem conhecer a Capital brasileira", conta.

Ele garante que naquela época nem existiam arquitetos na cidade. Então, o pai deu a ideia, comprou o material e o construtor que por vezes era também o engenheiro, dava um jeito de fazer o que o cliente pedia. Na década de 1960, ter uma casa chamativa era um pequeno luxo, por isso o charmoso lar dos Silva foi muito admirado pelos vizinhos.

Tão admirado, que o vizinho do lado, o pecuarista João Dias Vieira, pediu uma igual. Mas o construtor contratado sugeriu fazer algo diferente para não ficar idêntico e surgiu um monumento no formato de "x" na fachada. A filha do pecuarista, Janira Dias Vieira, lembra que o pai não gostou do resultado e, na verdade, nunca deu bola pra casa. "Não gostava da casa de jeito nenhum. A gente veio da fazenda, nosso lugar era no mato", conta. 

A casa do pecuarista, José, acabou ganhando um "x" na fachada. (Foto: Roberto Higa)

Já para a família do vizinho comerciante, a fachada sempre foi motivo de orgulho. "Meu pai não achava ruim alguém querer copiar, porque ele tinha orgulho de como a casa tinha ficado bonita, isso sim".

Até hoje a construção continua em pé. "Usava-se muito material, quase tudo na casa, das paredes até os armários são de laje, ou seja, aguenta muito peso", diz. Só o teto, feito em estuque, ruiu com o passar dos anos. "Daí meu irmão que é engenheiro reformou pra gente. Mas no corredor, por exemplo, o teto continua intacto".

O filho se lembra que a rua não era asfaltada quando se mudaram pra lá e o asfalto só foi chegar para aquelas bandas em 1964. "Tinha uma casinha aqui antes que meu pai demoliu para colocar a nossa", completa. O terreno também precisou de aterro para regular a altura da residência com a rua, parte mais demorada da obra, que durou cerca de um ano e meio.

Os imóveis da rua tem, quase todos, 560 metros quadrados e, como era costume da época, só um banheiro para todos.

A casa dos Silva ficou para a viúva de José, porque o comerciante faleceu em 1993. Já o imóvel do vizinho atualmente está à venda.

A viúva do comerciante, dona Maria, ainda lúcida no auge de seus 98 anos, não pensa em deixar o que ficou do marido e responde brava quando o filho Ademar brinca que vai vender a casa para a equipe do Lado B: "Meu filho, não vende não".

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Ademar a mãe, sentados na varanda da casa que moraram quase que toda a vida. As cadeiras tem 25 anos de existência. (Foto: Roberto Higa)
O teto do corredor continua sendo de estuque. (Foto: Roberto Higa)
Detalhes da construção de 60 que se mantem na cozinha. (foto: Roberto Higa)
A família dos Silva. (foto: Roberto Higa)
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