Arquitetura

Campo Grande tem uma esquina carioca, onde só falta o mar e Copacabana

Paula Maciulevicius | 14/03/2016 06:12
Ipanema e Arpoador e Leblon dividem céu de Campo Grande em esquina da Afonso Pena. (Foto: Fernando Antunes)
Ipanema e Arpoador e Leblon dividem céu de Campo Grande em esquina da Afonso Pena. (Foto: Fernando Antunes)

De um lado, Ipanema e Arpoador, de outro, Leblon. As quatro torres fazem, desde os anos 80 e 90, o encontro da Rua 13 de Junho com a Avenida Afonso Pena, o cruzamento mais carioca da cidade. Os planos da construtora eram de também trazer Copabacana a Campo Grande, mas a Dallas Engenharia encerrou as atividades antes, deixando até mesmo o Leblon para trás.

“Aquelas torres são um dos prédios mais bem construídos de Campo Grande e não é porque eu quem construí não”, se gaba o arquiteto e urbanista Leonídio Pereira Mendes. Ele explica que a época anterior ao “advento” do plástico, tubulação de esgoto era feita de ferro fundido e a de água, de cobre. Uma das justificativas para a “boa construção”.

A Dallas foi uma construtora carioca, com sede no Rio de Janeiro e que pelo escritório em Campo Grande ergueu edifícios tradicionais. Para fazer das origens a “marca”, a ideia era de que as obras levassem nomes dos bairros do Rio. Com exceção do Dona Neta, comprado no meio da construção e o Oliveira Lima, condição imposta pela família que vendeu o terreno, de que o prédio levaria o sobrenome.

Leblon ficou para trás e foi retomado só nos anos 2000. (Foto: Fernando Antunes)
Erguido primeiro, torres foram entregues em 1986. (Foto: Fernando Antunes)
Esquina carioca leva os nomes pela origem da construtora. (Foto: Fernando Antunes)

O primeiro da esquina a ser construído foi o Ipanema e Arpoador, entre 1981 e 1982. Segundo o arquiteto, como o terreno media 40x60, erguer duas torres foi a solução encontrada para aproveitar o espaço sem ter de fazer vários apartamentos num mesmo andar.

O terreno pertencia a Italívio Coelho, político e pecuarista e foi trocado por um andar do prédio. Até hoje a família mora na cobertura do Ipanema.

Entregue em 1986, são dois apartamentos por andar, com 216m² cada. Na planta original e durante os primeiros anos de funcionamento do prédio, cada torre tinha entrada individual. Do Ipanema pela Afonso Pena e do Arpoador, na 13. Outro detalhe ficava por conta do paisagismo, assinado à época, pelo artista plástico Roberto Burle Max. “Era o mais famoso do Brasil”, conta Leonídio.

Para conter gastos, já que cada entrada demandava uma portaria e funcionários específicos, o síndico acatou a sugestão de moradores e na última reforma deu aos prédios uma única fachada: pela 13 de Junho.

Para conter gastos, prédio unificou entrada na última reforma. (Foto: Fernando Antunes)
Leblon também seria dividido, mas portaria ficou só na 13 de Junho. (Foto: Fernando Antunes)
As cores e a arquitetura se mantiveram originais. (Foto: Fernando Antunes)
Por anos, Leblon empacou no quinto andar. (Foto: Fernando Antunes)

Entre Ipanema e Arpoador e o Leblon, a construtora ainda ergueu o Oliveira Lima e comprou mais um terreno, na 15 de Novembro com a Arthur Jorge, onde hoje é o Hospital El Kadri. O Leblon, começado nos anos 90, chegou, pelas mãos da Dallas até o quinto andar, entre 1996 e 19996, e depois de muito tempo é que foi retomado e entregue pela HF Engenharia.

“Ficou por vários anos parado, aí que vendemos para o Hugo Freire que terminou”, conta o arquiteto. Naquela época as construções não tinham financiamento, eram os próprios donos quem tocavam a obra ao comprar os apartamentos ainda na planta. No Leblon, o terreno de 40 por 40 também possibilitou a construção de duas torres, com um apartamento em cada andar medindo 300m².

Retomado em 2002 pela segunda construtora, o prédio por anos teve um só morador. João Paulo Arruda, hoje com 52 anos, morou durante três sozinho. “Entrei numa parceria com a construtora e comprei aqui. Como já tinha elevador e um guarda, me mudei. Mas estava pronta só a casca, por fora”, lembra.

O acabamento nem parecia começar e a garagem chegou a estragar muitos sapatos da família. Por anos, João Paulo também abriu a casa para conhecidos que queriam conhecer o prédio.

“Quando eu me mudei só ia até o sexto andar. Ele ficou parado de 89 a 2001”, contabiliza o morador. O edifício também teria duas entradas, conforme a planta original, mas acabou colocando a fachada e a portaria apenas na 13, como os vizinhos.

“Sobre os nomes? Eu não sei da história não. Mas acho que era porque o dono, Gumercindo, era carioca”, palpita João Paulo. A construtora encerrou as atividades e vendeu o terreno onde sairia o Copabacana, deixando Campo Grande sem mar e só com Ipanema, Arpoador e o Leblon.

Curta o Lado B no Facebook.

Nos siga no