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Vegetariano prova paella com pimenta do reino, "bomba" na cozinha de Israel

Paulo Nonato de Souza | 16/07/2015 09:12
No restaurante em Tel Aviv, com sacada e vista para o mar, ruas vazias e a espera da paella (Foto: Arquivo pessoal)
No restaurante em Tel Aviv, com sacada e vista para o mar, ruas vazias e a espera da paella (Foto: Arquivo pessoal)

Quem me conhece sabe que sou adepto da alimentação vegetariana. Sem nenhum tipo de vício, avesso ao consumo de carne vermelha, não bebo nem refrigerante. E sempre foi assim, sem nenhum compromisso com modismo ou estética. Mas, as vezes, a voz da sobrevivência fala mais alto e nos leva a burlar nossas próprias regras.

Em maio de 1995, desembarquei no meio da madrugada em Tel Aviv para cobrir um jogo amistoso da Seleção Brasileira, contra a seleção de Israel, e fui direto para o hotel, depois de uma viagem cansativa desde São Paulo com conexão de 6 horas em Frankfurt, na Alemanha. Era uma sexta-feira, e para os judeus a semana comercial, diferente do Brasil e de boa parte do mundo, vai de domingo a quinta-feira. Para eles, sexta e sábado é fim de semana, dia de comércio fechado.

Acordei por volta de 14h, com muita fome, e me apressei em sair na busca de restaurante aberto. Aliás, saímos a pé pela cidade, eu e o narrador esportivo Arthur Mário Medeiros Ramalho, da extinta Rádio Educação Rural de Campo Grande, que também estava em Israel para a cobertura do jogo da Seleção. Nem eu nem ele tínhamos ideia de que seria tão difícil encontrar algo para comer em uma cidade como Tel Aviv, e depois de muito andar, finalmente, localizamos um restaurante aberto, completamente vazio.

No cardápio, todo em hebraico, a única palavra familiar que consegui detectar foi paella. Isso porque algumas semanas antes, na Espanha, eu havia pego uma receita de “paella valenciana”, feita a base de frutos do mar, com o técnico Carlos Alberto Parreira, que na época treinava o time do Valência. Então, chamei o garçom e pedi paella com a autoridade de quem sabia o que estava fazendo. Quando veio a comida servida no sistema que no Brasil chamamos de “prato-feito”, repleta de pedaços de carne e pimenta do reino moída e em grãos, eu logo vi que teria problemas. Resolvi encarar mesmo assim, afinal, a fome era muita. Comecei separando os grãos de pimenta do reino do que era comestível para mim, ou seja, só o arroz, sem conseguir me livrar da pimenta do reino moída.

O que eu também não sabia é que existem diversos tipos de paella e para cada um deles, várias formas de preparo. Foram só duas garfadas e já comecei a passar mal, ali mesmo no restaurante. Meu estômago ficou inchado, suava frio, a pressão caiu, enfim, cheguei a ter certeza de que iria morrer na terra de Abraão.

No dia da chegada da Seleção em Tel Aviv, eu estava péssimo, e teria que cobrir o desembarque dos jogadores. Tinha dificuldade até para respirar e não sabia o que fazer em um país de cultura diferente e tão distante de casa. Falei para o colega Arthur Mário Medeiros Ramalho: “Acho que não vou sobreviver”. Ele riu do meu desespero e sugeriu: “Tome coca cola”. E eu reagi: “Você tá maluco. Não bebo isso”.

No entanto, ele não se limitou apenas a fazer a sugestão e foi comprar a coca-cola. Avaliei que seria desfeita se não aceitasse e acabei burlando a minha regra anti-refrigerante, por uma tentativa que poderia ser válida. Tomei, e a melhora foi imediata, tanto que, à noite, quando a Seleção Brasileira desembarcou em Tel Aviv, fui ao aeroporto e fiz o meu trabalho normalmente como se nada tivesse acontecido.

Na quarta-feira, dia 17 de maio, no Estádio Ramat Gan, o Brasil venceu por 2 a 1, gols de Túlio e Rivaldo. O técnico era Mário Jorge Lobo Zagallo e o time brasileiro iniciou a partida com Zetti; Cafu, Aldair, Cleber e Roberto Carlos; Doriva, Dunga, Juninho Paulista e Rivaldo; Ronaldo e Túlio. Desde então passei a tomar coca-cola só para fins medicinais.

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