Arquitetura

De surpresa, apartamento ganha reforma em 3 semanas, durante viagem de donos

Paula Maciulevicius | 21/07/2014 06:19
Enquanto os donos da casa saíram de férias, uma equipe de 13 pessoas entrou para reformar 63 metros quadrados. (Foto: Marcelo Calazans)
Enquanto os donos da casa saíram de férias, uma equipe de 13 pessoas entrou para reformar 63 metros quadrados. (Foto: Marcelo Calazans)

Em 21 dias, a sacada foi integrada à sala, as paredes ganharam novas cores, o piso mudou e até um pé de jabuticaba foi parar no apartamento da família Herr, no bairro São Francisco, em Campo Grande. Enquanto os donos da casa saíram de férias, uma equipe de 13 pessoas entrou para reformar 63 metros quadrados em três semanas.

Para que tudo saísse como o planejado, o arquiteto responsável pela obra, Cleber Barbosa, de 28 anos, começou a trabalhar 45 dias antes do casal viajar. A reforma veio como presente surpresa dos filhos para os pais.

“O primeiro impacto de uma reforma é o visual, mas ela não se limita só a ele. O apartamento precisava ter a identidade dos donos. Então o filho me passava coisas sobre eles”, descreve Cleber. O que ele precisava saber era que o casal, já na terceira idade, recebia os netos, amigos e familiares com frequência e que não deveria remover um quadro do artista Volpe da parede e nem o jogo de mesa de jantar.

A proposta inicial era de fechar somente a sacada. Como moram em edifício, depois de ser votado em assembleia que a parte externa poderia ser mexida, o filho do casal pediu paciência aos pais para que esperassem para ver como a obra dos vizinhos ficaria. Era só uma desculpa para despistá-los.

“Aí ele pediu, quero a sacada e todo o restante, vamos desenvolver eu disse. Ele tirava as medidas do apartamento e me passava. Como papel de parede e móveis levam em média de 15 a 30 dias para chegarem, a gente foi se ajustando”, explica Cleber.

Dona da casa, Ildegard ficou surpresa ao retornar à velha casa agora repaginada. (Foto:Marcelo Calazans)

O ajuste era este: enquanto os donos ainda estavam aqui, qualquer escapulida para ir ao médico, era sinal verde para que o gesseiro entrasse e medisse. “Fizemos uma gestão conjunta, todo mundo sabia que ia acontecer e o prazo a ser executado”, pontua o arquiteto.

No dia da viagem, assim que o casal saiu do apartamento, toda a equipe adentrou. Pisos eram retirados na mesma velocidade em que as paredes mudavam de cor. O porcelanato foi substituído por outro, porém em peças maiores, com menos rejuntes para dar amplitude ao ambiente.

Perfil - “Eles têm como base a agricultura, à terra, são ligados às plantas e isso norteou e você acaba vendo detalhes. Uma echarpe, um sapato, isso que faz referência de como o cliente é e te dá suporte para o projeto”, expõe Cleber.

O arquiteto já resume de cara que uma reforma não precisa mudar por completo. “Nem tudo precisa ser trocado ou removido. Têm peças de família, estofados novos, eu reorganizei o espaço deles de uma forma que trouxesse harmonia à casa”, detalha. Um exemplo foi o closet, onde no detalhe da iluminação, ele mudou o design, emoldurou e brincou com o lúdico dos trajes em quadros de vestidos.

A mudança começou desde a entrada. A porta marrom deu lugar ao branco com a impressão de ser laqueado, no entanto se tratava de adesivo. “É 1/5 do valor da laca, além do tempo. Eu tinha 13 portas e não tinha tempo. Achei essa forma mais barata e econômica”, descreve. Na cozinha, foi a mesma coisa, a parede do fogão ganhou estampa de azulejo português. “É uma opção rápida e que dá um efeito tão bacana quanto”, completa Cleber.

Na sequência, o hall de entrada da sala tinha uma parede na cor laranja e outra branca. De um lado ficavam painéis de fotos da família que foram substituídos por quadros em molduras individuais, do outro, os pratos de lembrança dos lugares onde o casal visitou foram apenas reordenados.

Antes - ambiente tinha parede laranja, porta marrom. Fotos e pratos sem harmonia.
Depois - Marrom de um lado, retratos em moldura, papel de parede de palha do outro e reorganização de pratos.
Em dois paineis de vidro laqueados, recordações ganharam destaque e deram valor ao papel de parede. (Foto: Marcelo Calazans)

“Ali já tinha a dinâmica do movimento, eu apenas joguei um marrom mais fechado na parede, que puxa o ambiente para dentro e na outra, usei papel de parede de palha, que é moderno e extremamente estiloso”. Os pratos que ficavam ‘caminhando’ pela parede foram colocados em painéis de vidro laqueado com molduras.

Apesar da imagem expressar um branco na decoração, Cleber usou cores neutras como marfim e palha, para construir um ambiente atemporal. Ainda na sala, a mesa de jantar continuou a mesma e no mesmo lugar. Parte das paredes ficaram mais glamorosas quando o arquiteto resolveu abusar do marrom, terra e dourado.

Em outro ambiente, para brincar com o cenário da casa, o arquiteto trouxe movimento através de duas poltronas em Chevron, estampa que acaba com a monotonia do ambiente. “Se eu deixasse sem cor, ia ficar monótono e a sala precisa dessa dinâmica, então joguei um tecido Chevron com várias almofadas. São poltronas extremamente convidativas a se sentar”, pontua. O aconchego do espaço também está aos pés de quem chega. O tapete da sala parece ‘clamar’ aos pés que fiquem descalços.

O quadro de Volpe, um dos pontos que não poderiam sair de cena na casa, só teve a moldura trocada. O preto deu lugar ao branco e realçou ainda mais as cores da obra.

Apesar de ser apartamento, Cleber agregou o movimento que só as plantas podem trazer em três opções, primeiro, em dois vasos vietnamitas, as lanças de São Jorge - que são resistentes a espaços internos e não necessitam de tantos cuidados - o verde do jardim vertical na parede e a jabuticabeira na sacada integrada. Os exemplos mudam o ambiente conforme as próprias mudanças, ora com flores e frutas, ora na troca das folhas.

“O jardim ele traz um pouco a ideia de fazenda, e você pode ter o verde sem ter necessariamente plantas de plástico. A jabuticabeira, é colocar um quintal dentro de casa, lembra casa de vó, proporciona uma volta à infância aquele gosto da fruta”, explica.

Antes da cozinha.
Na versão pós reforma: adesivo imita estampa de azulejo português.
Poltronas de Chevron quebram monotonia do ambiente. Obra de Volpe ganha destaque na parede.

A sacada integrada - fechada e coberta com cortinas - possibilitou um ambiente mais dinâmico. Tanto os donos da casa quanto as visitas têm um espaço para conversa, que pode ser com ou sem a vista para a rua, em volta do pé de jabuticaba e ainda ao som de uma fonte.

Para casar com a ideia de conforto e lazer, o arquiteto utilizou quatro gôndolas, peças em conchas, feitas de fibra e revestidas com tecido que envolvem o corpo sem que ninguém precise procurar uma posição.

O sofá entre a sacada e o restante da sala remete a um estilo mais linear. O ambiente liso foi quebrado com um quadro abstrato e colorido e também pela iluminação. Toda a casa tem a opção da luz total ou parcial, dando a opção de criar cenas de modo que os espaços fiquem mais introspectivos.

“Eu reorganizei o apartamento, mantive a dinâmica do que a dona já havia colocado até para que ela se encontrasse ali”, resume o arquiteto. E de fato foi o que aconteceu. Na data de volta prevista, dona Ildegard Herr, de 69 anos, não sabia se chorava ou se ria de alegria. “Mudou tudo, mas puseram papel de parede, eu não gostava de porta escura, deixaram os meus pratos, fizeram quadros, ficou tudo maravilhoso. Foi uma surpresa. Eu achei tão lindo, parece uma casa de boneca e são duas pessoas idosas. É lindo, jamais pensava que isso fosse acontecer”, contou ao Lado B.

Apesar da correria para o projeto, Cleber assegura que cada parte da reforma tinha o seu orçamento previsto e que independentemente de quando começava ou terminava a obra, ia ser o mesmo valor. “Foi gratificante pela história, de ser surpresa. Mas o último projeto é como filho, sempre será a menina dos olhos”, comenta.

Para trazer o quintal da fazenda para a casa, arquitetura colocou até pé de jabuticaba em apartamento.
Antes da sacada tem portas de vidro de correr.
Saem as portas, entram janelas de vidro na sacada e cortinas, além de poltronas em gôndola. (Marcelo Calazans)
Nos siga no