Arquitetura

Infarto fez Guilherme se perdoar dos erros da vida e construir o lar dos sonhos

Thailla Torres | 19/01/2017 06:05
Seu Guilherme, com 67 anos, sobreviveu a infarto e hoje diz que vive super bem sozinho. (Foto: Alcides Neto)
Seu Guilherme, com 67 anos, sobreviveu a infarto e hoje diz que vive super bem sozinho. (Foto: Alcides Neto)

No bairro Vivendas do Bosque, Guilherme Yule ajeita sozinho os materiais que ainda restam da obra que terminou. Aposentado, resolveu erguer um chalé para viver só, depois de muita reflexão sobre a vida, quando esteve diante da incerteza por conta de um infarto em 2012.

O local foi erguido nos fundos da casa de alvenaria, que nunca foi das mais simples. Mas cansado do exagero, com 67 anos, a casa pequena se tornou uma realização.

O chalé feito de madeira foi pensado pela economia de materiais e tempo para realizar a vontade de viver em um lugar pequeno, sem deixar de lado o aconchego, a simplicidade. “É o tipo de obra que se faz em 60 dias, mas aqui sabe como é difícil mão de obra”, comenta.

Casa foi feita nos fundos de um terreno onde há um lar de alvenaria. (Foto: Alcides Neto)
Detalhe da cozinha com móveis de madeira e pelas antigas.

Seu Guilherme não se apega a tantos detalhes, diz que é apenas um espaço feito de madeira, aproveitando os fundos da casa que poderia ter virado diversão. “Era para ser uma piscina, mas em todas as casas que eu tive, só serviu para dar trabalho. Então resolvi fazer meu chalé”.

A casa pequena, dividida em dois cômodos, recebeu estrutura de madeira e cobertura de telha. “Aqui tem madeira cedrinho, peroba e pinus. Uma das coberturas já estava pronta, era uma garagem na casa de lá”, conta sobre a casa de alvenaria que fica ao lado do chalé e hoje é alugada para outra família.

Para garantir a privacidade, o aposentado fez apenas um muro que separa a casa ao lado, do lugar que guarda sua história, com objetos antigos e a Ximbica de 1929 que seu Guilherme tenta vender desde o ano passado, mas até hoje não conseguiu. “As pessoas só ligam para saber preço, ninguém quer comprar de verdade”, diz.

Os motivos que fizeram Guilherme abrir mão de uma casa maior têm sentido na experiência de vida. Diz que está acostumado com a solidão e já não pensa mais viver acompanhado. Divorciado há três anos e com os filhos morando longe de casa, ele garante que é feliz só.

Mas foi o infarto, em 2012, que fez muito pensamento mudar durante 21 dias em coma.

Na cozinha, objetos antigos que o aposentado nunca se desfez. (Foto: Alcides Neto)
Casa ainda falta receber alguns acabamentos, mas Guilherme já está morando nela. (Foto: Alcides Neto)

“Eu não tive uma dor forte, mas era um domingo quando me senti mal em casa. Fui para o hospital, mas liberado em seguida. No outro dia, eu ainda não estava bem, fui de novo ao médico fiz exames e foi diagnosticado que eu eu estava sofrendo um infarto”, conta.

Guilherme lembra da palavra do médico, que dizia não entender como ele sobreviveu. “O caso estava sério já, eu fui internado, operei e fiquei 21 dias em coma. Tudo que aconteceu comigo antes disso, eu não me lembro, foram meus filhos e minha ex-mulher que me contou os detalhes de quando eu fui para o hospital e que cheguei a trabalhar normalmente antes do diagnóstico”, lembra.

A cicatriz que leva no peito, para ele, faz parte da história e um momento marcante, quando começou a ver a vida de outra maneira.

“Melhorei minha fé e mudei muito no convívio com as pessoas. Isso era difícil pra mim, já que sempre me acostumei com o tempo sozinho, desde os 12 anos, quando meus pais precisaram viajar e fiquei na cidade, sozinho estudando”, recorda.

Apesar dos questionamentos, Guilherme diz que não importa a inquietação das pessoas em estarem sempre juntas. Para ele, não há problemas com a solidão. “É uma escolha, isso não é um problema pra mim. Não sinto falta de nada, graças a Deus, acho que as pessoas podem ser bem resolvidas”, diz.

Pai de 2 filhos, o aposentado diz que não tem vergonha de admitir que parte da solidão é uma resposta a tudo que já fez na vida. “Não vou mentir dizendo que sou feliz por inteiro, porque sinto falta dos meus filhos. Mas admito que não fui um bom pai. Confundi as coisas, achava que o bem-estar era dinheiro e conforto. Passava maior parte do tempo fora, quando eu voltei, vi que não dei a dedicação que eles precisavam”, descreve.

Para fazer jus ao estilo rústico, Guilherme fez até portão de madeira, fechado com corrente e cadeado. (Foto: Alcides Neto)

Guilherme, acredita, que o aconteceu no passado vai marcar uma vida, mas diz que ele se tornou responsável para sempre pela própria felicidade. “Eu vivo muito bem sozinho. Aprendi administrar isso em mim”, conta.

Com a saúde em dia e a casa pronta do jeito que imaginava, o aposentado reforça que, mesmo com a saudade constante, não deixa o sentimento de culpa o impedir de viver. “O que passou, passou. Sempre achei que um lugarzinho assim era o ideal para mim e é dessa forma que eu vou ficar”, diz

Mesmo assim, reforça que ainda tem um sonho. “Estou com um projeto na minha cabeça, quero fazer um condomínio para idosos, para uma vida tranquila”, promete.

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