Arquitetura

Espelho d'água já era, prédio da TVE é descaracterizado com cimento e tinta

Thailla Torres | 25/04/2016 14:53
No lugar da água, o verde e a logotipo da TV modificam o projeto original. (Foto: Fernando Antunes)
No lugar da água, o verde e a logotipo da TV modificam o projeto original. (Foto: Fernando Antunes)

Ao contrário das promessas de consulta popular antes de qualquer descaracterização no projeto original, o Palácio das Comunicações, onde funciona a Rádio e TV Educativas, já tem outra fachada. A obra de revitalização acabou de vez com o espelho d'água que era uma das marcas do prédio, inaugurado em 1990, e assinado pelo arquiteto Roberto Montezuma.

O lago artificial, estrategicamente implantado ali para refletir a enorme torre de alvenaria, não existe mais. O chão de cimento foi pintado de verde e, no lugar da água, há o desenho da logomarca da Rádio e TV Educativas.

E a descaracterização não parou por aí. Até a passarela de acesso principal ganhou outras cores, sumiu o vermelho, que também estava ali desde a inauguração no governo Pedro Pedrossian, e agora tudo é verde e amarelo.

Segundo o diretor-presidente da Rádio e TV Educativas, jornalista Bosco Martins, os tempos são outros e isso justifica a alteração. “O projeto já tem 25 anos, é algo lindo, maravilhoso e poético. Mas hoje os tempos são outros, tivemos problemas com a questão hídrica e técnica”.

Outros argumentos são a manutenção cara e o medo do lugar virar criadouro de mosquito Aedes Aegypti. “Temos o problema da dengue que hoje é grave. Essa foi uma obra bela, mas que não houve previsão de manutenção."

O diretor-presidente admite que não houve consulta popular, conforme havia anunciado na primeira reportagem sobre o assunto, publicada em fevereiro deste ano. A única conversa antes da decisão foi com a Agesul (Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos).

Bosco ameniza os efeitos da mudança e diz que nada é irreversível, mas apenas comenta que "isso está sendo discutido com a Agesul"

Para o arquiteto Roberto Montezuma, hoje presidente do CAU (Conselho de Arquitetura e Urbanismo) de Pernambuco e professor da Universidade Federal em Recife, o resultado da alteração é lamentável. “Realmente deformou muito o projeto original e é uma pena. O lago tinha uma função, que era de espelhar a torre. Quanto a pintura da ponte, o vermelho tinha um sentido, foi escolhido por ser uma das cores básicas que se utiliza nos sistemas das rede de televisão. E colocar aquele verde muda tudo”, reclama.

Sobre a justificativa de dengue para descaracterização, o arquiteto pontua soluções que poderiam ser pensadas. “Existe duas soluções quanto ao espelho o d’água. Uma é colocar peixe ou cloro. Quanto a clorar, é a solução mais fácil, pois impede a proliferação do mosquito. Quanto ao peixe, alguns questionam a altura do espelho, mas basta uma consulta com biólogo para saber qual tipo de peixe ideal”.

Lago sumiu da fachada do prédio.
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