Arquitetura

Grupo quer grafitar Maria Constança, mas quem defende obra de Niemeyer é contra

Paula Maciulevicius | 19/02/2014 15:03
Inaugurada na década de 50, Maria Constança é a única obra projetada pelo arquiteto Oscar Niemayer, em Campo Grande. (Fotos: Cleber Gellio)
Inaugurada na década de 50, Maria Constança é a única obra projetada pelo arquiteto Oscar Niemayer, em Campo Grande. (Fotos: Cleber Gellio)

A escola estadual Maria Constança de Barros Machado, projetada pelo mestre da arquitetura Oscar Niemeyer, terá o muro grafitado no próximo sábado. A intenção é revitalizar e evitar pichações. Só nos últimos tempos foram cinco episódios. O projeto, realizado pela Fundação de Cultura do Estado divide opiniões, isso porque a escola é tombada como patrimônio histórico desde 1996.

Inaugurada na década de 50, Maria Constança é a única obra projetada pelo arquiteto em Campo Grande. São nove salas que funcionam nos três períodos e comportam 680 alunos, da 8ª série ao 3º ano do ensino médio. A fachada lembra um livro aberto. Um palito branco, posicionado na entrada, traz a idéia de um lápis. No interior, o corredor extenso traz à mente uma régua.

O arquiteto e presidente do Conselho Municipal de Cultura, Ângelo Arruda, relembra que o pedido de tombamento foi protocolado por ele com um abaixo assinado de mais de 300 pessoas há 18 anos. Em 2012, segundo Ângelo, a última reforma da escola, descaracterizou a guarita com a pintura das pedras de verde e azul. “Agora vão colocar Grafite Legal. Daqui a pouco surge outra ideia. Como cuidar da memória de nossa cidade desse jeito?” questiona.

Ângelo disse que vai tomar as providências para a suspensão da grafite no edifício tombado como patrimônio. “Que a façam em outro muro, não no muro de um prédio tombado”, declarou.

Diretor da escola sustenta que grafite vai acabar com pichação. Muro já foi pintado cinco vezes.

O diretor da escola, Anderson Souza Muniz, contabiliza as pinturas no muro externo, para encobrir as pichações, que pelo projeto original é branco. “Foram cinco. Três vezes foi pintado por nós e outras duas pela Guarda Municipal. A gente chegou num consenso junto com a Fundação que deveria fazer alguma coisa diferente”, argumenta.

O acordo foi de dar o espaço para as manifestações dos artistas de rua, tanto alunos, como pessoas da comunidade. Sobre o fato de a estrutura ser tombada, ele explica que o tombamento se refere aos traços. “Não posso mudar a fachada, a disposição das salas, dos banheiros, mas essa questão do muro, ele não é tombado, assim como o pé da árvore também não e foi autorizado pela Fundação de Cultura que é responsável pelo tombamento”, afirma Anderson.

O diretor ainda comenta que diante das pichações não há polêmica, mas que quando se pensa em resolver a questão, as opiniões surgem. “Quando o muro é pichado, todo mundo se cala, quando vai fazer algo diferente, querem pensar negativamente e obstruir”, ressalta.

O projeto tem parceria com o SBT e a Construtintas, que doaram o que compõe 46 kits de tinta. O mesmo número corresponde aos espaços a serem destinados para o grafite. “A ideia é fazer homenagem tanto a Oscar Niemayer como também deixar um espaço livre para a comunidade expressar seu pensamento”, diz o diretor. A homenagem seria desenhar o próprio arquiteto e também projetos desenvolvidos por ele.

A organizadora do projeto e gestora de Artes da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, Marilena Grolli, explica que o objetivo é transformar o muro da escola em uma galeria a céu aberto. Ela reforça que o projeto tem autorização do patrimônio histórico, pedido pela direção da Maria Constança. “Não seria feito se não fosse autorizado e assim vamos proteger o muro da pichação”, resume.

O projeto acontece neste sábado e domingo, das 9h às 17h. O ponto de encontro será na Orla Morena.

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